Raymond Chandler
alguns livros de Raymond Chandler, na colecção Vampiro
Ouvir:
http://www.youtube.com/watch?v=I5XHmblowyY
(Homenagem musical do grupo de rock britânico, Robyn Hitchcock & The Egyptians, a Raymond Chandler, canção intitulada Raymond Chandler Evening, do álbum de 1986, Element of Light)
Todos os livros de Raymond Chandler me interessam, direi mesmo que me empolgaram e me deram um prazer enorme ao lê-los.
A propósito desse prazer da leitura, lembro o que o que diz Chandler em The Simple Art of Murder (ensaio muito inteligente sobre literatura policial). Referindo-se a Dorothy Sayers -que teria afirmado que a literatura policial nunca poderia atingir o nível da outra literatura porque é uma "literatura de evasão" e não "literatura de expressão"-, Raymond Chandler responde, simplesmente: "(...) essas designações pertencem a um gíria ligada a certa crítica, são palavras abstractas sem grande sentido. (...) Todos os temas dependem de quem escreve, e do que se tem dentro de si para os escrever. Tudo o que é escrito com vitalidade exprime vitalidade; não há assuntos estúpidos, há apenas espíritos estúpidos. Todos os homens que lêem se evadem de qualquer coisa refugiando-se no que está escondido por detrás das páginas impressas; a qualidadedo sonho pode ser contestada, mas os seus efeitos passaram a ser uma necessidade funcional. Todos os homens precisam de se evadir às vezes do ritmo mortal dos seus pensamentos secretos. Faz parte do processo de vida dos seres pensantes. Não considero de modo nenhum as histórias policiais como a evasão ideal. Apenas digo que tudo o que se lê por prazer é evasão, sejam os Gregos, a matemática, a astronomia, Benedetto Croce, ou o Diário do Homem Esquecido. Afirmar o contrário é ser-se um intelectual snob e um imaturo na arte de viver"(1)
Como dizer qual o melhor? Aquele cuja leitura me deu maior prazer? O mais amado?
Talvez O Imenso Adeus? (The Long Good-bye)
capa da edição brasileira, intitulada O Longo Adeus
O Imenso Adeus
O Imenso Adeus é, sem dúvida, para mim, um dos maiores romances da literatura policial americana de todos os tempos. E um grande livro tout court. Pela riqueza humana, profundidade psicológica, verdade das personagens e qualidade da escrita. Tudo isso. E, seguramente, um dos melhores do género de que Chandler foi um dos fundadores (o género policial série noir baseado na pulp fiction), com escritores como Dashiell Hammett, outro grande escritor.
Hesito muitas vezes escolher entre os dois: qual o melhor? O mais profundo? Ambos trazem agarrado nos seus livros o drama da humanidade em todos os pormenores.
No centro da trama do livro referido, está Philip Marlowe, o detective emblemático da literatura de Chandler, do período da recessão americana, que o próprio Chandler viveu (estava desempregado) no qual ambienta as suas novelas.
Nunca me esqueci que um dos seus contos começa assim: "Naquele ano até tive de andar de autocarro..." Ele, que andava sempre no seu Chrysler azul...
(A edição portuguesa d' O Imenso Adeus tem uma tradução muito boa de Mário Henrique Leiria, e uma capa -linda- de Cândido Costa Pinto.)
E, voltando a O Imenso Adeus, a intriga é complexa, mas o estilo é -aparentemente- simples. Tudo começa quando Philip Marlowe encontra Terry Lennox, bêbedo, no estacionamento de um night club e decide ajudá-lo.
A abertura do romance revela um grande escritor, aqui vai:
O Imenso Adeus é um clássico sobre a solidão e a amizade. Philip Marlowe e o enigmático Terry Lennox são as personagens centrais deste romance profundo e brilhante que lhes aconselho a ler...
O Grande Sono (O Sono Eterno)
A história de The big Sleep é considerada pela sua complexidade e fortemente influenciada pela tragédia grega, com várias personagens que se atraiçoam e muitos segredos que se vão descobrindo através da narrativa. O título (O Sono Eterno, 1939) pode ser uma metáfora de morte.
É a primeira aparição do detective privado, "private eye", Philip Marlowe.
Numa Los Angeles, mergulhada na depressão, Marlowe – detective particular que "trabalha por 25 dólares diários mais as despesas” – recebe a incumbência de um velho milionário: descobrir o autor das chantagens dirigidas a sua filha. Ao aceitar o caso Marlowe, encontra muito mais: homicídios, extorsão, jogo, droga e pornografia.
Chandler começou a ser publicado pela revista Black Mask, muito popular, a mais importante revista americana no campo da ficção policial "série noire" -que, também, publicou as histórias de Dashiell Hammett.
capa do livro em português:
Perdeu-se uma Mulher
Livro de um grande romantismo, poesia, na sua tradução portuguesa, chama-se Perdeu-se uma Mulher e tem uma capa bem sugestiva de Lima de Freitas.
Neste romance, o detective particular Philip Marlowe, necessitando uma vez mais de dinheiro, acaba por aceitar trabalhar num caso para o enorme (é quase um gigante), e pouco inteligente, gangster Moose Malloy, recém-saído da prisão. Malloy procura a sua antiga namorada, Velma, de quem não tinha há anos.
Marlowe investiga e descobre a morada da viúva, alcoolizada e velha, do ex-patrão de Velma, e consegue uma fotografia dela. E, a partir daí, começa mais uma acidentada aventura, em que os crimes, o mistério e o perigo são as constantes.
Teve duas versões cinematográficas, a primeira realizada por Edward Dmytryk, intitulada: Murder, my Sweet, 1946, com Dick Powell e Claire Trevor nos principais papéis e Farewell, my lovely, 1975, filme de Dick Richards, com Rober Mitcum e Charlotte Rampling ( e com uma intervenção fantástica de Shirley Temple, no papel da velha alccolizada).
Murder, My Sweet é a primeira versão tirada do livro Farewell My Lovely, por Edward Dmytryk (1946), com Dick Powell e Claire Trevor
Farewell my lovely é a versão cinematográfica mais recente, de Dick Richards (1975), com Robert Mitchum e Charlotte Rampling nos papéis de Marlowe e de Velma.
The High Window
capa da 1ª edição americana do livro The High Window
The High Window
A história começa quando Mrs. Murdock contrata um detective privado, Marlowe, para descobrir onde pára uma moeda rara, the Brasher Doubloon, que pertencera à colecção falecido marido
Marlowe inicia a investigação e logo se encontra metido numa série de homicídios inexplicáveis, acabando ele a fazer psicanálise ao assistente de Mrs. Murdock, do filho e dela própria... Porque Marlowe gosta de ir ao fundo do problema, "perceber"as causas, quer saber o que se passa na (alma) natureza humana, o porquê de uma atitude, tendo, para isso, que descobrir todas as peças do puzzle e pô-las no lugar certo.
Muito mais haveria a contar sobre os livros e sobre a biografia de Chandler: a Grande Depressão, o alcoolismo e absenteísmo, as tentativas de suicídio que levam à sua demissão de uma grande empresa, o seu começo na literatura policial, os contos que, insatisfeito, mais tarde desenvolveu e transformou em romances.
(Raymond Chandler, The Simple Art Of Murder)
Disse Erle Stanley Gardner que Raymond Chandler "foi uma estrela de primeira grandeza".
Também lhe chamaram "bêbedo de classe internacional"...
(*)Nota: tentativa de tradução da frase: “Por estas ruas violentas (mean é tão difícil de traduzir...), um homem que não é violento tem de seguir em frente, mas sempre sendo um homem sem mácula, e sem medo".
Músicas escolhidas para ouvir hoje...
Lou Reed, A walk on the wild side (com Raymond Chandler está-se sempre no "wild side")
http://www.youtube.com/watch?v=TceFKz2DZ9M
Brian Ferry, As Time Goes By (por causa do Humphrey Bogart...)
http://www.youtube.com/watch?v=zHG2LJGfEdw
Tom Robinson, Glad to be Gay (porque sempre gostei desta canção!)
http://www.youtube.com/watch?v=zHG2LJGfEdw
Brian Ferry, You do something to me (porque o Marlow também é romântico)
http://www.youtube.com/watch?v=7eEgaiGxqEQ
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