É um livro para crianças com uma história que pode dizer muita coisa aos adultos. Chama-se “Pfafunnnnnfumfum! A Bolota do Barroquinho” e é de Américo Rodrigues (1).
Gyora Gal Glupczynski
É a história de uma bolota que, num dia de grande ventania, cai do seu
carvalho muito alto e fica a rebolar no chão.
Quando cai ainda faz algumas tentativas para subir à sua árvore, mas depressa percebe que não pode voltar atrás. E pensa: “como posso subir à árvore se não tenho asas?”
E
tinha razão - era difícil sem asas. Curiosa, começou a olhar em volta. A bolotinha não conhecia nada se não a
sua árvore mas a verdade é que lá de cima vira muitas coisas. Não
se assustou e decidiu ir conhecer a vida, os bichos e as plantas e tudo o que a
rodeava. Ia seguir em frente!
E coisas estranhas começam a acontecer, porque a bolotinha queria saber coisas desconhecidas e aprender tudo: quem eram os animais que lhe apareciam? E viu que estavam também curiosos porque nunca tinham visto uma bolota assim.
Aquilo
que vai conhecendo, ajudada pelos pequenos animais do barroco - nunca sonhara
que existisse. Conhece um ouriço, uma formiga e até um lince. E o lince leva-a a viajar dentro da boca.
E,
como na vida dos homens que têm olhos e pensamento abertos, também às bolotinhas curiosas podem
acontecer coisas boas.
É verdade que o autor do livro, Américo Rodrigues (2), é um poeta, um homem de teatro, um viajante, um espírito aberto que consegue levar-nos a perceber que a vida pode ser poética, mesmo quando não parece.
Talvez porque ele não queira ser um homem-tudo - como num poema que escreveu.
Quer continuar em frente e ver a vida sem nunca considerar que "sabe tudo". No fundo não quer ser o
homem-tudo de que fala no seu poema "tudo" (3).
"homem imóvel
no meio do caminho
não é uma pedra
é um homem quieto
insuportavelmente parado
no meio do caminho
dos outros
......
homem paralisado
por receio de abrir
as narinas
ou mexer as pálpebras
os dedos crispados
contra as pernas
o homem que nada
quer saber
nada
o homem-tudo "
***
(1) Américo Rodrigues nasceu em 1961 e criou-se na Guarda onde estudou. Licenciado em Língua e Cultura Portuguesas, pela Universidade da Beira Interior, tem um Mestrado em Ciências da Fala e da Audição - pela Universidade de Aveiro. Poeta, foi também colunista em vários jornais e revistas, foi actor, homem de Teatro, encenador. Dirigiu o Teatro Municipal da Guarda de 2005 a 2013 e foi coordenador da Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço até 2018.
(2) Editora “Edições esgotadas” (2023), com desenhos de Gyora Gal Glupczynski.
(3) No livro DESMORONAMENTO, editado por SR TESTE Edições, colecção “Fulgor Quotidiano”, 2021, com desenhos de Maria Lino
Parece ser um livro muito especial e o seu autor também
ResponderEliminarTodos somos como bolotas que aterrizamos nesta vida. Se estivesse em espanhol, comprava para o meu neto, que de momento gosta de ler, o que vai sendo raro... Beijinhos
ResponderEliminarSaudações Mrs Falcão, amada, amiga e companheira além mares, das terras pátria irmã que outrora um dia com certeza, conhecerei. Mrs Lady day responde por uma parcela de amantes que si identifica consigo mesmo em todas as fases: cantando, vivendo e caindo nas garras do vícios e balizas de dependências. Amo Bille, respiro e curto sua obra e biografia. Uma vez mais solidarizo com sua perda, caminho contigo, hoje e sempre. Que as bênçãos do venerável Buda esteja em seu caminho. Namastê
ResponderEliminarBillie Holiday era uma mulher especial e uma cantora com uma voz sublime!
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