Aconteceu
uma coisa bonita, na minha varanda. Gosto de olhar para fora, através dos
cortinados, com a porta-vidraça meio aberta. É bom sentir a realidade suavizada
pela transparência e pelo movimento do pano que o vento da Primavera agita.
De manhã, há dias, dei por uma certa agitação que não era costume have por ali. Uma pomba ia e vinha, ia e vinha.
Atenta, olhava bem os vasos, subia para uns, descia e passava por detrás de outros- e voltava a descer para o ladrilho branco. Arrancou umas folhas secas e finas da palmeira e lá andava de um lado para o outro, com uma coisita no bico enquanto se passeava. Folhas, fitinhas. Aproximei-me e afastei de leve os cortinados.
Atenta, olhava bem os vasos, subia para uns, descia e passava por detrás de outros- e voltava a descer para o ladrilho branco. Arrancou umas folhas secas e finas da palmeira e lá andava de um lado para o outro, com uma coisita no bico enquanto se passeava. Folhas, fitinhas. Aproximei-me e afastei de leve os cortinados.
Nunca pensei
que estivesse a acontecer o que via. Ou nunca pensei ver o que estava a
acontecer? Ia instalar-se na minha varanda?
De
facto, a pomba sentara-se no vaso que estava escondido detrás do vaso grande do aloendro que este Inverno secou.
Por baixo dela, saíam as tais folhas secas com que a vira passear-se de um lado para o outro.
Por baixo dela, saíam as tais folhas secas com que a vira passear-se de um lado para o outro.
Disse
para mim: “Queres ver que vai pôr um ovo ali mesmo?” Espreitei-a e via-a concentrada,
imóvel, cinzenta e negra e com o pescoço verde esmeralda. Parecia ter uma peninha branca em cima do bico. Apenas o seu olhinho
vermelho não parava de se mover.
Via-me?
Estava assustada? Ou apenas vigilante? Esteve assim umas horas. Eu, entretanto, fui ler e esqueci-me dela. A tarde desceu, a luz do céu tornou-se de um
azul transparente muito vivo. Quando voltei a olhar pela vidraça, ela tinha deixado o seu
poiso. “Foi-se embora…” e quase tive pena.
A
varanda está cheia de lindas flores que desabrocharam nestes últimos dias de mais calor. Os bolbos da
Gui finalmente deram flores. E são variadíssimas, todas com um
colorido entre o rosa fucsia e o roxo e o azul. Anémonas, goivos e sei lá que mais.
Passei por cima do basílico e cheguei-me ao parapeito, perto do lugar onde vira a pomba instalar-se. Onde teria ido? Por que se tinha ido embora?
E, de repente, vi-o! Sim, lá estava o ovo! Branquinho, perfeito, sobre as palhinhas cor de oiro, compridas, no meio da terra negra do meu vaso de ibiscos, parecia brilhar na luz azulado do fim do dia.
E, de repente, vi-o! Sim, lá estava o ovo! Branquinho, perfeito, sobre as palhinhas cor de oiro, compridas, no meio da terra negra do meu vaso de ibiscos, parecia brilhar na luz azulado do fim do dia.
"Maravilha da natureza na sua beleza e perfeição", pensei. "Um pássaro poisa na tua varanda, pede-te licença, olhando-te, para ficar e escolhe a tua casa para ser sua por uns tempos."
Passou um dia, dois dias e a pomba passa o tempo entre o chocar do ovo e o afastar-se e subir até ao alto do prédio em frente enquanto eu vou regar as plantas, pôr água no seu pratinho e um pouco de cevadinha e sementes de girassol noutro.
Outras vezes é ela que decide sair do ninho e ir vigiar o local. Passam muitas gaivotas perto da minha casa e nem sempre as pombas vivem em paz com as gaivotas.
Outras vezes é ela que decide sair do ninho e ir vigiar o local. Passam muitas gaivotas perto da minha casa e nem sempre as pombas vivem em paz com as gaivotas.
Quando fecho o vidro, ela desce num voo picado e elegante até ao seu sítio, o vaso de ibiscos.
A verdade é que me afeiçoei à minha nova amiga! Eu que tanto medo tive sempre dos "perigos" e doenças que trazem as pombas, esqueci tudo!
Sei que, depressa, quando os pombinhos nascerem, eles voarão com ela, um dia.
Sei que, depressa, quando os pombinhos nascerem, eles voarão com ela, um dia.
Na bela imperfeição
ResponderEliminarque estimula o voo
Bj
Que bonito!
ResponderEliminarE a pomba pode sair do ninho? Pensava que quando chocam os ovos, as aves não podiam deixar os ovos arrefecer...
Depois conte como continua a história...será que vão nascer pombinhas? Era giro...vá contando...
Um beijinho e desejo-lhe um bom fim-de-semana, com a nova amiga por perto!
Sei o que sentes, eu vivi o mesmo com um par de melros, era um casal e trabalharam duro para construir um ninho bem alto, onde ela depositou tres ovinhos verdes. Fiquei parva de ver fazer o ninho com materiais como papel de jornal e plásticos!! As aves modernizam-se, impermeabilizam a residência. A tua pomba será mãe solteira?! Se calhar isso também já existe a nivel animal...
ResponderEliminarBeijinho
Que beleza de acontecimento tão elegantemente descrito, juntou-se a natureza com a excelência da escrita, não foi por acaso, Beijinho
ResponderEliminarQue maravilha!
ResponderEliminarUma varanda-ninho. :))
Beijinhos.
~~ Uma inesperada visita
ResponderEliminarcom uma aflição urgente que inspira solidariedade.
~~ Virão dias de ternura
na expectativa e na surpresa de 'avezinhas- bebés'
animando a sua varanda lindamente florida...
~ A Gui ama flores e tem muito jeito para mimá-las.
~~~~ Uma postagem terna que muito apreciei.~~~~
~ ~ ~ ~ ~ Beijinhos. ~ ~ ~ ~ ~
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Uma história verdadeira.
ResponderEliminarQuerida Maria João, em tempos, entrou uma pomba (ou terá sido um pardalito?) na vossa sala, agora, uma outra coloca dois ovos na vossa varanda... A vossa casa é escolhida pela natureza!
ResponderEliminarEstá cheia de vida! No mais íntimo deles, sentem que estão em casa de pessoas muito boas...
Tão terno!
Deve ser um deleite, poder acompanhar todo este processo!
Um beijinho.:))