domingo, 16 de fevereiro de 2014

O mundo de hoje...Que desgraça!


Jean Metzinger, "Pássaro Azul" (1912)

A juventude que parte, é um problema insolúvel? Não sei, não posso adiantar uma resposta, não tenho os dados necessários para fundamentar uma opinião.

Mas sei que partem à procura do "pássaro azul", ou apenas do simples "pão" - e nunca mais voltam à terra – a "nós". 
Frederick Watts, Retrato da mulher, Ellen

Ao país que é nosso e que precisa deles, do seu saber, para não desaparecer no matagal da ignorância, do pasmo desistente e quase embrutecedor dos que vão ficando.

Sim, dos que ficam e não se atrevem a exigir mais, dos que ficam e, com receio de tudo perder, aceitam todos os trabalhos, aceitando a humilhação dos ordenados vergonhosamente baixos.
Porque as lojas vão desaparecendo, uma a uma e nada é seguro como trabalho.


Dos que ficam, jovens licenciados, “caixas” nos supermercados, pagos abaixo de todos os preços decentes, com um horário de trabalho que excede as horas devidas, muitas vezes a limpar, a varrer e a lavar o local de trabalho, saindo perto da meia noite. 


Locais onde o "patrão-dono-empresário" os emprega “também” como funcionários de limpeza sem lhes pagar mais por isso.

Algures, em Inglaterra, as lojas não fecham.

"Eu se, tu sabes, ele sabe, nós sabemos" ... podíamos conjugar o verbo todo! Mas ninguém diz nada, a começar pelos próprios empregados que preferem nem falar nisso.

Queixam-se, mas depois pedem-nos: “Ah, não diga nada, ainda seria pior, porque perdíamos o lugar. Aqui ainda ganhamos o ordenado mínimo.”

Ou menos do que isso, também sabemos todos. Ter um trabalho, nos dias de hoje,  é um luxo e não um direito. E, por essa razão, torna-se mais fácil explorar os que têm necessidade de trabalhar...

Uma loja ainda aberta...


... numa cidade em que, na rua principal,  tudo fechou: Portalegre!

O desemprego mete medo, é uma avalanche que não pára de rolar! O trabalhador não conta, não tem direitos...



E não se rebelam?, aceitam tudo? Sim. Porque não têm outro remédio. Têm que ajudar com "alguma coisinha" os pais que os albergam, têm de comer, e assim ainda podem ir pagando a prestação do carro, comprado em tempos melhores. 

A vida transformou-se numa partida de xadrez, sem solução nem fim, com o futuro...

Vieira da Silva, "Partida de Xadrez"

Ou, então, começam a acalentar no peito o sonho de partir... E pensam, pensam. E fazem contas. E...fazem-nos tanta falta cá!, repito.

Renoir, "La Grenouillère"

"Pensador", de Raul A. Marques

Desemprego. Desespero. Desigualdade. Desistência. Exclusão. Humilhação.  Injustiça.

Só acontece por cá? Não. Sabemos que é um “movimento global”. Li no jornal Le Monde, a propósito da França, o seguinte que nos serve como uma luva:

 “Dum lado, temos a 'élite' mais bem formada do mundo (sic, a francesa claro), e, por outro lado, vamos fabricando a exclusão no emprego. O sistema educativo reprodutor de desigualdades sociais, tem uma parte das responsabilidades. (...) Ela (a escola) parece reproduzir gerações de excluídos ou de exilados. Tudo em detrimento do que deveria ser: o viver juntos, com um destino colectivo.” (editorial do Le Monde de 7 de Janeiro deste ano).

O belo quadro de Abel Salazar "Galleries Lafayette"

Faço minhas estas ideias e continuo a não compreender: se se fabricam gerações de sem esperança, de excluídos – ou de exilados- então alguma coisa está mal...

George-Frederick Watts, "Pobreza"

Como podemos acreditar ainda num mundo que funciona assim? Ter esperança?


Frederick Watts, "Esperança"

Não seria o momento de se pôr em questão este modo de organizar a sociedade, por  "exclusões" sucessivas.? E tentar repor, conquistar, exigir a tal possibilidade da harmonia desse "viver juntos"? Ter uma família? Ser-se ...normal?

Auguste Renoir, "Crianças" (1884)

Desse tão difícil "destino colectivo"? Ou, apenas, justo? O desespero é inevitável?

Jean-Jacques Henner, "Desespero"

Os "Iron Maiden", Solidão


7 comentários:

  1. Somos todos um bocado culpados, porque deixamos andar.
    Somos uma sociedade egoísta do salve-se quem puder.
    Vai ser muito difícil mudar...porque quem está no poder não quer mudar nada. É desesperante!

    Tem algumas pinturas belíssimas no post, apesar de retratarem tristeza...

    Um beijinho grande e boa semana :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Isabel, querida! Acho que ainda vai ser do nosso tempo mudar! Tu dizes "Somos uma sociedade egoísta do salve-se quem puder", e é verdade até certo ponto. Ainda há quem o não faça: cada um por si, e, depois, todos juntos acho que ainda iremos a algum sítio! O governo (ou governos) só lá está (ou estão) se nós deixarmos...
      Beijinhos e boa semana! Acho-te muito caladinha....

      Eliminar
    2. Caladinha...não...
      É efeito deste tempo de Inverno, que já cansa!
      Um beijinho grande :)

      Eliminar
  2. Aos que querem poupar-nos o esforço de pensar por nós mesmos, é urgente dizer-lhes que Não entre todos. eremos capazes? essa é a questão.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  3. Seremos capazes todos juntos de dizer NÃO? Pois é, isso era bom. Sozinhos não vamos a lado nenhum!!!
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  4. Maria João,
    É uma tristeza. Teve o condão de a contar rodeada de beleza.
    Beijinho e lutemos...

    ResponderEliminar