Encontrei no Nouvel Observateur da semana passada uma notícia que me passara despercebida: o filme “Indignados”, tirado da obra do mesmo nome de Stéphane Hessel, participou no Festival de Berlim, em Fevereiro.
O artigo, assinado por Anne Grignon, refere a entrevista que ela fizera a Tony Gatlif, o conhecido realizador de "Latcho Drom", "Gadjo Dilo" e outros, focando a realidade dos "Roms" através do mundo..
Entusiasmado com o tão falado livro de Hessel, traduzido pelo mundo fora e inspirador de movimentos de protesto –os “indignados” da Puerta del Sol, e pelo mundo-, Gatlif, decide nesse momento mesmo comprar os direitos do livro - para adaptação cinematográfica.
“Nunca se sabe...”, pensou.
Encontro e, logo, aperto de mão com o autor, afinidades imediatas, o projecto avança. "Carta branca" é dada por Hessel ao realizador - para tirar dali “qualquer coisa”.
Gatlif apanha o comboio para Madrid, assim que os indignados se rebelam e manifestam no centro da capital.
Nâo tem ideias definidas: quer “ver”, quer “pensar”.
Os slogans “câmara=manipulação” fazem-no compreender que não é bem vindo. Integra-se na manifestação, diz quem é e o que já fez, e cria-se a confiança. A sua obra cinematográfica é respeitada em Espanha.
“De repente, dei por mim a fazer uma reportagem... Ora não é essa a minha profissão. Procurei então um ponto de vista que não fosse o meu. Optei pelo olhar de uma imigrada, não politizada, uma pessoa que vê e observa a Europa desagregar-se."
Escolhe para o papel uma jovem senegalesa, em situação profissional precária, com quem conversa numa esplanada de Montreuil.
Teatro de Epidauros, Grécia
Decide situar a acção na Grécia. Betty -a personagem central do filme- vai ser uma imigrada ilegal, “desembarcada” ao acaso numa praia grega.
Uma jovem mais, da África francófona, à procura de uma vida nova, de um trabalho que lhe permita mandar algum dinheiro aos seus e que é apanhada pelos acontecimentos dramáticos que ali se viveram – e vivem. Sem passaporte nem papéis, vai de país em país, sempre empurrada.
São verdadeiros "manifestantes" muitos dos jovens que aparecem, com quem ela se encontra, quer na Ilha de Patros, quer em Espanha, acampados de dia e de noite nas praças.
São verdadeiros "manifestantes" muitos dos jovens que aparecem, com quem ela se encontra, quer na Ilha de Patros, quer em Espanha, acampados de dia e de noite nas praças.
“Quis fazer um filme que mostrasse o que via, sem acrescentar mais nada.”
O filme sai em sala em 7 de Março, em paris. E por cá? Gostaria muito de o ver!
Um olhar de fora. O olhar do clandestino, do que está em terra alheia, “suportado” e não amado, o estrangeiro que nunca deixará de ser...
Que é fechado num reduto, “fichado”, com as impressões digitais dos dez dedos - como mostra uma cena referida no artigo e filmada num “campo de retenção”, algures na nossa Europa.
Que é fechado num reduto, “fichado”, com as impressões digitais dos dez dedos - como mostra uma cena referida no artigo e filmada num “campo de retenção”, algures na nossa Europa.
Diz-nos respeito, não acham?
Temos de responder alguma coisa, não é?
É sempre o tal “méteque” que cantou Moustaki, grego ele também, e para mais judeu.
E “méteque” em grego quer dizer “estrangeiro”...
E a Utopia de não querer que o "méteque" fique sempre de fora! Essa é a nossa utopia!
E a Utopia de não querer que o "méteque" fique sempre de fora! Essa é a nossa utopia!
O filme "Indignados" passou no dia 10 de Fevereiro no Festival de Berlim.
Da esquerda para a direita:
Stéphane Hessel, MameBetty Honore Diallo, Toni Gatif, eIsabel Vendrell Cortès e Wieland Speck, no "Berlinale".
Stéphane Hessel, MameBetty Honore Diallo, Toni Gatif, eIsabel Vendrell Cortès e Wieland Speck, no "Berlinale".
Fico à espera que possa vir aqui para ver.
ResponderEliminarTenho pena se for mais um dos que aqui não chegam.
Um beijinho grande
Eu também estou à espera...
EliminarE é claro, estamos com ele, o sucesso foi estupendo e agora é hora de falar e lutar efetivamente. O silêncio corrompe e corroi as possibilidades de harmonia, distorce a história. Chega, existe um cansaço imenso de mentiras e de esteriótipos. Tony conseguiu mais uma vez, dar voz a uma realidade que antes era muda.
ResponderEliminarbjs muitos e sempre amiga.
nais tukê
De acordo completamente! Penso que Tony Gatlif dá um olhar "de dentro" e cheio de verdade, o olhar de alguém que se preocupa com o que se passa em seu redor.Não finge que não vê.
EliminarNão é indiferente...
bjs sempre
Esse documentário é riquíssimo. Vale a pena ver. Quanto ao Tony, mestre em desbravar as cores e apontar os mundos e escondemos debaixo do tapete.
ResponderEliminarImaginem se o Brasil fizesse isso aos estrangeiros? Sim, temos de ser utópicas.
um grande abraço, e admiração.
zerafim
Gostava imenso de ver! Apanhei a notícia por acaso e fui pela "net" à procura...
EliminarEle é muito bom, claro. E não esconde nada e não é indiferente...
Grande pecado a indiferença!
Beijos Zerafim, uma anjo...
Também irei ver quando estiver em Coimbra.
ResponderEliminarTenho uma grande curiosidade.
Grata pela informação.
Beijinhos. :)
Já somos 4...
EliminarEspero que também estreie por cá...
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