sábado, 19 de maio de 2012

O James Bond em Cascais? Não, afinal não era...



Pois esta manhã estava eu a chegar à Praia dos Pescadores em Cascais quando vi grande reboliço. 

De início não percebi o que era e fui até à ponta ver os barcos, alguns parados em cima do pontão, à espera sabe-se lá de quê.

Outros no mar, sem ninguém. Barcos grandes, barcos pequenos, gaiolas enferrujadas para trazer os peixes, o marisco. Caixotes em que a madeira apodreceu. Cheiro intenso a mar.

Há anos que conheço um desses barcos e revê-lo faz-me sempre apertar o coração. Barco azul, elegante, com uma estrelinha branca e um enfeite estranho, na proa: uma cabeça!

Nunca soube de quem era, nem por que razão aquela cabeça de boneca despenteda, quase de vudu, feiticeira queimada pelo sol e pela maresia, ainda ali anda. 

Gaivotas, mar, gaivotas, barcos. A marinha ao longe.  Distância, mar...
Azul, tanto azul!


Sempre pensei que era um “amuleto”, um “porta-fortuna” que alguma criança deu ao pai.
Desejei que o boneco tivesse tido sorte, que a menina hoje crescida tivesse visto o regresso do pai todos os dias que partira para a pesca.

Bem, mas já estou a divagar quando afinal lhes queria contar uma história, neste sábado que ora mostra um pouco de sol, ora chuva em quantidade.


Da pureza das águas, junto às rochas, vejo de repente aparecer silhuetas de mergulhadores, barbatanas que chapinham no ar, cabeças que surgem e logo mergulham, com tubos por todo o lado.

"É o James Bond!", pensei, claro. Quase esperei ver Sean Connery chegar e dizer, fleumagticamente, com a pistola na mão direita: "My name is James Bond"...

Mas não era o James Bond, o Sean Connery, nem nenhum outro... Nem jovens pintadas de ouro e mortas.

Dois ou três, aproximaram-se, sentaram-se nas escadas do molhe, gritaram para a praias, e mergulharam de novo.

No areal, lá ao fundo, vi que havia grande agitação, uma ambulância, máquinas a trabalhar.
O que estariam ali a fazer? Acidente? Manobras?


Quando cheguei mais perto, vi um cartaz e fiquei mais bem disposta. Era, no fim e ao cabo, a Jornada da Limpeza dos Oceanos, "Clean Up the Atlantic"!


O lixo acumulava-se na areia: pneus, latas, rodas de bicicleta, plásticos...

Que pena o homem ser tão inimigo de si próprio! Que selvajaria contra a natureza e o nosso próprio habitat...


Mas há almas boas que perdem o seu dia de repouso para virem limpar as praias. 


Vale a pena ser optimista, afinal! A tal ideia da Utopia existe para tanta gente, que nem disso tem consciência.


Lembro dois títulos de Elie Wiesel: "Todos os rios vão dar ao mar" e "O mar nunca está cheio..."


Somos mais do que julgamos, a pensar no Bem, na Beleza,na Justiça!

Estes pequenos lutadores, "james bond" caseiros, e amigos do mar, vieram pôr-se, não ao serviço de Sua Majestade Britânica, mas do Príncipe Ambiente...



E do Mar, o grande Mar!





7 comentários:

  1. E bem precisamos de gente assim, sonhadora, capaz de grandes pequenos feitos!
    Bons passeios!
    Beijinhos e saudades

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    1. E temos muita dessa gente! Como tu... cada um no seu campo, não é?
      beijinhos e aparece!

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  2. Qu bom que há gente assim, capaz de dar o que tem de boa vontade.
    É uma coisa que me custa a perceber e aceitar, é que pessoas civilizadas, que todos os dias ouvem apelos à protecção do meio ambiente, mas que continuam a deitar lixo no chão, nas parias, nas águas...Não consigo perceber nem aceitar. Deixar latas, papéis, lixo no areal, depois de passarem uma tarde agradável perto do mar...dá sempre vontade de perguntar: Em casa deixa o lixo no chão da sala?
    Esta é a nossa Sala. A Sala de todos.
    Dá-me nervos!

    Não gosto de ver a cabeça da boneca no barco.Parece algo deprimente, uma cabeça sem corpo, mesmo que seja de boneca, não é algo agradável de se ver. Não gosto.

    Obrigada por mais este post, pelo seu olhar atento e observador. Obrigada mais uma vez por trazer o mar até aqui.
    Beijinhos

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    1. Tens toda a razão:a boneca é aflitiva, por isso falo de "vudu", "macumba" - quase mete medo, faz arrepios.
      Mas pode ter sido em tempos uma bela boneca, nova, amada... Sabe-se lá, não é?
      Vejo-a naquele barco há anos, foi envelhecendo.

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    2. É capaz de ser mesmo uma espécie de amuleto de protecção, mas podia estar mais escondida.

      Bom dia, tenha um lindo domingo. Por aqui amanheceu chuvoso, mas agora está um pouco melhor.
      Vou dar uma espreitadela à feira das velharias e antiguidades,que é hoje.
      Mas com o dia assim se calhar há pouca coisa.
      Um beijinho

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  3. Não será também porque, para a semana chega a Cascais a "Volvo Ocean Race", uma regata à volta do mundo e que vai fazer escala aí em Cascais?

    Deve ser por isso que retiraram os barcos... para haver espaço para aqueles enormes "Fórmula Um" do mar!

    Para os termos cá, para o ano, tudo precisa de estar impecável! E espero que esteja! Assim sempre se junta o útil ao agradável!

    Abraços

    Raul

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  4. Pois se calhar é a F1... Ó Raul, eu preferia que fosse o James Bond!

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