José de Almada Negreiros, Integração (MJF)
Almada Negreiros (MJF)
Almada Negreiros (pormenor)
Visitar
o Museu da Tapeçaria de Portalegre é emocionante. Estive lá há dias. Não só o
museu em si, desenhado de forma inspirada, dentro dum palácio do século XVIII, pelo arquitecto Fernando Sequeira Mendes, como as tapeçarias, claro.
(MJF)
Há
uma "proposta" recente para promover a Tapeçaria de Portalegre a Património Imaterial da
Humanidade.
De facto, a candidatura da Manufactura de Tapeçarias de Portalegre e Património Imaterial da Humanidade da Unesco foi anunciada conjuntamente pela Câmara Municipal de Portalegre e pela Região de Turismo do Alentejo e Ribatejo.
Coisa justíssima. Pela invenção de um ponto novo, é certo, mas
igualmente pela “criação” constante de cada tapeceira, desenhadora ela própria
do cartão do pintor: nova escala, escolha das cores entre uma série de 700
matizes, é um trabalho sempre novo, um olhar que interpreta e re-cria o inefável da imagem numa “trilha”
onde é tecida a tapeçaria. Com o tecido dos sonhos, pode-se dizer.
De facto, a candidatura da Manufactura de Tapeçarias de Portalegre e Património Imaterial da Humanidade da Unesco foi anunciada conjuntamente pela Câmara Municipal de Portalegre e pela Região de Turismo do Alentejo e Ribatejo.
João Tavares, Diana Caçadora (MJF)
Guilherme Camarinha (net)
Não
existiu durante muitos séculos uma tradição de tapeçaria em Portugal. Foi o
Marquês de Pombal que procurou fundar essa tradição, depois de terramoto de
1755, mas as manufacturas não lhe sobreviveram.
A
história das Tapeçarias portuguesas inicia-se muito mais tarde. Em 1946, dois
amigos, jovens, decidem criar a tradição dos tapetes de “ponto de nó”, em
Portalegre, Guy Fino e Manuel Celestino Peixeiro chamavam-se eles, mas a
concorrência era grande e não resultou. Desistiram.
No entanto, o pai de Manuel Celestino, Manuel Peixeiro, que estudara em Roublaix, tem uma ideia diferente e revolucionária: criar, sim, a tapeçaria mural, tal como se fazia em França ou na Flandres.
A ideia genial foi aplicar a sua invenção de quando eram estudante em França, em Roublaix, de um ponto nunca experimentado antes. É um desafio mas o pequeno grupo avança e conquista terreno.
Junta-se-lhes João Tavares, pintor de belas aguarelas (duas no Museu), que faz o primeiro cartão de tapeçaria, em 1947.
O cartão intitulava-se "Diana, a caçadora" e a tapeçaria é acabada em 1948: desenho cheio de cor e de poesia (o cartão está representado ao lado da tapeçaria), com elementos da natureza 'próximos' da região do Alentejo, como a azinheira e as bolotas e os pássaros que não identifico mas que reconheço.
No entanto, o pai de Manuel Celestino, Manuel Peixeiro, que estudara em Roublaix, tem uma ideia diferente e revolucionária: criar, sim, a tapeçaria mural, tal como se fazia em França ou na Flandres.
A ideia genial foi aplicar a sua invenção de quando eram estudante em França, em Roublaix, de um ponto nunca experimentado antes. É um desafio mas o pequeno grupo avança e conquista terreno.
Junta-se-lhes João Tavares, pintor de belas aguarelas (duas no Museu), que faz o primeiro cartão de tapeçaria, em 1947.
João Tavares, Quinta dos Fratéis (MJF)
João Tavares, Portalegre (MJF)
João Tavares, Diana (MJF)
Assim, a Manufactura faz com que o pintor – aguarelista- se transforme em cartonista. E explicava: "a disciplina requerida para a feitura de cartões é antagónica à liberdade da aguarela."
João Tavares, Galos (net)
Outros
se vão juntar, como Almada Negreiros, Vieira da Silva, Guilherme Camarinha, Lima de Freitas, Júlio Pomar, Graça Morais, Renato
Torres, Le Corbusier.
Almada, "bailarina" (net)
Le Corbusier (net)
Vieira da Silva, 1980, "Bibliothèque" (net)
Curioso
é o modo como a tapeçaria de Portalegre ganha
fama. Acontece que é pela França que o sucesso entra. Em 1952, realiza-se uma
exposição em Lisboa sobre a "Tapeçaria Francesa da Idade Média ao presente”.
Guy Fino apresenta duas tapeçarias, em confronto com as francesas. Guilherme Camarinha fizera os cartões. Os técnicos franceses ficam admirados com a perfeição e técnica do nosso ponto.
Guy Fino apresenta duas tapeçarias, em confronto com as francesas. Guilherme Camarinha fizera os cartões. Os técnicos franceses ficam admirados com a perfeição e técnica do nosso ponto.
Guilherme Camarinha, OsTrabalhos (MJF)
Guilherme Camarinha - pormenor (MJF)
Têm, ainda, que chamar a atenção de Jean Lurçat -que fora renovador da
tapeçaria francesa moderna- para a tapeçaria de Portalegre. Contactado em 1952, em 1958
aceita visitar a Manufactura.
“Na altura, Guy Fino confronta-o com duas tapeçarias:
uma tecida em França e que Lurçat oferecera à mulher de Fino; outra, igual a
essa, tecida em Portalegre. Convidado a identificar a francesa, Lurçat escolhe
a de Portalegre.”
Deixo as fotografias que tirei : o da esquerda é francês, o da direita é da Manufactura portalegrense.
Le coq guerrier, de Lurçat (MJF)
Uma coisa muito importante é a sua apreciação das tecedeiras de Portalegre:
considera-as as melhores tecedeiras do mundo!
Não é de esquecer, igualmente, o trabalho fiel e precido das desenhadoras.
Até à sua morte, Jean Lurçat vai mandar tecer, em Portalegre, grande número das suas tapeçarias.
Não é de esquecer, igualmente, o trabalho fiel e precido das desenhadoras.
Até à sua morte, Jean Lurçat vai mandar tecer, em Portalegre, grande número das suas tapeçarias.
as tecedeiras num painel de fotografias
Diz
o folheto que trouxe do Museu e que explica a técnica da tapeçaria:
“A tapeçaria de Portalegre parte sempre de um original de um pintor. É a
transposição para outro suporte e a uma outra escala da obra criada pelo
pintor. É, no entanto, muito mais do que uma simples reprodução. A tapeçaria de
Portalegre é uma obra de arte em si, original, única pelas suas qualidades intrínsecas e
pela técnica usada para traduzir o modelo original. É ampliado para a dimensão
final sobre um papel quadriculado próprio, em que cada quadrícula representa um
ponto (desenho de tecelagem).
A desenhadora tem em seguida que corrigir o desenho, tendo em atenção os contornos, as formas, as tonalidades das cores e todos os pequenos detalhes que a tecedeira tem de ler e traduzir em tecelagem.”
A desenhadora tem em seguida que corrigir o desenho, tendo em atenção os contornos, as formas, as tonalidades das cores e todos os pequenos detalhes que a tecedeira tem de ler e traduzir em tecelagem.”
de Jean Lurçat, Hauts Tropiques -détails (MJF)
E continua a explicação:
lãs (em carrinhos) de diversos tons (MJF)
“As
cores escolhidas são indicadas nos desenhos de tecelagem através do número de
referência., sendo as diversas zonas de cor, coloridas com aguadas indicativas,
de modo a auxiliar as tecedeiras na identificação da trama a usar. (…)"
lã azul, imaterial, da cor dos sonhos... (MJF)
Vieira da Silva, Bataille de couteaux
Almada Negreiros (MJF)
Almada Negreiros (cortesia de Tribuna do Alentejo)
Mais
de 200 artistas nacionais e estrangeiros têm os seus desenhos fixados em tapeçaria na Manufactura de Portalegre.
Malangatana (MJF)
João Tavares, pormenor de talheres alentejanos (MJF)
Eduardo Nery (MJF)
Quis dar-vos uma ideia do que são estas tapeçarias com uma técnica que não deve a nenhum país, inventada e desenvolvida na cidade de Portalegre. Hoje o museu chama-se, em homenagem ao impulsionador da Tapeçaria de Portalgre, "Museu da Tapeçaria de Portalegre-Guy Fino".
O Museu da Tapeçaria está instalado no antigo Palácio dos Castelo Branco, no centro histórico da cidade, perto da Sé.
Júlio Pomar (MJF)
antigo Palácio dos Castelo Branco
É um edifício
barroco do século XVIII - que foi inaugurado, como Museu da Tapeçaria, em 2001. Depois de restaurado – e muito
bem- pelo arquitecto Fernando Sequeira Mendes.
O Museu dedica-se à conservação e ao estudo
das Tapeçarias de Portalegre.
Deixo esta apreciação feita com a ajuda de tantos elementos que não são meus para "apoiar" veementemente o propósito de levar a Tapeçaria de Portalegre a ser Património Imaterial da Humanidade!
Que post fantástico e elucidativo, que me fez maior a vontade de ir a Portalegre. Entre outras coisas, este é um museu que gostava de visitar, assim como a casa-museu de José Régio.
ResponderEliminarQualquer dia há-de ser.
Já tive oportunidade de ver várias tapeçarias de Portalegre em exposições aqui em Castelo Branco (tenho fotos no blogue) e são todas, maravilhosas obras de arte!
Portugal tem tantas maravilhas!
Um beijinho grande:)
Que maravilha. Adoro as tapeçarias. Quando estive em Marvão ainda não havia museu.
ResponderEliminarMerece bem ser Património.
Gostei muito desta viagem pelas tapeçarias. Já vi algumas em Portalegre, outras em Lisboa, em galerias.
Beijinho. :))
O mundo das tapeçarias através da História é apaixonante, não sabia que na tua terra havia uma colecção tão valiosa, gostei muito! Beijinho
ResponderEliminarMaria João, o Museu das Tapeçarias, foi das poucas coisas que não visitei quando lá estive. E não foi por falta de vontade, mas na segunda-feira que destinei para lá ir, esqueci-me que às segundas os museus estão encerrados. Depois acabei por adiar para a sexta-feira seguinte, e era o feriado da cidade... Que pontaria e que azar!
ResponderEliminarRegressei sem visitar o Museu!
Depois de ver estas imagens todas que aqui colocou, ainda fiquei com mais pena!
Um beijinho.:))
~~~
ResponderEliminar~~ B e l í s s i m a s !
~~ Abraço amigo. ~~
vou visitar este Museu com certeza!.. obrigado
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