sábado, 3 de janeiro de 2015

A História do cão Hachikô e do seu dono...



Passou, há dias, na Arte/TV, o filme "HACHI: A DOG'S TALE", realizado pelo sueco Hallstrom em 2009, cujo papel principal foi entregue a Richard Gere – o dono- que vai muito bem. O filme era um drama sentimental e enterneceu-me e fez-me chorar várias vezes.

Há histórias que nos fazem acreditar na vida. E pensar que talvez os homens, um dia, venham a aprender com os animais.
Professor Hidezaburo Ueno
Esta história que vos vou contar é real. Passou-se no Japão, no ano de 1924-25. E "acabou" em 1934. É a história do cão Hachi, ou Hachiko o diminutivo que lhe dava o seu  dono japonês, o Professor Ueno. 
A primeira versão filmada é japonesa e chama-se 'Hachiko Monogatari' (1987).
Universidade de Tóquio, Pavilhão Akamon


O Professor Hidezaburo Ueno vai ensinar para Tóquio, no Departamento de Agricultura da Universidade, e traz com ele um cãozinho de poucos meses. E Hachi todos os dias ia com o dono até à estação de Shibuya (um dos bairros de Tóquio), ia para casa pouco distante e voltava a buscá-lo, à tardinha.

Na versão americano-sueca -que vi- o Professor chama-se Parker e é professor de Música e de Ballet. 
O cãozinho vinha do Japão, numa gaiola e, por distracção, o empregado deixou cair essa caixa de madeira, que se abre. E o cão foge. Caminha pelo cais e vai dar com os pés do Professor que saíra do comboio também. 

E o Professor pega nele ao colo. E nunca mais se separam...
Depressa se habitua a acompanhar o dono todas as manhãs e a ir buscá-lo, à estação, ao comboio que chegava ao fim da tarde. 

Durante pouco mais de um ano assim foi. Hachiko – um cão de uma raça muito antiga no Japão, a Akita, torna-se cada vez mais dependente do dono, a quem “deveria” guardar. De facto, esta raça de cães tem a particularidade de ser muito leal para com os donos e “ter sempre um olho neles”. 



A primeira versão cinematográfica é japonesa e chama-se 'Hachiko Monogatari' (1987), realizado por Seyjiro Koyama.


Porém, uma noite, o Professor não volta. Tem um ataque de coração durante uma aula, ou numa reunião, e morre. E Hatchiko espera-o horas e horas. Vai procurá-lo a casa e volta para a estação e espera.  Todos os dias volta à casa do dono, até perceber que ele não está e que não voltará nunca mais. Então, fixa o seu lugar de espera em frente da estação, de olhos fixos cada vez que a porta se abre e os passageiros passam por ela.


Todos o conhecem por ali, todos lhe dão de comer e falam com ele. “Bom dia, Hachi” e, no regresso: “Boa noite, Hachi”.


E o tempo passa, Inverno após Inverno, Primavera após Primavera e Hachiko resiste e espera. 
Dorme debaixo de um comboio velho, ali estacionado, mas logo que ouve passar o comboio de uma certa hora, corre para o seu lugar em frente da estação, à espera de ver chegar o dono. 
fotografia real, por volta de 1934
A sua história comove os que passam diariamente na estação, nunca ninguém conseguiu tirar Hachi do seu lugar. A família do professor tenta levá-lo e ele foge e volta para a estação. A história vem nos jornais, Hachi torna-se numa figura famosa e muita gente oferece dinheiro para que ele seja bem tratado. E, de facto, todos lhe querem bem. Hachi vai ser recordado sempre - e dado como exemplo às crianças.


Até ao dia em que, em 8 de Março de 1934, numa noite gelada de fim de Inverno, adormece para sempre. Hachiko morre e os amigos da estação Shibuya fazem-lhe um funeral. 
8 de Março de 1934
Anos depois, Hachiko tem direito a uma estátua no local onde esperou o seu dono, fielmente, durante 9 anos.
a estação de Shibuya, nesses anos
Existe em Tóquio, mesmo em frente da estação ferroviária de Shibuya, uma estátua representando o cão Hachiko

A estátua foi feita em 1934 por um escultor famoso no Japão, Tern Ando. Durante a Guerra, em 1944, foi fundida para armamento – mas, em 1948, a figura de Hachi é re-criada, por outro escultor, Takeshi Ando, filho de Tern Ando.

 a estação de Shibuya, hoje

Um outro monumento, junto da Universidade, representa-o ao lado do seu dono amado. E os restos mortais de Hachi foram enterrados num cantinho da sepultura do seu dono.
E se a história do filme nos emociona, por si só, penso também que é admirável a atitude japonesa perante a figura de um animal: a importância que Hachi ganha ao longo destes anos e a ternura que lhe demonstram é evidente. Poucos povos darão talvez tanta importância aos "seres" da natureza, sejam eles animais mesmo ínfimos como as libélulas que inspira um poema - ou as mais modestas e simples flores do campo...


(*) Os akitas inu pertencem a uma raça muito antiga criada nas montanhas do Norte do japão. Foram treinados para cães de luta e, depois, para cães de guarda. A lealdade dos cães da raça Akita já era conhecida pelo povo japonês há muito tempo. Em uma certa região do Japão, incontáveis são as histórias de cães desta raça que perderam suas vidas ao defenderem a vida de seus proprietários.
Onde quer que estejam e para aonde quer que vão, têm sempre "um dos olhos" voltados para aqueles que deles cuidam. Por causa desse zelo, o Akita se tornou Patrimônio Nacional do povo japonês, tendo sido proibida sua exportação.
Se algum proprietário não tiver condições financeiras de manter seu Akita, o governo japonês assume sua guarda...

(***) Deixo em baixo a versão completa original do filme japonês "Hachiko Monogatari", com legendas em português - para quem estiver interessado em ver. É um belo filme! Vejam com calma. Demora 1 hora e 47 minutos...
https://www.youtube.com/watch?v=h2wV_Wt9jXM




6 comentários:

  1. É uma história tão bonita, de que já tinha ouvido falar. Gosto deste tipo de filmes que nos inspiram e nos fazem acreditar na bondade.

    Um beijinho grande:)

    ResponderEliminar
  2. Quando vi este filme chorei.
    Este registo é maravilhoso.
    Tudo de grande beleza.
    Beijinho. :))

    ResponderEliminar
  3. Amiga, segui a sugestão e vi ontem este magnífico filme que também aconselho vivamente.
    Mas peguem em lenços... É tão bonito, tão comovente,... uma verdadeira lição de lealdade, de amor...
    Obrigada por mo dar a conhecer!

    Um beijinho e bom domingo.:))

    ResponderEliminar
  4. Vi este filme há uns tempos (a versão americana) e gostei muitíssimo. Obrigada pelo seu post e FELIZ ANO NOVO!

    ResponderEliminar
  5. Conhecia. A fidelidade a todo o custo.

    ResponderEliminar