sexta-feira, 15 de abril de 2016

Ainda a literatura policial e Vincent Peillon......

Ainda a Literatura Policial (II)

No último "L'Obs"  que comprei (de 31 de Março a 6 de Abril) encontrei uma entrevista a um neo-escritor de livros policiais. 
Trata-se de Vincent Peillon que, por acaso, é um filósofo, foi deputado, professor de Filosofia, Ministro da Educação em França -já com Hollande-, escreveu ensaios sobre Merleau-Ponty (L’épaisseur du cogito) ou La tradition de l'esprit, e sobre a reforma do ensino. 

É parlamentar europeu, membro da Comissão dos Negócios Estrangeiro, no Parlamento Europeu. E professor na Universidade de Neuchâtel.

Apreciador de romances policiais (Auguste le Breton, Albert Simonin e os ‘rififis’ todos, diz). Também eu os li todos os 'rififis' e os "touchez pas au grisbi" e "le cave se rebiffe"...




E até comprei um dicionário de "argot" para entender esse vocabulário de "calão" tão especial: "rififi", "le cave", "grisbi", "frangin/frangine", etc
Vincent Péillon publicou o seu primeiro livro policial, intitulado "Aurora". As perguntas do entrevistador, François Forestier, incidem sobre a sua vida político-policial.
Por que razão  uma pessoa como ele escreveu um thriller? Trata-se de um polar de intervenção? Ficção ou  realidade? As respostas são directas.

“Os problemas são os mesmos. A realidade que se persegue é a mesma. (…) sob a forma de romance policial, posso atingir outras pessoas, usando outras  técnicas, mas o conteúdo é o mesmo que analisei noutros livros e noutros lugares: crime organizado, tráfico de órgãos, a podridão do mundo.

Escrever livros policiais é uma fuga?
"Escrevo este livro para clarificar as coisas. É mais simples saber quem são os inimigos, indivíduos e nações, escrevendo. (…) É preciso pormo-nos a questão de saber quem deve fazer reinar a ordem – e deverá mesmo existir uma ordem? 

Na nova desordem mundial, temos a impressão de que o Ocidente  já não sabe o que quer. O que nos cria problemas enormes. Hesitações, confusões ideológicas, infiltrações…”

Por exemplo?
 “Neste livro, os soldados devem fazer, por vezes, coisas horríveis e depois vão ser sacrificados. Há quem queira convencer-nos de que a paz existe, mas, na realidade, a guerra continua.”

O "polar" fala da vida e dos problemas da sociedade.
O ‘polar é o local dos grandes temas da vida: inocência, culpabilidade, lealdade, traição, coragem, covardia – temas que se encontram presentes na vida política e sobre os quais reflecti como filósofo muitas vezes.

Vincent Peillon leu muito Chandler e Hammett e Cain - onde os problemas sociais e morais são debatidos seriamente e com honestidade, sob uma capa de ‘diversão’ ou pseudo-alheamento da vida quotidiana.

A literatura de hoje:
A literatura que hoje se escreve não me atrai, pelos assuntos: psicanálise, taras, divórcios. Quis outros mundos! Nos policiais, há muito mal, muita perversidade, mas os Justos ganham. Pensei chamar ao livro Tikkun –palavra hebraica que na mística judaica significa ‘reparação do mundo’. A justiça deve existir, a vingança não.”
E acrescenta: "Não suporto os escritores que se põem a contar os seus divórcios!"

Por quê escrever este livro agora?
“Comecei-o há 35 anos. Era jovem e trabalhava na companhia francesa de Wagons-Lits entre a França e a Dinamarca. Na estação de Copenhaguen, conheci um varredor que se chamava Carlo e trazia uma gravata com a estrela de David. Falámos muito e ele influenciou-me. Creio que me inspirei nele, Foi talvez para ele que escrevi o livro.”

Indignação? Nota-se no livro.
Sim, cólera diante do estado do mundo. É um bom modo de compreensão aliar a indignação à compaixão.”

Gostei! Senti-me de acordo com o que diz sobre o estado do mundo e a indignação.
Tikkun? Reparação do mundo? De facto, como seria bom poder “reparar o mundo de hoje”!

1 comentário:

  1. Ontem à noite ainda passei por aqui, mas não deixei comentário, porque o meu computador anda irritantemente lento e volta-não-volta bloqueia. Anda completamente parvo! Tenho que o levar ao "médico"!

    Gosto do novo cabeçalho, com florinhas miúdas.

    Um beijinho grande e um bom fim-de-semana...chuvoso:( :( :(

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