sexta-feira, 10 de maio de 2013

Graham Greene, Carol Reed e O Terceiro Homem!


Releio O Terceiro Homem (1), de Graham Greene. Pensando bem creio que talvez só me lembrasse do  filme. O que não admira pois, de facto,  o livro só existiu para se tornar num filme.
Graham Greene

Escreve  Graham Greene, no Prefácio

O Terceiro homem não foi escrito para ser lido, mas para ser visto. Tal como muitos amores, começou a uma mesa de jantar e continuou, com muitas dores de cabeça, em vários locais: Viena; Veneza, Ravelo; Londres, Santa Mónica.
Suponho que a maior parte dos romancistas trazem na cabeça ou em blocos de apontamentos as primeiras ideias para histórias que nunca chegam a ser escritas.”



Depois, de repente, essa ideia é recuperada, muitas vezes simplesmente porque se encontra um papelinho guardado com uma frase que nos pareceu importante na altura! É o que acontece a Green: nas costas de um sobrescrito, encontra um parágrafo de abertura: 

Despedira-me de Harry havia uma semana quando o seu caixão foi descido no solo gelado de Fevereiro, e foi portanto com incredulidade que o vi passar, sem um indício de reconhecimento, entre o enxame de gente na Strand.”

"(...) É-me impossível escrever um argumento para um filme sem primeiro escrever uma história...
Sir Alexander Korda

Assim, quando Sir Alexander Korda (com quem trabalhara antes, no guião do filme Fallen Idol – O Ídolo caído, 1948, em que Reed também participa) o convida para escrever um guião para o realizador Carol Reed, lembra-se destes apontamentos para o seu “herói”.

Carol Reed




Nada mais tinha para lhes oferecer do que este parágrafo”. (...)Eu e Carol Reed trabalhámos conjuntamente, calcorreando muitos metros de alcatifa, por dia, representando cenas uma ao outro.”

Green dedica o livro ao realizador Carol Reed, com as palavras: 

"Para Carol Reed, 
com admiração  e afecto 
e em memória
 de muitas horas matinais
 passadas no Maxim’s,
 Casanova  e Oriental.”


O livro começa, simplesmente: 

“Nunca sabemos quando o golpe vai cair. Quando vi Rollo Martins pela primeira vez, tomei uma nota sobre ele para os meus arquivos policiais: 

Em circunstâncias normais um pateta inofensivo. Sempre que vê uma mulher, olha-a atentamente e faz alguns comentários, mas parece-me que, na verdade, ele quer é que o deixem em paz. Nunca chegou a crescer, e talvez isso explique a sua admiração por Lime'”. 



Continua:

Escrevi a frase 'circunstâncias normais' porque o meu encontro com ele deu-se no funeral de Harry Lime. Estávamos em Fevereiro e os coveiros do cemitério central de Viena tiveram de usar brocas eléctricas para abrir uma cova no solo gelado. Parecia que até a natureza tentara rejeitar Lime, mas por fim lá ficou sepultado. (...) Rollo Martins afastou-se rapidamente, como se as suas pernas compridas quisessem desatar a correr, enquanto pelo seu rosto de trinta e cinco anos corriam lágrimas de criança. Rollo Martins acreditava na amizade.”

Não vou contar a história, claro. Uma intriga de espionagem, na Viena destruída e nevoenta do pós-guerra, dividida e ocupada por quatro potências: a russa, a francesa, a inglesa e a americana. Num clima de espionagem e de "suspense" característicos da recém-iniciada "guerra fria"...



Quem era Harry Lime? O que fez Rollo Martins?

Sobre este último diz ainda o autor: "Rollo Martins acreditava na amizade, e foi por isso que os acontecimentos posteriores o chocaram muito mais do que vos teriam chocado a vocês ou a mim (...). Se ao menos ele tivesse vindo falar comigo, muitos problemas se teriam evitado.”

O encanto foi lançado! Quem não tem vontade já de entrar neste mundo mágico? De saber o que se passou com Harry Lime ou por que razão Rollo Martins se chocou tanto com os "acontecimentos posteriores"?


Nascido em Inglaterra em 2 de Outubro de 1904, Graham Greene  morre na Suíça, me Vevey, a 3 de Abril de 1991.


Estudou História na Universidade de Oxford, trabalhou como jornalista, a partir de 1926, foi repórter e sub-director do jornal The Times.



O primeiro livro que escreveu intitulava-se  “Stamboul Train” (O Expresso do Oriente),  e sai em 1932. É o primeiro de uma série imensa. Dos quais gosto muito e vos aconselho!


Para começar, O Terceiro Homem. Depois todos os outros! 

Com um pensamento especial para "Brighton Rock", livro terrível - de que também existe um filme...


Sobre o filme: 

http://youtu.be/EFLiojz_05w

"O Terceiro Homem": 

Filme britânico, realizado por Carol Reed, em 1949, com Orson Welles, Joseph Cotten, Alida Valli e escrito por Graham Greene e Alexandre Korda.

Interessante saber que a música (depois, famosa) do filme, foi criada por Anton Karas um músico de origem húngara que tocava cítara num "beergarden" de Viena. 
"beer"na janela, foto de MJF


Carol Reed ouviu-o e quis que ele fizesse a música do filme! 
cítara


Liebermann, Beergarden



Anton Karas e a sua cítara



2 comentários:

  1. Li "O Americano Tranquilo", "O nosso agente em Havana"... agora não me recordo de mais títulos.
    Gostei sempre dos elencos que ele criou.
    Beijinhos.:)

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  2. Este é um belo livro, porque ele é sempre bom! O filme é um dos clássicos de sempre! Se não viu, tem de ver! Se tivesse o DVD emprestava-lho!
    Bom fim de semana

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