Voltando aos livros, de que nunca me afasto muito...
Desta vez venho falar de um escritor policial russo.
Encontrei uma entrevista com ele há uns meses (2 de Março de 2013) num suplemento literário do Financial
Times.
Falo de Boris Akunine, aliás, Grigory Chkhartishvili que
nasceu, em 20 de Maio de 1956, na
Geórgia post-staliniana. Nasceu, pois, em Zestafoni, filho de pai georgiano e de mãe judia, professora
de Literatura Russa. Mudam-se para Moscovo quando ele era ainda uma criança.
Zestafoni, na Geórgia
Filólogo e
tradutor, interessa-se pela
língua e pela cultura japonesa. E pelo Zen.
Aos 40 anos, decide que não lhe apetece continuar a fazer a mesma
coisa, monotonamente, a vida toda e, por isso, começa a escrever.
Procura escrever um género de histórias que –segundo o que
ele próprio conta- ele próprio e a mulher gostassem de ler... Gente como eles, culta, com uma
certa exigência e, ao mesmo tempo, com o desejo de se alhearam. Assim,
escolhe os romances policiais.
É discutível se a literatura policial – a quem alguns chamam “escapista”-
será um alheamento. Não sei.
Por que não será antes um mergulho, bem fundo, na psyche humana, sempre a precisar tanto de arranjo?
O pseudónimo escolhido revela algo de si e da sua
curiosidade pela Rússia czarista
pré-revolucionária: Boris Akunine (B. Akunine), quem não pensa logo em Bakunine (Mikhail
Bakunine), o anarquista russo? Akunine escreveu cerca de 50 livros, em 15 anos, o que é muito.
Escreve o entrevistador, John Thornhill: "O seu estilo mistura literatura russa, boa e má, e divertimento."
Levyathan
Gustave Doré, Destruição do Levyathan
O herói dos romances é Erast Fandorin, um misto dos seus heróis preferidos dentro da literatura (russa).
Este é o rosto de Erast Fandorin, numa série televisiva
“Quimicamente, responde ele
para surpresa do jornalista, misturei o Príncipe André Bolkonsky, da “Guerra e
Paz”, com o Petchorin d’ “Um herói do nosso tempo”, de Lermontov".
a morte do Príncipe Bolkonsky (aqui, o actor russoYacheslav-Tikhonov)
O escritor Mikhail Lermontov
Casa-Museu Dostoievsky, em São Petersburgo
Na entrevista não refere isto, mas outro personagem da "mistura" de Fandorin é o Príncipe Myshkin, de "O Idiota" de Dostoievsky. Portanto, escolheu os maiores!
E (surpresa
maior!) tem um pouco de Sherlock Holmes e de James Bond! E uns toques de Zen, que tirou da cultura
do Oriente que aprecia.
“Fandorin é popular porque – explica- tem tudo o que falta na
nossa mentalidade russa. Tinha de ser moderado, porque os russos são
excessivos, um homem de ordem, quando os russos preferem o cáos, e é também bastante
confuciano.”
Continua: "Começou deste modo. Mas quando nos começámos a conhecer melhor, ele
passou a ter uma vida própria. E começou a ser bastante desobediente...”
(A entrevista interessantíssima de John Thornhill que foi correspondente do jornal F.T., em Moscovo, nos anos 90 foi realizada
no restaurante russo Mari Vanna, na zona de Knightsbridge.)
Mais elementos sobre Boris Akunine:
Com o seu nome verdadeiro participou na edição de uma obra em 20 volumes de uma Antologia
da Literatura Japonesa. Escreveu “O Escritor e o Suicídio”, The New
Literary Review, Moscow, 1999.
Traduziu vários livros de Literatura Japonesa, americana e
inglesa. Foi Director-Chefe da Biblioteca Pushkin.
O primeiro romance de Fandorin intitula-se a Rainha de
Inverno e foi publicado na Rússia em 1998. A sua última novela saiu em Novembro de
2012.
as jóias da coroa...
Leio neste momento a tradução francesa (na colecção 10/18) de A Coroação do Último dos Romanoff,
publicado em 2000, na Rússia, e traduzido para inglês em 2009.