Mulher de grande cultura, Maria Amália Vaz de Carvalho deixou uma obra muito interessante e variada.
Recorda-se talvez mais hoje a figura da educadora que sempre foi e a sua acção empenhada na educação das crianças e na formação cultural das mulheres, dentro de um conservadorismo tradicional compreensível.
A sua obra abrange vários campos que vão não só da poesia e da ficção ao ensaio, à crónica e crítica literárias, à biografia e ao jornalismo de intervenção.
Escritora e poetisa, nasceu em Lisboa no dia 1 de Fevereiro de 1847 e faleceu, com pouco mais de 74 anos, no dia 23 de Abril de 1921.
Casada com o poeta ‘parnasiano’ de origem brasileira, Gonçalves Crespo (1846-1883), com ele colaborou sempre na actividade política e nos trabalhos literários. (1)
Também foi tradutora de folhetins, de que as pessoas cultas do seu tempo eram apreciadoras.
O tempo de Maria
Amália Vaz de Carvalho era o de figuras especiais da cultura portuguesa, de nomes
como Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Junqueiro e tantos
outros que se reuniam por vezes em sua casa.
Em 1867, fez a sua estreia literária com o
poema romântico Uma Primavera de Mulher e em 1876 publica o livro “Vozes no Ermo” que teve críticas muito
favoráveis - como a que lhe fez Guerra Junqueiro por exemplo.
Grande parte das crónicas, nomeadamente as consagradas à crítica literária, foram reunidas nos volumes Serões no Campo (1877).
No entanto escreveu
obras de outros tipo, sempre no campo da educação: "Uma Primavera de Mulher" (1867), "Arabescos",
"Mulheres e Crianças", "Cartas a Luísa", "Cartas a
uma Noiva", "As nossas Filhas - Cartas às Mães" ou “O drama da vida contemporânea”.
Também a parte histórica lhe interessou. Escreve "Cenas do Século XVIII em Portugal" e "A Vida do Duque de Palmela", considerada a sua melhor obra.
Em 1886, de parceria com o marido, Gonçalves Crespo, editou a antologia infantil Contos para os Nossos Filhos.
O livro a que me quero referir hoje, Figuras de Ontem e de Hoje, sai em 1902. O livro abre com um artigo sobre a morte de Eça. O I Capítulo intitula-se precisamente Eça de Queiroz, O Homem e o Artista e começa assim:
“Foi há poucos dias que eu recebi aqui em Cascais, na pequena casa à beira do oceano, em que escrevo estas linhas, a súbita notícia da morte de Eça de Queiroz.(...) Como exprimir a pena profunda, a mágoa sem nome, que a minha alma sentiu!Aqui me veio achar a notícia de que Oliveira Martins, um dos mais queridos, um dos melhores que eu tive, expirara ao cabo de luta ingente que aquele temperamento enérgico teve com a destruição final.
Aqui soube da morte súbita de Carlos Valbom, um dos espíritos mais finos, mais elegante (...) que me foi dado conhecer de perto.
Sousa Martins, o amigo estremecido que velara comigo ao pé da cabeceira do leito em que minha mãe agonizava, e do leito em que meu marido morrera; aquele que foi para Gonçalves Crespo, terno e carinhoso como o melhor dos irmã e me acompanhou depois como o mais dedicado amigo; aquele que era o talento, a graça e a bondade (...) morreu justamente no mês em que escrevo (...).
Como estas paredes do ninho marítimo, em que todos os verões me abrigo, me têm visto chorar pelos meus grandes amigos mortos!” (p.1-3)
Continuando a leitura,
vamos descobrir - além de um retrato maravilhoso do 'Homem" e do "Artista" Eça de Queiroz
- muitas outras figuras de escritores portugueses.
E vamos encontrar igualmente textos sobre escritores estrangeiros seus contemporâneos tais como Balzac, Gabriele d’Annunzio, Hall Caine, Rudyard Kipling e também a mulheres-escritoras - de quem tão pouco se falava - como a italiana Matilde Serao, a francesa Georges Sand ou a belga Carlota Brontë (sic).
A escritora faleceu, com pouco mais de 74 anos, no dia 23 de Abril de 1921, na sua casa de Cascais, à beira do oceano. Onde, como refere no livro, apesar de muitos bons momentos "Por uma coincidência triste, parece que esta minha pequena casa de Cascais está ligada à memória da morte de muitos dos meus amigos."Resta-nos ler ou reler o que esta escritora admirável escreveu. Deixo-vos apenas uma indicação. Boa leitura!
https://www.infopedia.pt/$maria-amalia-vaz-de-carvalho
(1) António Cândido Gonçalves Crespo (Rio de Janeiro, 11 de Março de 1846 — Lisboa, 11 de Junho de 1883) foi um jurista e poeta de influência parnasiana. Nasceu nos arredores da cidade do Rio de Janeiro, Brasil, filho de um comerciante português António José Gonçalves Crespo e de Francisca Rosa da Conceição, uma mestiça escrava à data do seu nascimento. Aos 10 anos de idade mudou-se para Portugal. Depois de estudos preparatórios em Lisboa, matriculou-se em Direito na Universidade de Coimbra, onde se formou em 1877. Ainda estudante casou, em 1874, com Maria Amália Vaz de Carvalho, ingressando no mundo das tertúlias intelectuais de Lisboa. Nesses círculos a avançou na sua carreira como poeta e publicista, ganhando grande nomeada.
Foi colaborador de diversos periódicos, entre os quais O Ocidente (1877-1915) e a Folha, o Jornal de Coimbra de que era director João Penha, o poeta que introduziu o 'parnasianismo' em Portugal, e também nas revistas A Mulher (1879), Jornal do Domingo (1881-1888), A Leitura (1894-1896), Branco e Negro (1896-1898) e Serões (1901-1911). (wikipedia)
Escrevia bem, era inteligente, sensível e culta. A coisa pior de ter muitos anos é ver morrer a tanta gente querida. Enfim...Bom finde, amiga!
ResponderEliminarFrequentei o liceu com o seu nome, mas nunca li nenhuma das suas obras...
ResponderEliminarGonçalves Crespo aparecia nas seletas literárias escolares. Sempre lamentei a sua morte precoce.
Parabéns, MJ. Um dia feliz e pleno de ternura.
Que os dias do seu novo ano decorram em saúde, paz e contentamento.
Beijinhos
~~~~~
Penso que me enganei na data do seu aniversário...
EliminarÉ a que tenho na agenda... Beijinho
~~~