Cá venho com mais uma
leitura.... Um artigo de John Sutherland no Suplemento literário do Financial
Times (3 de janeiro 2014), intitulado: “How to win, lose and use Money in a novel way” (Como
vencer, perder e usar o dinheiro de uma "nova" maneira (jogo de palavras novel
(nova)/novel (novela).
“O dinheiro – e a injustiça da sua distribuição-
estão muito no nosso pensamento de hoje em dia. Ferve, sobretudo, nas cabeças
dos jovens políticos idiotas da
geração que tem à volta de vinte e tal, 30 anos: a “pinched generation.”
"Pinched generation", como
ele lhe chama. Geração “beliscada”? Atingida? Magoada?
“Não é com certeza o
que eles vão procurar mas bem podiam ir ler os escritores do século XIX. Lá
encontrariam uma “entendimento” útil sobre os factores desta injustiça."
E, com humor, fala de
Balzac, cheio de dívidas e a escrever e a queixar-se : “por detrás de uma
grande fortuna está sempre um crime”.
Balzac, escultura de Rodin
Ou das dúvidas/dívidas de Fiodor
Dostoievsky no "Jogador" e na vida - que se poderiam resumir na frase: “Se Deus te
ama, far-te-à rico. E assim, fim dos problemas", ficava tudo resolvido!
E Charles Dickens que fala constantemente de dinheiro nos seus romances e, mais do que outra coisa: de “não ter dinheiro”! Da pobreza autêntica, dura e crua...
Porque, em oposição a
essa geração de jovens “pelintras”, havia a “wallet generation- power”, os “instalados
na vida”, mais velhos e com a carteira bem recheada, os quais, na maior parte
dos casos, lhes roubavam as bem-amadas.
Charles Dickens por volta de 1850
Num conto terrível
(Dombey and Son) de Dickens, um menino que está doente e vai morrer, pergunta
ao pai:
“Pai, mas para que serve o dinheiro?”, coisa a que o pai não sabe
responder.
Anos mais tarde, destruido com a morte dese filho, arruinado, talvez descubra que, no fim e ao cabo, o dinheiro só serviu
para não ter vivido nada como devia ter sido. Nada prestou na sua vida...
E o que foram as vidas do pequeno David, ou das personagens de "Tempos difíceis" ou "Oliver Twist"? Uma luta constante contra a miséria...
"David Copperfield", romance maravilhoso, reeditado pela Relógio d´Água
E o que foram as vidas do pequeno David, ou das personagens de "Tempos difíceis" ou "Oliver Twist"? Uma luta constante contra a miséria...
E George Eliot? Esta grande escritora era uma
“self made rich woman” que, segundo Sutherland, sabia bem o valor do dinheiro,
porque ganhou cada “penny” da sua fortuna, sozinha!
imagem da série da BBC, com Ben Kingsley
Os heróis e as heroínas de Eliot podem herdar fortunas mas esse dinheiro nunca é uma coisa central na sua ficção.
Dorothea Brooke, a heroína de “Middlemarch” dizia: “Quando temos mais dinheiro do que necessitamos, então devemo-lo usar para fazer um mundo melhor!”
um selo que comemora a saída de Pride and Prejudice
E continua:
"Se há alguém que
nunca pensou no dinheiro do que ela. Nunca se fala de dinheiro nos seus
romances: ou há...ou não há. Em princípio, há..."
Para terminar, que
mensagem fica para os jovens de hoje, cheios de dificuldades e mais pinched do que nunca...?
“Pensem que foi sempre assim, e que nunca foi fácil. Contentem-se porque estão vivos e tal como diz George Eliot têm 35 anos à vossa frente...e não atrás.”
Certo. Mas se fosse
assim tão simples como isso animá-los. Pobre “pinched generation”!
Deixo uma canção dos Pink Floyd... "Money", of course, diria John Sutherland!
Em Espanha a tradução seria a geração "pinchada", existe a mesma palavra, e suponho que significa o mesmo: furada, como a roda dum carro, mas sem arrajo, neste caso triste. Já lhe chamam a "geração perdida", esperemos que a maioria consiga remontar. É um tema sangrante, só quem está a passar por elas sabe bem o que é, e trata-se de gente nascida na abundância e de carne e osso, não personagens de novela. Os tempos não são os de Dickens, e é muito doloroso o que está a trazer esta maldita crise económica — porque é tudo uma questão de dinheiro, seja ele o que fôr. Quando não há para sobreviver com dignidade, tudo o mais passa a um segundo plano. Precisamente hoje apanhas-me muito sensiblizada com este tema.
ResponderEliminarBom finde, está um sol radiante, a por ele!!!
Beijinhos
Tudo isto é assustador e, infelizmente, é real nem sequer é um bom livro de ficção como o de Dickens (que falou da sua "realidade" bem real!).
EliminarAqui até se chamou a "geração à rasca"... mas não é uma tradução para pinched. Pinchada não existe em português, furada sim. Talvez seja a ideia: furada, rota, destruída. Melhor e menos duro "que pode vir a ser destruída"!
Um beijo. aqui está um solinho assustado, deve ser da cries!
O dinheiro não é tudo, mas é preciso ter o suficiente, para se poder ser feliz. E para comprar livrinhos!
ResponderEliminarBons livros de que aqui fala!
O Ratinho gosta de saber! Gosto deste ratinho!
Um beijinho e bom fim-de-semana :)
É bem verdade, não é tudo...mas ajuda muito! O ratinho anda cheio de vontade de dizer coisas mas eu não tenho tido tempo para o ouvir! Anda até zangado, acho. Em breve terá de aparecer uma história dele se não ninguém o atura! beijos e bom finde....
EliminarJá tenho saudades duma história...ouça-o lá!...Para bem de todos!
EliminarUm beijinho grande :)
Acho que tenho de pensar nisso... bom domingo!
EliminarPois, tudo isso é uma triste verdade... Mas, com dizia a minha saudosa prima Maria Amélia... "o dinheiro não é tudo... para quem o tem"... Pinchar existe na nossa língua e significada "saltar" (cf, Dicionário de Moraes).
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