Tinha chovido toda a noite e o dia amanhecera nevoento e chuvoso.
O vento que passa pelas copas das árvores vem molhado e fresco.
- Acabou o Verão e aí vem o Outono, latente e triste, pensei,
lembrando os versos de uma poetiza. Sim, latente e triste...
- Tanta chuva! ouvi a voz do Ouricinho encostado aos vidros. Tudo
molhado...
- Começou o Outono, é natural que chova, comentou o Ratinho, sentado ao lado dele, à janela do meu quarto.
Foram até à sala espreitar a varanda. O Ouricinho estava triste, a ver as plantas. Ainda há tão pouco tinham andado ali a brincar, numa manhã de
sol. Escondiam-se num cestinho e andavam de vaso em vaso.
A ideia do cesto confesso que foi minha porque pensei que, no meio de tanta
brincadeira, iam ficar sujos de terra. E, depois, quem os lava?
Entretanto, chegara a festa do sukkhot, a festa das cabanas e
aproveitaram logo o cesto amarelo para dali fazer uma casa coberta com uns
ramos secos.
- Viste que este ano nem tivemos tomatitos?, continuou o
Ouricinho. Não os plantaste não foi? Que pena...
- Plantei, sim, mas não nasceram.
"Há anos ruins", pensei, "e este não foi nada bom para os tomatitos".
"Há anos ruins", pensei, "e este não foi nada bom para os tomatitos".
- Olha a roseirinha, que tristeza!
De repente, animou-se.
- Ah! Mas tens ali boas uvas!
De facto, naqueles dias de sol, saltitando de ramo em ramo, na oliveira, mais a gatinha, ele tinha vindo com a mesma
conversa das uvas.
Lembro-me que a Gatinha japonesa se tinha rido imenso dele.
- Não são uvas, são azeitonas!
Agora o Ratinho encolhia os ombros e sorria, habituado às distrações do amigo. E disse:
Lembro-me que a Gatinha japonesa se tinha rido imenso dele.
- Não são uvas, são azeitonas!
Agora o Ratinho encolhia os ombros e sorria, habituado às distrações do amigo. E disse:
O Ouricinho voltou-se para trás, a espreitar.
- Azeite? Onde é que está o azeite?
- Azeite? Onde é que está o azeite?
- Hahaha!, riu-se o Ratinho. É a brincar. Com aquelas azeitonas não podemos fazer
azeite nenhum...
-Ah! Mas podemos comê-las! Eu gosto muito de azeitonas!
-Ah! Mas podemos comê-las! Eu gosto muito de azeitonas!
Acrescentou, um pouco enfadado:
-Não julgues que sou parvo, não julgues! Só que, quando vejo as azeitonas
num pratinho, na mesa, nunca me lembro de que nascem na árvore! Penso que são
uvas..
- Sim, é verdade, um roxo bem bonito, condescendeu o Ratinho. Só que as uvas nascem nas parreiras, não tem
nada que ver. E são doces!
- Sim, mas são parecidas, teimou o Ouricinho.
- Sim, mas são parecidas, teimou o Ouricinho.
- Prova-as, e logo vês a diferença...
A discussão ia continuando, e, a este ponto, resolvi
contar-lhes uma história para os distrair. Detesto discussões!
- Sabem a história da Adélia e das azeitonas?
- Nãooo!, disseram em uníssono.
Eles adoram histórias, como já perceberam...
- Foi assim... Eu tinha posto três azeitonas da minha oliveira, na
cozinha, porque eram lindas, perfeitinhas
e pareciam mesmo uvas. E...
- Vês que parecem uvas?, interrompeu-me o Ouricinho...
Claro que tinha aproveitado a deixa.
- Vais ver...
Era o Ratinho que continuava a implicar, teimoso.
Era o Ratinho que continuava a implicar, teimoso.
-Ah! Vês?!
E o Ouricinho ria-se, feliz da vida.
- Bem, ouve lá tudo! Cuspiu-as logo com um ar indignado, a resmungar: "Ai, minha senhora, que amargura! Onde é que a senhora arranjou estas uvas?"
E o Ouricinho ria-se, feliz da vida.
- Bem, ouve lá tudo! Cuspiu-as logo com um ar indignado, a resmungar: "Ai, minha senhora, que amargura! Onde é que a senhora arranjou estas uvas?"
- Amargura ou amargor?, perguntou o Ratinho.
- Amargor, mas ela diz amargura. Expliquei-lhe que eram azeitonas do jardim.
E a Adélia zangou-se. E só me dizia: “Ai que horror! No jardim, põem-se flores...”
- Pois é, já percebi, um dia arrisco-me a ter essa amargura...
- Pois é, já percebi, um dia arrisco-me a ter essa amargura...
- Amargor, corrigiu o Ratinho.
Claro, já estavam a discutir outra vez. Deixei-os a ver a chuva e fui ler para o meu cantinho.
A luz de Outono é tão bonita!
* * *
Claro, já estavam a discutir outra vez. Deixei-os a ver a chuva e fui ler para o meu cantinho.
um dos meus cantinhos...
A luz de Outono é tão bonita!
Ah! Mas quero contar-lhes ainda o que é a festa do sukhot! Sukhot (significa "cabanas") é
uma festa hebraica que relembra os 40 anos do êxodo do povo judaico, a Festa dos Tabernáculos.
Para celebrar a festa, ainda hoje, os judeus fazem as refeições
debaixo de ramos de árvores, nas varandas ou terraços, em "cabanas" feitas de
palha e de folhagem.
De modo que se possa ver o céu. Tem que se ver sempre o céu!
Penso que é sobretudo para manter "viva" a tradição, junto das crianças. Vi muitas sukhot nas varandas de Telavive, enquanto lá vivi...
De modo que se possa ver o céu. Tem que se ver sempre o céu!
Penso que é sobretudo para manter "viva" a tradição, junto das crianças. Vi muitas sukhot nas varandas de Telavive, enquanto lá vivi...
Então este ano não houve tomatitos? Deixe lá, todos os agricultores têm os seus anos menos bons!
ResponderEliminarMas teve uma boa produção de oliva!
Já tinha muita saudade duma história dos meus heróis! São o máximo, e muito observadores!
Adorei o post!
Um beijinho grande e uma boa semana! :)
Histórias ternas de aprender. Aquecem o coração da gente...
ResponderEliminarBeijinhos
Luísa
Maria João, apesar da "amargura", adoro azeitonas!!:))
ResponderEliminarE uvas também... e do ouricinho, do ratinho, da gatinha japonesa,...
Um post muito nutritivo!:)))... e elucidativo... e ternurento!
Muito interessante a explicação sobre a festa do sukhot.
Um beijinho grande.:))
Bonjour chérie, três azeitonas perfeitas na tua cozinha, estou a vè-las, e a Adélia que se atreveu a comer uma dessas azeitonas-uvas sem perceber que os tesouros não se comem. Teve o seu merecido castigo, e aprendeu que não é bom fiar-se das aparências...
ResponderEliminarEstá um dia mágico que não se pode deixar passar por alto, eu estou a desfrutá-lo momento a momento, com a avidez de quem já tem menos outonos por diante. Só espero continuar assim o que resta de dia, seria perfeito. Queres tomar un café comigo, diante do mar, e comentar juntas o pôr do sol hoje, que nunca é igual, a ver que que tal?
Beijo