sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Falando do Êxodo Português de hoje...


Imagem do filme de Ridley Scott que fala de um outro Êxodo...

Li no jornal Libération (de Fevereiro 2014), jornal francês conceituado, um artigo que me deixou indignada. Não que não soubesse o que se passa por cá, mas porque me "chocou" que lá fora falassem mais e mais pormenorizadamente de um assunto que por aqui é  "tocado" ao de leve.  
O artigo, intitulado “O Êxodo Português”,  de que me dei ao trabalho de traduzir alguns excertosa, aqui fica. É da autoria da economista Cristina Semblano (*), professora de Economia Portuguesa na Universidade Paris IV- Sorbonne.

O "triunfo" da nova política do Governo fez baixar   a taxa de desemprego? Oh, que mentira! Quem julgam enganar? 


“Estávamos longe  de imaginar que uma sangria equivalente à dos anos 60, que viu o grande êxodo dos Portugueses para a Europa, viria a  reproduzir-se.  Os números  necessariamente aproximativos apontam para fluxos semelhantes, ou mesmo superiores aos daquela época. (...) Sabemos que  fluxos importantes atingiram outros países, sob o império directo ou indirecto da troika, mas Portugal é com certeza o único em que o governo apela de forma vergonhosa os seus cidadãos a emigrar. Um governo que se alegra da baixa –necessariamente relativa- do desemprego - que a debandada desta população está a provocar-, apresentando-a  como um sucesso de uma política que põe o país a saque e empobrece ainda mais a população de um dos Estados mais pobres e mais cheio de desigualdades sociais  da EU.

(...) Esta emigração de massa tem efeitos devastadores para o país, para além dos dramas humanos, pessoais e familiares que traz consigo. Além de acentuar o envelhecimento da populão que, fruto da vaga migratória e da guerra colonial dos anos 60 e di baixo índice de natalidade –um dos mais baixos da Europa- é uma das mais envelhecidas do mundo e da EU. Com tais medidas, acentua ainda mais a baixa da natalidade(...)
No plano económico, as consequências deste estado de coisas são a longo prazo calamitosas, mas a primeira e a mais dramática é a de privar o país das forças vivas que dele constituem a trama e de que asseguram a sobrevivência, estas forças vivas de que o país teria cruelmente necessidade no quadro da recuperação do seu plano de desenvolvimento que está, com a arquitectura institucional disfuncional do euro, na base da sua dependência exterior."

 O artigo de Cristina Semblano refere os exemplos de situações abnormes que surgem, recentemente, em França: 

"(...) os professores que vão trabalhar como porteiros nos bairros chiques de Paris, os licenciados que estão a trabalhar como operários da construção civil, os arquitectos e os engenheiros a exercerem a sua profissão mas abaixo das suas qualificações, com ordenados de 20% a 30% inferiores aos dos seus homólogos  franceses. 
E que dizer, ainda, dos trabalhadores não-qualificados - a grande massa dos exportados por Portugal, com salários de miséria?"



E indigno-me! O quê? Como há setenta anos?... 
Como  no poema de Rosalia de Castro?!


"Este parte,
Aquele parte
E todos se vão
Galiza ficas sem homens
Que possam cortar teu pão."

Só que desta vez se trata de uma jovem  ( e menos jovem, pois o artigo refer que essa "massa" vai dos 16 aos 65 anos!) população "preparada": que estudou, que esperou, que acreditou que valia a pena. E a quem os pais e avós desses tempos de emigração sofredora quiseram dar uma oportunidade... 

E que o próprio país "expele".  Pela boca dos seus governantes que os "aconselham" a expatriar-se! E a Pátria de que tanto falam? Fica mais pobre, fica reduzida ao osso... 




Nota: avalia-se em meio milhão o número de portugueses que emigraram depois da crise.

Bansky: "E que mais?

http://www.liberation.fr/monde/2014/02/03/l-exode-portugais_977523

(*) Cristina Semblano - Professora de Economia Portuguesa na Universidade Paris IV- Sorbonne.

4 comentários:

  1. É revoltante!
    A mim o que me indigna mais que tudo, e porque o resto é consequência disso, é a total falta de amor e de respeito que esta gentalha tem ao País.
    Revolta-me!
    É uma tristeza vermos o país morrer assim às mãos de gente corrupta, pobre de ideais e de ideias. Vendidos!

    ( Gosto dos trabalhos de Banksy ) .

    Um beijinho e bom fim-de-semana.
    (Vou daqui a pouco à última sessão do Festival Literário. Ontem fui e foi muito interessante.)

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  2. Maria João,
    Uma realidade que faz doer. Mais uma falácia das estatísticas e dos nossos governantes... Distorção da realidade.
    Gostei do Memorial dos imigrantes, não conhecia. And What Next? :((

    Beijinho.

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  3. Estamos a atravessar uns tempos muito difíceis e indignantes. A única solução está em que a juventude consiga unir-se e reagir, negar-se a ser a "geração perdida", epíteto que acho vergonhoso e inaceitável: os jovens não podem resigar-se, e aos que os calificam assim desde as suas poltronas, devia dar-lhes vergonha não mexer uma palha pelos mais necessitados, cómodamente instalados na vida. Os desempregados
    de hoje não têm o perfil dos anos 60, conheceram vidas dignas nas suas casas, muitos têm estudos superiores, e não vão engulir isto com facilidade. E senão, já veremos!
    Bom finde, beijinhos

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  4. Doi este desgoverno

    mas ainda quem o elegeu

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