domingo, 7 de junho de 2020

Recordando sempre com saudades o grande Leonard Cohen


Leonard Cohen já não vai poder ganhar o Prémio Nobel de Poesia! E lamento,  confesso. Este poeta -troubadour- eu preferia-o a Dylan. Partiu e não voltará mais e, claro, não poderá ter o Nobel, mesmo que inventassem o Nobel da Música Poética.
O seu canto de protesto atingia-me de outra maneira. Músicas de amor e de ódio como ele intitulou um dos seus álbuns. Tão profundo o seu mergulho na dor, no amor, no ódio. 

Alguns tópicos sobre a sua vida. Leonard Cohen nasceu em 21 de Setembro de 193, em Westmount, cidade do Canadá, na província do Québec, ilha de Montreal  e morreu em 7 de Novembro de 2016.
Leonard o insatisfeito; o caminhante da vida, o viajante à procura de um sentido; o homem que espera um chamamento de algures. À espera, sempre, de um absoluto terreno. Antes do outro - incerto esse.
 Leonard Cohen 2007 (Montreal)

Era um caminhante da vida, ele, e é na vida que tudo se joga. Um caminhante das várias estradas da vida. 
Que o levou a viver num ambiente "zen", com o seu Mestre, para quem cozinhava e onde -imprescindível, dizia ele- havia uma máquina de café expresso!
Por isso, por essa procura aberta, a sua constante interrogação de um 'deus desconhecido' que interpela directamente, no modo judaico de orar, falando directamente com Deus. Porque Leonard Cohen era um judeu. E era um homem religioso à procura de uma resposta. Por quê viver, sofrer, morrer. Qual o sentido do absurdo de viver para se morrer?
Era por vezes, também, a interrogação a um deus que fosse humano, um Cristo torturado e sofredor. Ou, então, ao Deus bíblico a quem, como o Rei David, cantava os seus salmos de amor e de dúvida. Porque as suas canções que quereriam ser um diálogo não têm resposta - e as suas perguntas fazem parte do seu monólogo.
Procurou a espiritualidade do Budismo, procurando o Zen e chegou a ser monge budista. Procurou-a continuamente na poesia e na música.
 O último álbum é mais uma "conversa" com um Deus silencioso. O verso de uma das canções, "You want  it darker?" diz exactamente: "I'm ready, my Lord", como se a "luta" tivesse acabado ou o tivesse cansado.
Foi muito cedo poeta e escritor - antes de ser músico -romancista, poeta, escreve desde muito cedo.
De facto, só com 30 anos começa a compor músicas, a cantar - e entra em cena (1967). Canções como “Songs of Leonard Cohen” são logo êxitos tal como como "Suzanne", "So long Marianne", "Sisters of Mercy". 
Na Grécia, com Marianne que era norueguesa

Suzanne, Marianne, outra Suzanne depois e outras mulheres amadas para quem escreveu.
Em 1973, durante a Guerra do Yom Kipur, faz uma série de espectáculos grátis, em Israel, para os soldados israelitas (Unetaneh Tokef : "Who by fire").
Guerra do Yom Kipur,1973, Israel
Em 1988, sai o LP  “I’m your man” que  vai ter um grande sucesso. Com canções maravilhosas como “First we take Manhattan” ou “Take this waltz” - em que a letra é  de Federico Garcia Lorca, homenagem de Cohen ao grande poeta andaluz, assassinado pelos franquistas.
 
Federico Garcia Lorca

Entre os fans do novo álbum surgem jovens cantores como Elton John ou Bono que decidem publicar um álbum que lhe é dedicado: intitulado "I’m your fan”.
Em 1994, porém, Cohen retira-se para um mosteiro budista, perto de Los Angeles, fecha-se, ouve o seu Mestre e, no isolamento e no silêncio, talvez tenha encontrado alguma forma de paz ou de aceitação. 
Terá sido ordenado monge em 1995 com o nome de “Silencioso” (Dharma). Há muitas histórias sobre ele, contadas de várias maneiras, que não sei quanto são verdades.

Em 2011, recebe em Espanha o Prémio Príncipe  de Astúrias. Comove-se ao recebê-lo.

Em 2015, sai outro álbum, para mim mais fraco.
E, em 2016, sai o seu testamento literário: "You want it darker", precisamente 19 dias antes da sua morte.

Em 7 de Novembro, na sua casa de Los Angeles, Leonard Cohen retira-se para sempre. Deixando-nos um grande vazio.




4 comentários:

  1. Também gosto mais do Leonard Cohen do que do Bob Dylan e tenho imensa pena de não ter ido vê-lo ao vivo da última vez que cá esteve. Podia ter ido com uns amigos e recusei. Fui burra! paciência...

    Beijinhos. Boa semana.

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  2. Gostei de saber tudo sobre L. Cohen, grande cantor sem dúvida. Mas hei-de reconhecer que Bob Dylan, (assim como Freddie Mercury), estão entre as minhas grandes paixões... Cuida-te muito, bjinho

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  3. Teve uma filha que se chama Lorca...
    Também o aprecio bastante, tenho-o homenageado e um
    'post' preparado para publicar com a sua música.
    Saúde e paz, estimada MJ.
    Beijinho
    ~~~~

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  4. Foi na adolescência que descobri a música de Leonard Cohen. Inícios de 70, através do FM do RCP e o primeiro LP que comprei foi o "The Songs of Leonard Cohen", embora os meus favoritos sejam o "New Skin for an Old Ceremony" e o "Recent Songs". Quando foi atribuído o Nobel a Dylan achei que o júri se tinha enganado (e Cohen estava em apuros financeiros, que o obrigavam a estar em digressão para pagar dividas, fruto de maus investimentos de "terceiros"). A sua música dos nos 70 é a minha favorita e continua a tocar por aqui. Gostei imenso do que li, numa época em que a memória se perde na espuma dos dias.
    Bom fim-de-semana!
    Rui

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