imagem da série inglesa "Skins" (in Le Monde)
Li
uma reportagem no Monde (27 de
Dezembro 2014) que falava dos jovens "que se recusam a crescer", pelo mundo fora.
Porque, neste mundo globalizado, também os problemas das gerações se
globalizaram. De facto era de jovens ingleses, franceses e americanos que se tratava. E eu
acrescentaria os (nossos) portugueses.
Um
dos sub-títulos, parafraseando a canção “La vie en Rose”, de Edith Piaf, chamava
à vida desses jovens “la vie en noir”. Vida negra?
E eu pergunto: será
mesmo verdade que os jovens não querem crescer? Que a juventude rejeita a
maturidade? Que não quer responsabilidades?
Não será, antes, uma nova cultura que surgiu - em que a idade adulta é “uma opção”? Não será que isto andava para acontecer já há muito tempo?
A verdade, afirmam no jornal francês, “é que se torna difícil aos novos jovens conformarem-se com os princípios que regem a idade adulta”. Porque tudo mudou radicalmente.
Não será, antes, uma nova cultura que surgiu - em que a idade adulta é “uma opção”? Não será que isto andava para acontecer já há muito tempo?
A verdade, afirmam no jornal francês, “é que se torna difícil aos novos jovens conformarem-se com os princípios que regem a idade adulta”. Porque tudo mudou radicalmente.
Resta-lhes
“inventar uma nova forma de envelhecer”, dizem…
Envelhecer sem passar pela idade adulta? Faz-me lembrar a canção de Jacques Brel :
Resta-lhes crescer à sua maneira, serem eles sem obrigação de "repetir" outras vidas, outros modos. As lutas dependem das situações existentes e não se fazem a partir do nada.
De jovens "acossados", de jovens "perdidos", de jovens "desorientados" fala-se hoje.
E penso no caso da Grécia que se avizinha a uma quebra arriscada mas essencial - para ela própria, Grécia- com o sistema "financeiro" vigente na Europa.
Envelhecer sem passar pela idade adulta? Faz-me lembrar a canção de Jacques Brel :
"Finalement,
finalement
il nous fallut bien du talent
pour être vieux sans être adultes.”
Truffaut e "Baisers Volés"
E houve sempre modos diferentes de reagir. Ou de desistir. De jovens "acossados", de jovens "perdidos", de jovens "desorientados" fala-se hoje.
Jean-Luc Godard, À bout de souffle, (O acossado)
Agora a luta é contra um "sistema" que impôs valores (económicos e financeiros) que nos matam. E as reacções são variadíssimas, entre elas a recusa de aceitar esse sistema. E penso no caso da Grécia que se avizinha a uma quebra arriscada mas essencial - para ela própria, Grécia- com o sistema "financeiro" vigente na Europa.
Um
jovem inglês afirma, lúcido, na reportagem: “Segundo a minha
opinião esta rejeição global e exclusivo da maturidade constitui um novo
desafio que vai influenciar os futuros escritores a debruçarem-se sobre a nossa
geração.
E contarão como nós quebrámos os esquemas tradicionais: ter filhos, uma casa e um emprego - coisas que mereçam que se trabalhe, árdua e continuamente. Eles dirão como nos fechámos numa mentalidade de adolescente.”
E contarão como nós quebrámos os esquemas tradicionais: ter filhos, uma casa e um emprego - coisas que mereçam que se trabalhe, árdua e continuamente. Eles dirão como nos fechámos numa mentalidade de adolescente.”
Crescer
hoje em dia o que significa? Aceitar as responsabilidades da vida adulta,
claro. E os jovens recusam essas responsabilidades, mais do que noutros tempos?
Gostaria
de analisar estas afirmações com calma, interrogar-me – ou, melhor, interrogarmo-nos
juntos - porque sozinhos não vamos a lado nenhum.
Não
acredito que a juventude rejeite em bloco as responsabilidades e queira apenas
viver o dia que passa, de modo inconsciente -e individualista, no sentido pejorativo- com que muitos (adultos) o dizem.
Para eles, ser adulto está conotado com certas ideias: “assentar” – ter casa, formar família, fixar-se.
Para eles, ser adulto está conotado com certas ideias: “assentar” – ter casa, formar família, fixar-se.
Se
formos honestos, perguntaremos: quantos jovens podem, hoje na “nova” crise, reunir estas “qualidades” todas?
Quem tem um emprego, pode. Quem não tem um emprego seguro, não pode.
Quem tem um emprego, pode. Quem não tem um emprego seguro, não pode.
“Hoje ninguém espera trabalhar para o mesmo
empregador, na mesma cidade, toda a sua vida”, lamentam esses mesmos jovens. Se calhar, reconhecendo que isso pode ser também uma libertação da "escravatura" moderna...
Os tempos da “obsessão” de comprar casa, possuir um lugar seu, deixou de existir. Pura e simlesmente, deixaram de ter sentido nesta sociedade mutável e frágil.
Os tempos da “obsessão” de comprar casa, possuir um lugar seu, deixou de existir. Pura e simlesmente, deixaram de ter sentido nesta sociedade mutável e frágil.
Muitos
daqueles que as compraram -e ficaram de repente sem trabalho- foram corridos
das casas que estavam a pagar e deixaram de o poder fazer. E muitos não ficaram
na rua porque voltaram para casa dos pais.
Comprar uma casa?, repito a pergunta. Quem não tem a certeza de ter um emprego fixo, e receia que o mudem de terra, prefere “antecipar” e limita-se a alugar um apartamento de onde poderá sair rapidamente quando o “deslocarem”.
Comprar uma casa?, repito a pergunta. Quem não tem a certeza de ter um emprego fixo, e receia que o mudem de terra, prefere “antecipar” e limita-se a alugar um apartamento de onde poderá sair rapidamente quando o “deslocarem”.
Quantos partiram mesmo à procura de melhor vida? De uma situação de vida em que houvesse dignidade.
Criar
família? Ter filhos sai caro. Mães e avós ou vivem longe ou trabalham fora de
casa – com ordenados pequenos tantas vezes- e os infantários custam os olhos da
cara, mais a renda e mais a prestação do carro.
Alguns dirão: “para que têm carro? Eu cá só tive quando já era bem crescido…" E bla bla. E lá vão eles, embalados, a criticar os que são novos.
E eu limito-me a perguntar: e como vão para o trabalho sem meios de transporte disponíveis para os levarem, às horas em que entram e saem dos empregos?
Vettriano, Dias Felizes
Alguns dirão: “para que têm carro? Eu cá só tive quando já era bem crescido…" E bla bla. E lá vão eles, embalados, a criticar os que são novos.
E eu limito-me a perguntar: e como vão para o trabalho sem meios de transporte disponíveis para os levarem, às horas em que entram e saem dos empregos?
Ter filhos? A verdade é que ter um filho “excede” o budget
de uma jovem família e, para o terem, ficam à espera de melhor emprego, do aumento que
nunca vem – e os filhos vêm cada vez mais tarde, até
desistirem de os ter.
“Não querem ter filhos que não possam educar
convenientemente”, explica um dos tais jovens.
Quais as razões desta desconfiança toda? E – bem mais importante, ainda : quais as soluções?
Se é que as há. Como
eterna optimista que sou, acho que existem soluções. Basta ajudarem-nos a quererem escolhê-las. ~
Não é, com certeza, empurrando milhares de jovens a sair do país à procura do "eldorado" que o problema se resolve. Nem com a falta de emprego. Nem com a austeridade. Nem com a pobreza que grassa.
Para começar, vamos pensar sobre o assunto, porque nada pior do que não pensar, e não querer "mudar" as ideias quando haja motivo para isso.
Não é, com certeza, empurrando milhares de jovens a sair do país à procura do "eldorado" que o problema se resolve. Nem com a falta de emprego. Nem com a austeridade. Nem com a pobreza que grassa.
Para começar, vamos pensar sobre o assunto, porque nada pior do que não pensar, e não querer "mudar" as ideias quando haja motivo para isso.
De ideias feitas e lugares-comuns, está o inferno cheio! Com isso, não vamos a lado nenhum, nem sozinhos nem acompanhados!
Continuaremos a falar deste assunto, durante o ano que entrou! Bom
Ano Novo!
Uma otima reflexao aqui trazida pela MJ. Como primeira reacao, sucinta, digo apenas que a culpa e dos adultos. A insustentavel leveza do ser...
ResponderEliminarBom Ano!
Não lhes chamaram a "geração perdida"? O que esperavam então, o que têm de atractivos os modelos caducos que levaram a este beco sem saída?. O futuro sempre é dos jovens, eles conformarão um mundo novo, espero que melhor que este que lhes propomos. Cheio de frescura e imaginação, assim é como quero imaginá-lo!
ResponderEliminarBeijinhos, que tenhas um Bom Ano
Uma lúcida reflexão. A vida não está fácil e não o está para os jovens também. Eu acredito que muitos jovens querem trabalhar, querem ter uma vida "normal", mas não têm condições. Eu acho que não é uma geração perdida, é talvez uma geração que foi muito mimada e agora vê-se a braços com um país empobrecido e que não lhes dá condições de se sustentarem e de sustentarem uma família.
ResponderEliminarGostei do músico com o tambor!
Um beijinho grande:)