domingo, 30 de setembro de 2012

VOLTANDO ATRÁS NO TEMPO, REVENDO, RELENDO SHERLOCK HOLMES



dedicado à Gui...


Há autores aos quais se volta eternamente, que nos rejuvenescem, que nos animam relembrando o que sentimos quando os lemos, noutro momento, noutra vida quase.

 O sorriso vem-nos aos lábios, quando o as histórias parecem demasiado ingénuas, ou as aventuras exageradas, ou os medos que nos traziam antes, agora suportáveis.

Os suspiros, as mãos apertadas, os olhos fixos nas páginas, sem respirar, e o alívio quando a situação se resolvia, quando o criminosos era apanhado... Era o que sentia nesses tempos da leitura de Sherlock Holmes. 


E o Dr. John Watson, que saudades!

Abençoada a hora em que Sir Arthur Conan Doyle resolveu, num dia do ano de 1887, publicar no "Beeton’s Christmas Annual” o seu A Study in Scarlet. Com esse mistério, surgem os dois heróis. 
Em 1890, sai The Sign of Four.

Publicado e re-publicado, filmado e re-filmado a personagem de Sherlock Holmes tornou-se na “mais amada figura de ficção literária”, no Reino Unido.

O Museu Sherlock Holmes

Os dois inesquecíveis - pois, atrás de Sherlock, vem logo o seu amigo e “biógrafo” Watson, o inseparável Dr. Watson...

O inefável amigo pronto a ajudar, a perceber, a ouvir, a aconselhar quem não quer ser aconselhado é Watson.
Sherlock, o indomável, o inteligente, que tudo observa até ao mínimo pormenor, é o transgressor de tudo menos da honestidade e da justiça.

O maléfico Professor Moriarty, por Sidney Paget

O Professor  Moriarty é o inimigo fatal, que parece morrer sempre e renasce a cada história. Só Sherlock "sabe" que ele não morre...
É ele que, em dado momento, consegue “matar” Sherlock Holmes, empurrando-o para uma catarata sem fundo, a célebre catarata de Reichenbach, no livro “O problema final” (1891).
luta nas Cataratas de Reischenbach (desenho de Sidney Piaget)



Durante anos Watson sofreu, esperou, desesperou.

Mas um dia...como nas histórias para crianças – que todos somos e nunca deixamos de ser- aparece-lhe um mendigo muito velho, muito sujo (Sherlock era mestre na arte dos disfarces) e as aventuras recomeçam mais tenebrosas e assustadoras do que nunca!
a surpresa de Watson...
Sherlock volta a investigar...

É o conto A Aventura da Casa Vazia...

Um dia fui a Londres e –inevitavelmente- Sherlock was in my mind! Assim que cheguei, “planeei” a visita ao “mítico” endereço : 221B, Baker Street.


Conan Doyle teve o dom de nos recriar um universo especial em que – se quisermos, se tivermos fantasia para isso- mergulhamos sempre do mesmo modo: de olhos surpreendidos, cheios de curiosidade...

Lá está a “casa” de Sherlock Holmes, como a imaginámos – perfeita! Só que nunca foi ali o nº 221 B, a rua mudou toda, e só resta “do tempo” irreal da invenção do autor, aquela casa “recriada” para nós. Já no metropolitano me impressionara a "estação" Baker Street...





até fiquei de olhos fechados!...

Museu que “serve” ( e bem!) para trazer de volta o mistério...
O Dr. Watson de serviço, à espera dos "fãs"...


"casos" resolvidos por Sherlock Holmes

Vi tudo, fotografei (claro!) com o telemóvel, absorvi a “atmosfera”, imaginei-o à janela, a adivinhar a chegada de alguém, a fumar o seu cachimbo, a pensar na droga que, inevitavelmente, iria usar. 
Jeremy Brett, o "melhor" actor Sherlock Holmes

a janela de Sherlock Holmes

o quarto de Sherlock Holmes


Porque, quando não tinha um caso para resolver, quando se aborrecia, Holmes drogava-se. 

E o Dr. Watson, médico e amigo, sofria pavores!
miss que Sherlock não "via"...

Enfim, estes são os momentos em que me reconcilio com a vida e com a passagem do tempo.
Quero agradecer a estes amigos fiéis! Que me trouxeram à memória a "fantasia"!
carrocel em Brighton
um jovem fã de Sherlock Holmes com "souvenirs" do Museu


Estamos na Semana do Amigo, não se esqueçam...
Estes (os livros, as histórias, os autores) foram dos maiores amigos que tive na minha vida!

Já agora, deixo um pouco sobre Arthur Conan Doyle para quem não saiba... mas haverá alguém que não saiba?

Sir Arthur Conan Doyle, em baixo pintado por Sidney Piaget

Nascido em Edimburgo (Escócia), de uma abastada família irlandesa, em 1859, morre em 1930, com um ataque de coração, em Crowborough.

Estudou medicina e licenciou-se na Universidade de Edimburgo em 1881, decidindo estabelecer-se em Londres. 
Várias ciências o interessam, o ocultismo é uma delas.

Depois do sucesso dos dois primeiros livros, decide abandonar a medicina para escrever a tempo inteiro.
Sherlock Holmes, "visto" pelo pintor Sidney Piaget, que ilustrou as suas histórias


souvenir comprado no Museu Sherlock Holmes

Escrevia sobre muitos assuntos e um dia “cansa-se” de Sherlock (talvez Sherlock Holmes lhe “fizesse sombra...”), quer dedicar-se a escritos mais sérios e decide matá-lo -no romance His Last Bow.

Perante a reacção do público, as inúmeras cartas e protestos que recebeu ele e a Editora, os pedidos, a incompreensão, a indignação... teve de o trazer de novo à vida.
De facto “ressuscitou-o” no livro: The Hound of the Baskervilles (O Cão dos Baskervilles) que já estava escrito (1901-1902) e tinha saído numa revista.

ilustração de Sidney Piaget 



Mas percebeu cedo que teria de o fazer voltar à vida a sério e assim publica no Strand Magazine (1904-1905) as novas histórias de Holmes, reunidas sob o título: The  Return of Sherlock Holmes.

Sherlock “volta” de facto na história The Adventure of the Empty House, disfarçado de mendigo...

Watson “escreve-as” nesse ano quando Sherlock, já aposentado, lhe dá licença de as escrever.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Pink Floyd - The Dark Side of the Moon (1973) [Full Album] (HD 1080p)

Boa noite...

Pink Floyd - "Wish You Were Here"... (Full Album)

Chagall e o saltimbanco no céu...

Os Imortais: Pink Floyd, The Angels! - "Shine On You Crazy Diamond"

Morreu Andy Williams... Deixo a bela e triste canção " Solitaire "(1976)

L. S.Lowry

EMILY DICKINSON E AS "POESIAS"


EMILY DICKINSON E A SUAS POESIAS

“O presságio é aquela longa sombra
No prado
Anunciadora de crepúsculos,
Avisando a erva aturdida
Que a Noite vai descer.”

Emily Dickinson nasce em Amherst, no Massassuchets em 10 de Dezembro de  1830. Morre em 15 de Maio de 1886, na sua casa de Amherst, de onde pouco saía.

Nunca conseguiu “curar-se” da infância, a ideia de a abandonar, de sair dela, assustava-a. Não a suportava.
Amerset, a casa

Em 1853, escreve ao irmão, Austin: “queria que fossemos ainda crianças. Queria que fossemos sempre crianças, eu não sei tornar-me adulta.”

Austin Dickinson

Queixa-se de solidão: “Cada dia me sinto mais velha”; ou: “ultimamente tenho-me sentido muito só”.
Apesar disso, fecha-se em casa. Só esse ambiente, com os pais, se sente segura.

Em 1852, escrevera a Jane Humphrey : “Não sei por que razão deveria  separar-me dos meus entes queridos. Tenho medo de ser egoísta fechada na minha querida casa, mas a ideia de os deixar é impossível.”
Susan Dickinson, a irmã mais velha

Assim recusara um seu convite, assim vai recusar todos os convites dos amigos.

Emily tem 23 anos nessa altura. O sentimento de solidão e de insegurança mistura-se com  medo de abandono, e o medo da morte dos outros. 

À volta dela, a morte  faz razia, a “democrática Morte”, que todos aceita, como ela assinala. 

Imortalidade? Sobrenatural? Demasiado presentes. 

Quando o pequenino Gilbert, filho do irmão Austin, morre, ele o seu preferido, Emily não consegue consolar-se. À mãe do menino, Sue, que em tempos fora uma das maiores amigas, escreve:

O desespero com o seu véu de lágrimas não deve durar... Depois de muito tempo virá substituí-lo a intimidade com o mistério. Movendo-se no escuro, como naves carregadas, de noite, sem rota segura, está a imensidade.”
"Poems", 1ª edição

O sobrenatural é o natural revelado”, escreverá um dia.

E mais:

“Não é a revelação que se faz esperar/são os nosso olhos que não estão preparados”.

No entanto sabe que “a vida é riquíssima”, como escreverá com 53 anos, cheia de esperança: 
Faz-me pensar naquele verso do Apocalipse: Cada uma das muitas portas era de pérola”.
Mas sabe que a separação é inevitável. 

Escreve assim, na mesma carta, cartas que são versos e que, como poemas, ela solta pelas folhas:

Irmãzinha, faz-me falta a tua voz infantil/ falta-me o teu heroísmo/parece-me ter perdido um soldado ou um pássaro. (...) Boa noite. A separação é uma das coisas que nos são impostas pela vida mortal. É esquálida, como a morte,  mas acontece.”



Trata-se de uma “incipiente frustração, concomitante à ideia de não saber integrar-se no mundo”, refere a tradutora italiana e prefaciadora do livro Poesie, Margherita Guidacci.

(É, de facto, numa edição bilingue italiano-inglesa, “Poesie”, da Rizzoli, que “descubro” a poetiza.)

Versos de enorme tristeza, mas em que a vida, a natureza e tudo, à volta dela, brilha.
Pelos seus versos correm momentos de beleza, efémeros, e sentem-se os pássaros coloridos que cantam, e o céu azul na distância...

E, simultaneamente, a saudade dos que se foram para sempre e a ideia da morte que ronda, sempre, próxima.

“Não consigo pensar que os amigos que vi, na minha juventude,  esvaírem-se, como orvalho ao sol, nunca mais vão andar por estas estradas”. Porque, de facto, nunca mais voltarão, porque a Morte os levou.

Caíram como neve
Caíram como estrelas
Ou pétalas de rosa
Quando subitamente em Junho
 o vento lhes toca.” 
(“They dropped like flakes”)

“A minha única imagem do Paraíso é um grande céu azul mais azul e mais vasto do que o maior céu azul de Junho; e nele estão todos os meus amigos (...)".

Viveu no fio da navalha, continua Margherita Guidacci, entre o precipício da loucura e a salvação”.

Este mundo é breve de verdade e desejo, tremente, tocar os que amo antes que os montes fiquem vermelhos –cinzentos- brancos- e renasçam de novo.”  (1859, carta a uma amiga)

Porque de morte se trata, e as pessoas que ama vão morrendo à sua volta. O que é absurdo e doloroso. E a esperança difícil mas eterna.

“Hope is the thing with feathers
That perches on the soul,
And sings the tune without words,
And never stops at all.”


(“A esperança é uma  coisa com penas
Que cresce na alma,
E canta uma música sem palavras,
E nunca pára...”)



"Hope", de Carl Friederich Watts

Prometo voltar depressa, para contar mais coisas de Emily Dickinson!