Jean Metzinger, "Pássaro Azul" (1912)
A juventude que parte, é um problema insolúvel? Não sei, não
posso adiantar uma resposta, não tenho os dados necessários para fundamentar
uma opinião.
Mas sei que partem à procura do "pássaro azul", ou apenas do simples "pão" - e nunca mais voltam à terra – a "nós".
Frederick Watts, Retrato da mulher, Ellen
Ao país
que é nosso e que precisa deles, do seu saber, para não desaparecer no matagal da ignorância, do pasmo desistente e quase embrutecedor dos que vão ficando.
Sim, dos que ficam e não se atrevem a exigir mais, dos que ficam e, com receio de tudo perder, aceitam todos os trabalhos, aceitando a humilhação dos ordenados
vergonhosamente baixos.
Porque as lojas vão desaparecendo, uma a uma e nada é seguro como trabalho.
Dos que ficam, jovens licenciados, “caixas” nos supermercados,
pagos abaixo de todos os preços decentes, com um horário de trabalho que excede
as horas devidas, muitas vezes a limpar, a varrer e a lavar o local de
trabalho, saindo perto da meia noite.
Locais onde o "patrão-dono-empresário" os
emprega “também” como funcionários de limpeza sem lhes pagar mais por isso.
Algures, em Inglaterra, as lojas não fecham.
"Eu se, tu sabes, ele sabe, nós sabemos" ... podíamos conjugar o verbo todo! Mas ninguém diz nada, a começar
pelos próprios empregados que preferem nem falar nisso.
Queixam-se, mas depois pedem-nos: “Ah, não diga nada, ainda seria
pior, porque perdíamos o lugar. Aqui ainda ganhamos o ordenado mínimo.”
Ou menos do que isso, também sabemos todos. Ter um
trabalho, nos dias de hoje, é um luxo e não um direito. E, por essa razão, torna-se mais fácil explorar os que têm necessidade de trabalhar...
Uma loja ainda aberta...
... numa cidade em que, na rua principal, tudo fechou: Portalegre!
O desemprego mete medo, é uma avalanche que não pára de rolar! O trabalhador não conta, não tem direitos...
E não se rebelam?, aceitam tudo? Sim. Porque não têm outro remédio. Têm que ajudar com "alguma coisinha" os pais que os albergam, têm de comer, e assim ainda
podem ir pagando a prestação do carro, comprado em tempos melhores.
A vida transformou-se numa partida de xadrez, sem solução nem fim, com o futuro...
Vieira da Silva, "Partida de Xadrez"
Ou, então, começam a acalentar no peito o sonho de partir... E pensam, pensam. E fazem contas. E...fazem-nos tanta falta cá!, repito.
Renoir, "La Grenouillère"
"Pensador", de Raul A. Marques
Desemprego. Desespero. Desigualdade. Desistência. Exclusão. Humilhação. Injustiça.
Só acontece por cá? Não. Sabemos que é um “movimento global”.
Li no jornal Le Monde, a propósito da
França, o seguinte que nos serve como uma luva:
“Dum lado, temos a 'élite' mais bem formada do mundo (sic, a
francesa claro), e, por outro lado, vamos fabricando a exclusão no emprego. O
sistema educativo reprodutor de desigualdades sociais, tem uma parte das
responsabilidades. (...) Ela (a escola) parece reproduzir gerações de excluídos
ou de exilados. Tudo em detrimento do que deveria ser: o viver juntos, com um
destino colectivo.” (editorial do Le Monde
de 7 de Janeiro deste ano).
O belo quadro de Abel Salazar "Galleries Lafayette"
Faço minhas estas ideias e continuo a não compreender: se se
fabricam gerações de sem esperança, de excluídos – ou de exilados- então alguma coisa está mal...
George-Frederick Watts, "Pobreza"
Como podemos acreditar ainda num mundo que funciona assim? Ter esperança?
Frederick Watts, "Esperança"
Não seria o momento de se pôr em questão este modo de organizar a sociedade, por "exclusões" sucessivas.? E tentar repor, conquistar, exigir a tal possibilidade da harmonia desse "viver juntos"? Ter uma família? Ser-se ...normal?
Auguste Renoir, "Crianças" (1884)
Desse tão difícil "destino colectivo"? Ou, apenas, justo? O desespero é inevitável?
Jean-Jacques Henner, "Desespero"
Os "Iron Maiden", Solidão
Somos todos um bocado culpados, porque deixamos andar.
ResponderEliminarSomos uma sociedade egoísta do salve-se quem puder.
Vai ser muito difícil mudar...porque quem está no poder não quer mudar nada. É desesperante!
Tem algumas pinturas belíssimas no post, apesar de retratarem tristeza...
Um beijinho grande e boa semana :)
Isabel, querida! Acho que ainda vai ser do nosso tempo mudar! Tu dizes "Somos uma sociedade egoísta do salve-se quem puder", e é verdade até certo ponto. Ainda há quem o não faça: cada um por si, e, depois, todos juntos acho que ainda iremos a algum sítio! O governo (ou governos) só lá está (ou estão) se nós deixarmos...
EliminarBeijinhos e boa semana! Acho-te muito caladinha....
Caladinha...não...
EliminarÉ efeito deste tempo de Inverno, que já cansa!
Um beijinho grande :)
Aos que querem poupar-nos o esforço de pensar por nós mesmos, é urgente dizer-lhes que Não entre todos. eremos capazes? essa é a questão.
ResponderEliminarBeijinhos
Seremos capazes todos juntos de dizer NÃO? Pois é, isso era bom. Sozinhos não vamos a lado nenhum!!!
ResponderEliminarBeijinhos
Um dia seremos de novo crianças
ResponderEliminarMaria João,
ResponderEliminarÉ uma tristeza. Teve o condão de a contar rodeada de beleza.
Beijinho e lutemos...