sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O escritor Leo Malet, Paris e o seu detective Nestor Burma...



Os escritores Boileau-Narcejac, dupla "especialista" de romances policiais,  dizem dele:

“É, à sua maneira, um poeta da cidade; menos áspero, mais sensível, bastante mais divertido, é o D. Hammett francês”. 

Leo (Léo) Malet nasceu em 7 de Março de 1909, em Montpellier,  e morreu em Châtillon a 3 de Março de 1996.

Escritor de romances policiais e surrealista, simultaneamente, muito ligado à boémia de La Butte, a uma certa ideia próxima dos grupos “libertários”.

Estudou durante poucos anos  e, em 1925, aos 16 anos começou a cantar num cabaret de Montmartre, chamado La Vache Enragée.


La Butte de Montmartre


Nos anos 30, liga-se ao grupo  surrealista e foi amigo de André Breton, do pintor René Magritte e de Yves Tanguy. Publicou vários livros de poesia nesses anos.

Leio, pois,  o “manual” indispensável de Boileau-Narcejac - dois autores que escrevem a quatro mãos, como os italianos Fruttero e Lucentini,  as suas histórias policiais. 

Incluindo-o no sub-capítulo “Os marginais”, escrevem,  a páginas 108:

“Leo Malet  (“ce paysan de Paris") é um homem que vadiou, teve altos e baixos na vida, comeu o pão que o Diabo amassou, conheceu personagens pitorescas, acabando por ter uma filosofia desiludida, amarga e terna ao mesmo tempo." 


Nestor e o gato

"Chegou cedo de mais, num momento em que o romance negro americano não tinha triunfado ainda, e falhou também a entrada no mundo das letras. Depois, foi injustamente eclipsado pelos autores da Série Noire que se lhe seguiram.”(p.108)



O detective, Nestor Burma (inesquecível personagem!), é “o detective que põe o crime K.O.” como diz o seu criador. É uma personagem humana, cheia de humor, de ternura pelos outros, e de revolta, que não se leva nunca a sério...



“Burma é uma personagem divertida e inteligente, herói desiludido, ou anti-herói. Um detective privado cínico, grande conversador em “argot”, ex-anarquista convicto, inveterado fumador de cachimbo e conquistador mas “monogâmico”... (wikipedia).

Os romances de Malet foram levados à televisão, nos anos 90 (exactamente de 1991, em várias "saisons" sucessivas, até 2003), tendo como actor um “grande” Burma: Guy Marchand, que ficará para sempre “ligado” à figura de  Burma, de tal modo se identificou com a personagem...

Nestor Burma aparece também em B.D. - assinada pelo desenhador Jacques Tardi.



Este Nestor Burma das histórias de aventuras é, no fim e ao cabo, o próprio Leo Malet. Mesma vida de vadiagem aventurosa, mesmas ilusões desenganadas... 
Ele e a sua "agência", chamada  "Fiat Lux", onde nada acontece de bom, nem nenhuma luz surge. 
Mais a secretária e o gato, equilibrando sempre os fins de mês difíceis em que não falte uma malga de leite...para o gato!




“Um Gavroche crescido, transformado em “privé” (1) sem dinheiro, em apuros, espancado pelos maus da fita, errando em mistérios mais complicados que labirintos, suspeitado pela polícia oficial que detesta, batendo-se muitas vezes não pela honra – virtude burguesa- mas por uma certa dignidade do homem, da qual é o primeiro a rir, vencendo aos pontos, esgotado, amolgado, mas sempre com uma graça.”(oc. p.109)







Tendo escrito mais de 30 livros, em 1945, decide escrever um ciclo que intitulou: "Os Novos Mistérios de Paris", parafraseando Eugène de Sue (Les Mystère de Paris).

Do romance de 1943, "120, rue de la Gare, até “Poste Restante” (1983), seguem-se trinta histórias.

Cada uma passa-se num bairro (arrondissement) diferente de Paris. Há 20, em Paris...




Para terminar, deixo as afirmações de Boileau-Narcejac:

 “Obra considerável que coloca Malet perto dos escritores que melhor falaram de Paris, que conhecia como os seus dedos e que descreveu com fidelidade escrupulosa." 


"É, à sua maneira, um poeta da cidade; menos áspero, mais sensível, bastante mais divertido, é o D. Hammett francês”. (o cit. P.109)




É uma leitura que aconselho, vivamente, a quem ainda o não leu...


(1) privé, termo para designar “detective privado”

(*) in Le Roman Policier, Boileau-Narcejac, P.U.F. Collection “que sais-je?”

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