quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Espelho mágico, quem é a mais bela do Reino?




Penso em Simone Signoret...

Tão especial, tão diferente o seu tipo de beleza. Actriz capaz de todos os papéis, porque inteligente e sensível.

E bela! Porque inteligente é ainda mais bela. Há muitas teorias. Há burras que também são belas. E depois, que importa?

Chamava-se Simone Henriette Charlotte Kaminker e nasceu na Alemanha Wiesbaden, em 25 de Março de 1921. Morreu na Normandia, em 30 de Setembro de 1985.


O que diz a sua biografia?... 

Era filha de pai judeu, francês, intérprete pioneiro naqueles tempos que trabalhou na Liga das Nações. Tendo fugido da Alemanha, refugia-se com a família em França. 
Pai judeu de ascendência polaca, pois, e mãe francesa católica. 
Viveram em Neuilly-sur-Seine.

Simone Signoret cresceu no ambiente dos intelectuais da Paris moderna dos anos 30 e 40, e estudou línguas, sobretudo inglês e latim, tirando uma licenciatura e ensinando alguns anos. 

Trabalhou ao mesmo tempo como dactilógrafa.

Da vida de actriz, sabemos todos um pouco mais.


Dos filmes que lembro, recordo a sua beleza, os olhos profundos e inteligentes:  "Les visiteurs du soir", de Marcel Carné (1942); "Le voyageur de la Toussaint" (1943, de Louis Daquin, tirado de Georges Simenon), com Jean Desailly e Serge Reggiani, onde ela passa de corrida.
Ou, depois,  "La boite aux rêves", de Yves Allégret (1945); “Macadam”, 1946, de Marcel Libènes; “Dédé d’Anvers”, de Yves Allégret (1947); o maravilhoso “Casque d’or”, de Jacques Becker (1951); “Les diaboliques”, de Henri-Georges Clouzot (1954).

Um dia começou a ser conhecida - talvez com o filme do grande Marcel Carné,  e continuou com Dédé d'Anvers, ou Casque d'or e por aí fora. Não era só bonita: era uma actriz muito boa e sabia dar vida a qualquer figura.



Em 1960, ganhou o Oscar da melhor actriz num filme do americano Jack Clayton, "Room At the Top".


Casou uma vez, duas vezes, três vezes. Não importa com quem. Ela é que era importante. 

Fez filmes inesquecíveis: ela era a figura da "resistência" francesa, a lutadora, a mulher forte. Ela, forte?
Escreveu um livro de memórias: La nostalgie n'est plus ce qu'elle était, título melancólico, nostálgico afinal, de quem tem saudades da "sua " nostalgia, a de outros tempos. 

Título desencantado também.

Talvez se sentisse velha, infeliz. Bebia muito e tinha envelhecido mal, mas continua a ser a grande Signoret. 

A Simone Signoret dos papéis amargos, do tempo perdido, da necessidade que temos de nos magoar, filmes tristes e sem esperança. Porque tudo passou 
Como "Le Chat" (1971), de Pierre Garnier- Defferre,com Jean Gabin.

O enredo é tirado do romance homónimo de Georges Simenon - que tão bem soube falar da vida das gentes que se amam, se procuram e se rejeitam.
E é um dos filmes mais dolorosos sobre a velhice e "les amours morts", no ressentimento de não terem sido capazes de manter esse amor a outro nível: Vivo, quente, cheio de ternura. 

Um filme que magoa, rasga a alma de quem vê aquela "luta" de gigantes. Até à  morte. O primeiro a morrer é o gato (nota  humorística, para "distender" do dramático da história!...) Aqueles dois actores são "imparáveis" e os rostos deles, os gestos, os olhares gravam-se-nos na memória.



Escreve. A necessidade de se contar leva-a a escrever a tal  Nostalgie n’est plus ce qu’elle était, em  1975, espécie de “outro lado do espelho” da sua vida, da sua carreira, sem maquilhagem, a nu. 


Grande sucesso. Todos gostam de ver "por dentro" os actores. Gostam de espreitar do lado de lá do espelho mágico. E o que há do lado de lá? "Vanitas vanitatis et omnia vanitas" 

Ainda escreve a continuação do livro, em 1979, mas já com menos sucesso "Le lendemain elle était souriante". 

Em 1985, sai o livro de despedida, “Adieu Volodia”.

O pano cai.

Como dizia o nosso grande Cesário Verde:

"Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes
Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco..." 

(in Sentimento de um Ocidental)

Nesse ano, Simone Signoret desaparece também. Morre em Antouillet, na Normandia. 
Está enterrada no Père Lachaise, em Paris.
Ieronimus Bosch

Vanitas vanitatis et omnia vanitas? O Triunfo da Morte? E depois? Foi bela e nós gostámos da beleza dela!



3 comentários:

  1. De Simone Signoret se podía falar durante horas, como actriz, como escritora, como defensora dos direitos humanos, como mulher — e tudo em superlativo. A mim sempre me fascinou, tinha um olhar e uma voz que nunca perdeu, nem com a idade nem com os kilos demais.Fantástica.

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  2. Era uma mulher muito bela. Às vezes mulheres muito belas (e homens, certamente) têm dificuldade em aceitar que envelhecem e que perdem parte do seu encanto, mas eu acho que há muitas pessoas muito belas, que sabem envelhecer e continuam muito charmosas e atraentes, mesmo se ganharam rugas e cabelos brancos.
    Gosto de ler biografias e diários. Um pouco de "bisbilhotice" para ver do lado de lá do espelho...
    Gostei muito do seu post.
    Um beijinho grande

    (Hoje, por coincidência, coloquei uma canção de Jean Gabin)

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