segunda-feira, 3 de março de 2014

....Audrey e a Vida: ler "Irresistível Audrey Hepburn", de Iris Lanelou





Um livro oferecido por uma grande amiga, que admira -como eu- Audrey Hepburn. Uma amiga que vive longe e fez há pouco 90 anos. E que se lembrou de me mandar esta biografia!

"Irrésistible Audrey Hepburn", belo título e verdadeiro: Audrey Kathleen Ruston é uma personagem irresistível! Basta começar a ler a biografia dela...


Nasceu em Ixelles, na Bélgica, em 4 de Maio de 1929. 



Era filha de uma baronesa, holandesa, Hella van Heemstra, com origens nobres próximas e influente na cidade de Arnhem, na Holanda.  



O pai Joseph Victor Anthony Ruston - britânico-irlandês-escocês-francês, com alguns antecedentes judaicos- é um leitor apaixonado e culto, e um conhecedor de línguas - fala treze, pelo menos. 
Interessa-se pela genealogia. Curiosidade genealógica da família: descende de James Hepburn, conde de Bothwell, e 3º marido de Maria Stuart. 

Decide adoptar esse apelido e passa a chamar-se Joseph Ruston-Hepburn.

Os pais encontram-se na Indonésia, apaixonam-se, casam, vão viver para Bruxelas. Mas não se vão entender muito tempo.



"Quando Audrey nasce, a família e todos os amigos extasiam-se perante a sua beleza e os lindos olhos risonhos que ela tem."

"Simplicidade e sofisticação; olhos de corça e o sorriso de uma criança".
É assim que começa a Biografia de Audrey, escrita por Iris Lanelou "Irrésistible Audrey Hepburn" (Éditions  Chêne).



Para a mãe é já o 2º casamento. Tem dois filhos do primeiro.  Mas Joseph Hepburn é uma pessoa complicada: aventureiro, cavaleiro exímio, aviador, poliglota é um original. Viaja sem meta, nem ofício: é um "diletante" em vários campos.

O casal não se vão entender muito tempo. As disputas em casa começam cedo: os pais não se entendem. 

Para a protegerem do "ambiente eléctrico" que se vivia em casa, Audrey é enviada para um colégio interno, em Kent (Inglaterra). 

"Tinha 5 anos e vive solitária e aterrorizada por se saber afastada de casa. As férias passa-as numa família inglesa. Introvertida sente-se desenraizada, até porque e perde o contacto com os meio-irmãos com qum se dava tão bem." 

Frágil de saúde, torna-se numa leitora compulsiva, lê tudo: Kipling, Edgar Wallace, Openheimer. Não participa nos desportos colectivos da escola, mas dedica-se à dança clássica. 



"É uma revelação! Audrey descobre a sua verdadeira paixão, aliando a música que já amava a uma graça natural." (p.6)

Em 1935, o pai abandona de vez o domicílio conjugal e parte para Inglaterra. Ela tem 6 anos e, para ela, a separação é um cataclismo. 

"É uma tragédia da qual nunca me recompus - contará, já adulta. Eu venerava-o e fez-me imensa falta quando desapareceu. (...) Tinha inveja de todas as meninas que tinham um pai em casa."

No entanto, apesar de estarem ambos em solo britânico, o pai nunca vai visitar a filha que o adorava e que sofre brutalmente com isso. "Passa a sofrer de enxaquecas, come pouco, e, torna-se cada vez mais inquieta e reservada."

É a dança que a vai salvar deste primeiro golpe. Em 1938, o divórcio dos pais é oficializado.

Quando a Guerra rebenta em 1939, o pai vai levá-la a Bruxelas. Vai ser a última vez que se vêem: encontrar-se-ão, brevemente, em 1964, pouco antes de o pai morrer.

Ela, a mãe, e os irmãos procuram refúgio junto dos familiares que vivem na Holanda, esperando que ali possam viver em paz. 


Picasso, A Guerra

Mas a Holanda vai ser, pelo contrário, um ponto-chave para os nazis.

Arhem, a cidade onde vivem, não está longe da fronteira alemã, mas os habitantes guardam alguma esperança. Tentam viver o dia a dia o melhor  possível, respeitam a cultura. 



A 9 de Maio de 1940, Audrey participa numa soirée de gala, organizada devido à passagem da Companhia de Ballet Sadler's Wells, onde vê dançar Margot Fonteyn, um dos seus ídolos. 




Margot Fonteyn


Nessa madrugada, os exércitos do 3º Reich entram na Holanda, que não queria entrar naquela guerra...

Audrey passa a chamar-se "Edda", por questões de segurança: o seu nome -de consonância bem inglesa- poderia trazer-lhe sarilhos. A mãe proibiu-a de falar inglès. 

Como diz Iris Lanelou: "Ser inglês, na Holanda ocupada, não era de modo nenhum recomendável. Era arriscado chamar a atenção dos alemães, qualquer coisa poderia levar à prisão e à deportação!" (p.7)

Vem o racionamento, a família sofre privações, passam fome, chegam a comer folhas de tulipa para sobreviverem. Há crianças que morrem, crianças que são mandadas para campos de concentração...

A família entra na Resistência, a própria Audrey, adolescente, leva propaganda escondida nas meias ou dentro dos sapatos. 

E "luta", sempre, como os grandes. O irmão mais velho entra na clandestinidade, para não ser incorporado no exército alemão. 

Muitas pessoas da família são mortas pelos alemães, algumas na frente dela, como um tio, em plena rua. 

A Holanda "resiste", apesar de dividida. Em Fevereiro de 1941, é organizada a primeira grande greve dos Holandeses contra o anti-semitismo. 

Será reprimida duramente essa greve e a política de deportação continuará em força. Muitas crianças serão deportadas, como se pode ver hoje no Museu da Resistência.


crianças deportadas para campos de concentração


Audrey "protesta" e age como pode: a sua forma de participar na “resistência” - que era muito activa na Holanda- é entrar em espectáculos clandestinos de ballet, cujo dinheiro ia direito para os activistas e resistentes. 



Continua a dançar no Conservatório sob a direcção da professora Winja Marova que acredita nela e a admira e lhe ensina coreografia. 


o primeiro papel, de cabeleira loira

Trabalha, com profissionalismo e coragem, quer melhorar, e esgota-se porque sofre de desnutrição e dançar é um grande esforço. Mas ela não desiste, continua em frente, faz progressos...



Acabam por ir refugiar-se, ela e a mãe, na aldeia de Velp na casa do velho barão Van Heemstra, seu avô.

Mas mesmo Velp é perigosa: a verdade é que, numa tarde de 1945, ao voltar da escola, é interpelada por um sargento alemão no meio da rua. 

Era fácil  as mulheres e as adolescentes serem raptadas ao acaso para serem enviadas para um campo militar. Pensa fugir, não consegue mexer-se. Por sorte, o soldado distrai-se a fazer um cigarro e a falar com outros e ela escapa-se. Audrey fecha-se em casa e não sai durante um mês inteiro.



Anos mais tarde, Audrey Hepburn  reconhecerá dentro de si, as fragilidades, os medos que sentira Anne Frank: 

"Tínhamos as duas dez anos quando a guerra rebentou e quinze quando chegou ao fim. Li o seu Diário em 1946. Fiquei revoltada, agitada, comovida. Era como ler a minha vida. Nunca mais fui a mesma depois dessa leitura."


A insegurança sentira-a, como Anne, porque a delação existia na Holanda. Talvez por essa razão, Audrey se tenha recusado a voltar lá.
A admiração que sinto por esta figura está ligada também, sem dúvida, à sua coragem e às acções humanitárias "a sério" em que se integrou.

Em 1988, no quadro do programa "Work for food", viaja para a Etiópia, em pleno cáos da guerra civil que grassava desde 1974. 

Audrey fala, dá conferências de imprensa, revela o que se passa, comove-se. Talvez pensasse que nunca mais voltassem os pesadelos da sua infância e da guerra. 


no filme "Guerra e Paz"

Mas, não: a guerra ali está outra vez e as crianças mais do que todos sofrem e sofrem! 

Embaixadora internacional da UNICEF, consegue que o Congresso Americano desbloqueie 60 milhões de dólares para a Etiópia. 

E continua essas viagens sempre que há crianças que sofrem. E há sempre crianças que sofrem pelo mundo fora! 

Assim, viaja para Guatemala, Venezuela, Equador, Bangladesh, Sudão, Honduras, Tailândia ou Vietname.  

com a escritora Colette que a escolhe para a peça "Gigi"



Não vai para se fazer "propaganda", como pode acontecer hoje em dia, não fo faz por uma questão de dignidade. Até porque não precisa de publicidade -ela, uma lenda viva do cinema! 

Vai porque quer agir, participar. Dirige-se aos meninos, fala-lhes e abraça-os. 

O fotógrafo John Isaac -que a acompanhava sempre- escreve: "Muitas vezes, as crianças estavam cheias de moscas, mas ela ia sempre direita a eles para os abraçar e dar um beijo. As outras hesitavam sempre..."

Audrey costumava dizer: "Não acredito na culpabilidade colectiva, mas acredito numa responsabilidade colectiva."

Acho que tem toda a razão: se não fizermos nada, seremos responsáveis! 

Ou seremos avestruzes com a cabeça bem escondida na areia, a fingir que não vemos! Esta foi a Audrey Hepburn que vos quis trazer hoje! Na sua pureza e ingenuidade! Na sua vontade de fazer alguma coisa pelos outros...

4 comentários:

  1. Deve ser um livro maravilhoso.
    Ela é uma das minhas actrizes preferidas pela graciosidade e elegância.
    Gostei muito.
    Beijinho.:))

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  2. Gostei muito do post.

    Audrey Hepburn era uma pessoa bonita por fora e por dentro.
    Tenho uma biografia dela, mas é outro o autor.

    Um beijinho grande :)

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  3. Não conhecia a biografia da Audrey, gostei de saber que era uma mulher fantástica, além da actriz que todos conhecemos, e que sofreu muito, o que talvez tenha contribuído a que também fosse tão estupenda como pessoa.
    Beijos

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