Uma leitura inesperada no momento que corre: o Afeganistão e as Cartas de Inglaterra” (1), de Eça de Queiroz, actuais como ele o é muitas vezes.
Falar do Afganistão parece ser agora -e como Eça refere no livro - um “humorístico logar comum” do século XVIII em que se afirmava que “A Historia é uma velhota que se repete sem cessar.”
Seja como for, este livrinho foi para mim uma descoberta magnífica porque, além de gostar imenso de ler o Eça, ainda pude descobrir muito do seu humor cáustico ou simples ironia a falar – não apenas do Afeganistão ou da Irlanda e da Índia - como também do eterno nariz empinado dos ingleses.
Os capítulos do livro são
variadíssimos, todos interessantes mas alguns especiais mesmo.
É um pequeno apontamento o que vos deixo “empurrando-os” para um pedaço de literatura ao modo “epistolar” de um escritor riquíssimo com uma mente aberta, crítica, irónica.
Começa assim o primeiro capítulo do livro:
“Os inglezes estão experimentando, no seu atribulado império da Índia, a verdade desse humorístico logar comum do século XVIII: “A Historia é uma velhota que se repete sem cessar”.
"O Fado ou a Providência, ou a Entidade qualquer que lá de cima dirigiu os episódios da campanha do Afghanistan em 1847, está fazendo simplesmente uma copia servil, revelando assim uma imaginação exhausta."
"Sacodem do 'serralho' um velho emir apavorado; colocam lá outro de raça mais submissa, que já trazem preparado nas bagagens, com escravas e tapetes; e, logo que os correspondentes dos jornaes têm telegraphado a victoria, o exército, acampando à beira de Arroios e nos vergeis de Cabul, desperta o correame, e fuma o cachimbo da paz... Assim é exactamente em 1880.”(2)
Algumas notas sobre a história do Afeganistão (3):
“O Afeganistão foi invadido muitas vezes ao longo da sua história e as suas fronteiras têm sido alvo de disputas e conquistas. O primeiro invasor foi Alexandre o Grande; depois pelos Árabes, sob a dinastia Abássida – causando a conversão da maioria dos seus habitantes ao Islão.
Mais recentemente os Estados Unidos. Esses interesses podem ter sido devidos à sua situação geográfico-estratégica no meio da Eurásia – para o controle da Ásia Central e dos seus recursos naturais. Historicamente a conquista do Afeganistão pelo Império Britânico teve um importante papel na invasão da Índia pelo Oeste, através do passo Khyber. ”
Não podemos dizer que o Afeganistão tenha tido uma história feliz ou tranquila. O que virá por aí ninguém o sabe.
Boa leitura! O Eça vale sempre a pena.
(1 )Eça de Queiroz, "Cartas de Inglaterra", Porto, Livraria Chardon de Lello & Irmão – Editores, 1905
(2) Segui a grafia da 1ª edição de 1905 de “Cartas de Inglaterra”, que leio.
(3)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Afeganist%C3%A3o
(4)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Invas%C3%B5es_do_Afeganist%C3%A3o
As Cartas de Inglaterra, crónicas que o Eça escrevia para a Gazeta de Notícias do Brasil quando era consul em Bristol, são realmente uma delícia, como absolutamente tudo o que saiu da sua pluma priveligiada.
ResponderEliminarFeliz semana, cheia de coisas boas!!
Numa época em que somos invadidos nos jornais nacionais por artigos de opinião sobre a tragédia do Afeganistão, sem qualquer interesse, vai-me saber bem ler este "Eça cronista", que nos oferece neste seu belo post.
ResponderEliminarUma boa semana e obrigado.
Rui Luís Lima