O Ratinho, o Ouricinho e os óculos escuros...

O CASO  DOS ÓCULOS ESCUROS

Andava a dar um jeito às plantas na varanda. Parecia-me que vinha aí chuva.


Quando entrei em casa, ouço o Ratinho dizer, em tom divertido:

- Então agora andas de óculos escuros?!

Não respondi, nem percebi bem o que queria dizer com aquela frase. É verdade que me tinha esquecido que andava de óculos escritos.


Logo vem o ouricinho atrás  dele: 


- Já a viste? Fica estranhíssima de óculos escuros!

Riram-se.

- O quê? Eu?, perguntei.

- Tu! Nem na rua pões os óculos de sol... 

- Pois é, acrescentou o ouricinho. Preferes andar a franzir os olhos por causa da claridade...

- E tu como sabes isso?

- Vejo-te cá da janela... -respondeu o ratinho pelos dois.

Não acredito nada que o Ratinho se ponha à janela a espreitar, qunado saio. Mas nunca se sabe o que eles decidem fazer sozinhos em casa.

- Agora dá-me jeito andar com eles, respondi um tanto evasivamente.

Não tinham nada com isso. Tirei-os um momento e poisei-os no sofá. 

Logo vieram os dois espreitar de perto os óculos. Viraram-nos, sentaram-se ao lado deles a olhar, espreitaram pelas lentes. Parceiam divertidíssimos.

- Tão escuro tudo!, disse o Ratinho, com a sua ironia. Hahaha! Vê-se a vida real, não é?

- Negra... acrescentou o ouricinho, espevitado. Parece de noite, quando vamos espreitar a lua!!

Riram os dois. E o ratinho disse:

- Mas tens razão em trazê-los. É mesmo suave para a vista. Uhmmmm! Que bom!

- Ficam-te bem, diz o ouricinho, um pouco invejoso. São daquela marca italiana de ténis, Sergio Tacchini...

E apontava  a haste dos óculos, ao amigo.

O ratinho respondeu-lhe logo com ar importante:

- Então são do Diogo... Ele é que tinha a mania dessa marca.

- Como é que sabes?, perguntou logo o ouricinho.

- Porque sei...

Espantam-me sempre estes dois! Onde andarão para saber tantas coisas? O que ouvirão?
- Foi em Itália! Sei que era assim. Até tem uma fotografia ainda miúdo com a raquete abraçada ao peito. E vê-se o T do Sergio Tacchini!

O ouricinho estava triste. Agarrava-se aos óculos.

- Ah! Essa eu não vi... Onde está?

- Guardada!

O ratinho tinha um ar peremptório como se pensasse: o que tem ele a ver com isto?...


- Parece que vai chover, disse ele. E foi para o seu poiso, na janela.

E afastou-se, deixando o ouricinho a pôr os óculos uma vez mais. Todo contente... Mas logo foi a correr ter com ele.


- Tens razão. Já chove!