Aproxima-se um Inverno duro. Bem, falo do frio que parece ter começado a sério. Gela-me as faces o vento que vem do mar, e o sol
hesitante não basta para aquecer o corpo. Ainda por cima apanhei gripe...
E pergunto: e a alma, neste Inverno? Quantos pensarão que o dia de amanhã será tão
gelado como a brisa do mar que parece vergastar-nos o rosto.
Sei que estou num "lado" beneficiado porque tenho casa, tenho uma reforma e a minha vida está
vivida e por que não? Segura.
Porque nasci do lado do sol? Lembram-se da canção The sunny side of the road? Cantava-a Billie Holiday. Ela que conheceu sobretudo o lado sem sol! É só uma canção, claro...
Há quem tenha nascido no lado sombrio do passeio em frente. Há os que têm vidas selvagens, na lâmina da navalha e lembro Lou Reed e a canção "Walk in the wild side"...
http://youtu.be/Go6UnMhXE6Q
http://youtu.be/Go6UnMhXE6Q
Mas há também quem tenha passado de uma situação de um passeio para o outro, abruptamente, sem dar tempo a equilibrar o insustentável.
Uns começam a não comprar os remédios, ou a “reduzir” a dose. Outros reduzem a carne – o peixe nem pensar!- ou cortam na fruta e nas
verduras.
(Mas afinal não nos diziam a toda a hora que a comida tem de ser variada e saudável?!)
E os que já não tomam o seu cafèzinho no café do canto,
evitam entrar, rodeiam a loja onde dantes compravam um bolinho.
E os que para terem (ainda!) uma alegria compram o pacotinho de
café, a “promoção” especial, o pacote-mini
(só 125 gr.) que vemos aparecer à venda, de todas as marcas: um engano! As embalagens e as doses-mini chegaram ao mercado.
Há poucos meses um dos gigantes da agro-alimentar holandesa declarou que “ visto que a pobreza vai regressar à
Europa, vão ter de adaptar a sua estratégia!”
E as "promoções" invadem as grandes superfícies, nas tais mini-doses...
De repente, chega o desequilíbrio nas nossas vidas. A dificuldade de viver o dia a dia com o que se tem. Como se o temporal desabasse e nos deixasse cheios de frio.
E as "promoções" invadem as grandes superfícies, nas tais mini-doses...
De repente, chega o desequilíbrio nas nossas vidas. A dificuldade de viver o dia a dia com o que se tem. Como se o temporal desabasse e nos deixasse cheios de frio.
fotografia do "Público"
Não conseguimos perceber bem o que é perder o trabalho. (E tem acontecido a tantos!) A seguir, a casa. Ter de viver num quartinho, ou numa parte de casa?
E se– de repente- até esse refúgio não podes pagar?
Como podemos perceber - nós que dormimos sempre na nossa
caminha?, sim, nós, como podemos imaginar o que é perder esse cantinho?
O que será dormir, numa casa em construção, onde te deitas no teu cobertor, bem dobradinho, em cima de tábuas?
Acontece, no entanto!
Vi isso há dias na Arte. Um jovem à procura do emprego. Ele,
que de repente tudo perdera, perdido nas ruas de Toulouse. E a entrar todas as noites nessa "obra" de um prédio em construção, húmido e gelado, para não dormir na rua.
O que sentirias, se te dissessem que "para ti" não há trabalho, tens “uma certa idade” e deves dar lugar aos jovens? E saberes que
tudo é uma hipocrisia, porque conheces jovens que não têm trabalho como tu, a quem dizem que “não têm experiência”...
Quantas vezes, tu jovem, no primeiro trabalho – transitório-
és afastado, e vês-te na urgência de procurar outra coisa, a seguir mais
outra coisa, e por aí fora...
Repartições, centros de emprego onde calcorreias
quilómetros, inutilmente, porque nada há “para o teu caso” ou "para a tua idade", ou "sem experiência"...
Resta-te esperar e desesperar até que te decides a pensar que
a tua vida afinal não é aqui, no sítio onde nasceste, ao pé dos que te
habituaste a frequentar e a amar? Na tua terra.
Sinceramente, eu não consigo imaginar como tudo isto é possível! Como se pôde chegar à vergonha e à insensibilidade e à selvajaria de hoje.
Não tenho respostas. Limito-me a ter vergonha de me sentir no
lado em que brilha o sol...
Há dias li um artigo que me deixou um bocado deprimida, porque até agora eu ainda tinha alguma esperança que o país recuperasse. Vivia um bocado nessa ilusão. Mas o artigo que li, falava tal como a Maria João fala aqui, das famílias que já perderam tudo, das que continuam a perder e das que perderão. E uma coisa aflitiva, angustiante e que nos revolta profundamente é que dizia que muitas dessas famílias, que tinham uma vida mais ou menos confortável e que hoje estão na pobreza, não vão conseguir sair de lá nunca mais. Isto é aflitivo, doloroso. Mas é a verdade.
ResponderEliminarComo foi possível chegar a isto? Ganância, estupidez, ignorância...daqueles que tinham e têm obrigação de zelar pelo bem do país e dos cidadãos? Como foi possível?
O seu post é tão realista.
Um beijinho e boas melhoras dessa gripe aborrecida!
Nunca se viveu uma crise tão complicada desde que chegou a Democracia, nem em Portugal nem em Espanha, estamos quase todos perplexos, menos os que a provocaram e os que se beneficiaram, suponho.
ResponderEliminarNão me lembro quem disse que por muito mal que as coisas estejam sempre podem estar pior. A ver se conseguimos ir saindo desta, que é o que é preciso.
Beijos
Apesar de não termos culpa dessas situações, sentimos culpa…
ResponderEliminarSou por natureza uma pessoa optimista, mas não posso deixar de estar muito preocupada e apreensiva! O futuro preocupa-me bastante.
Como podem os nossos governantes ser tão indiferentes, tão egoístas, tão desumanos?!?
É realmente revoltante!!
Um beijinho.