domingo, 7 de maio de 2023

"A Bolota do Barroquinho” um livro de Américo Rodrigues (1)

É um livro para crianças com uma história que pode dizer muita coisa aos adultos. Chama-se “Pfafunnnnnfumfum! A Bolota do Barroquinho” e é de Américo Rodrigues (1).

 
 Américo Rodrigues

E devo acrescentar que são lindos os desenhos de Gyora Gal Glupczynski.

 

 Gyora Gal Glupczynski

É a história de uma bolota que, num dia de grande ventania, cai do seu carvalho muito alto e fica a rebolar no chão.

Quando cai ainda faz algumas tentativas para subir à sua árvore, mas depressa percebe que não pode voltar atrás. E pensa: “como posso subir à árvore se não tenho asas?”

E tinha razão - era difícil sem asas. Curiosa, começou a olhar em volta. A bolotinha não conhecia nada se não a sua árvore mas a verdade é que lá de cima vira muitas coisas. Não se assustou e decidiu ir conhecer a vida, os bichos e as plantas e tudo o que a rodeava. Ia seguir em frente!

E coisas estranhas começam a acontecer, porque a bolotinha queria saber coisas desconhecidas e aprender tudo: quem eram os animais que lhe apareciam? E viu que estavam também curiosos porque nunca tinham visto uma bolota assim.

Os encontros dela não os vou contar. A nossa bolota, de olhos abertos, segue em frente sem medo, a confiar nos outros apesar de tão diferentes dela.

 

Aquilo que vai conhecendo, ajudada pelos pequenos animais do barroco - nunca sonhara que existisse. Conhece um ouriço, uma formiga e até um lince. E o lince leva-a a viajar dentro da boca.

É  muito interessante o uso de onomatopeias que o autor transforma na linguagem desses animais - ou vice-versa.

E, como na vida dos homens que têm olhos e pensamento abertos, também às bolotinhas curiosas podem acontecer coisas boas.

Ela lá vai viajando, viajando, até encontrar um homem pequenino que era da cor dela. E ele ajuda-a a decidir o seu destino. Há histórias tão simples e tão cheias de verdades. 

É verdade que o autor do livro, Américo Rodrigues (2), é um poeta, um homem de teatro, um viajante, um espírito aberto que consegue levar-nos a perceber que a vida pode ser poética, mesmo quando não parece. 

Talvez porque ele não queira ser um homem-tudo - como num poema que escreveu.

 Quer continuar em frente e ver a vida sem nunca considerar que "sabe tudo". No fundo não quer ser o homem-tudo de que fala no seu poema "tudo" (3).

"homem imóvel

no meio do caminho

não é uma pedra

é um homem quieto

insuportavelmente parado

no meio do caminho

dos outros

......

homem paralisado

por receio de abrir

as narinas

ou mexer as pálpebras

os dedos crispados

contra as pernas

o homem que nada

quer saber

nada

   o homem-tudo "

***

(1) Américo Rodrigues nasceu em 1961 e criou-se na Guarda onde estudou. Licenciado em Língua e Cultura Portuguesas, pela Universidade da Beira Interior, tem um Mestrado em Ciências da Fala e da Audição -  pela Universidade de Aveiro. Poeta, foi também colunista em vários jornais e revistas, foi actor, homem de Teatro, encenador. Dirigiu o Teatro Municipal da Guarda de 2005 a 2013 e foi coordenador da Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço até 2018.

     Foi-lhe atribuído o 'Prémio Gazeta de Jornalismo Regional' e o 'Prémio  Nacional de Jornalismo Regional'. Em 2010, recebeu a medalha de mérito cultural atribuída pelo Ministério da Cultura. Hoje é Director Geral das Artes no Ministério da Cultura.

(2) Editora “Edições esgotadas” (2023), com desenhos de Gyora Gal Glupczynski.

(3) No livro DESMORONAMENTO, editado por SR TESTE Edições, colecção “Fulgor Quotidiano”, 2021, com desenhos de Maria Lino

4 comentários:

  1. Parece ser um livro muito especial e o seu autor também

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  2. Todos somos como bolotas que aterrizamos nesta vida. Se estivesse em espanhol, comprava para o meu neto, que de momento gosta de ler, o que vai sendo raro... Beijinhos

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  3. Saudações Mrs Falcão, amada, amiga e companheira além mares, das terras pátria irmã que outrora um dia com certeza, conhecerei. Mrs Lady day responde por uma parcela de amantes que si identifica consigo mesmo em todas as fases: cantando, vivendo e caindo nas garras do vícios e balizas de dependências. Amo Bille, respiro e curto sua obra e biografia. Uma vez mais solidarizo com sua perda, caminho contigo, hoje e sempre. Que as bênçãos do venerável Buda esteja em seu caminho. Namastê

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  4. Billie Holiday era uma mulher especial e uma cantora com uma voz sublime!

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