Auguste Renoir, Mme. Monet et son fils (1874)
Muito tempo passou até Degas ser “Degas”...
Leio no livro do filho de Auguste Renoir (1), Jean Renoir, o que foi o resultado das primeiras tentativas de apresentação dos que conhecemos como “impressionistas".
Claude Monet: "Impression: soleil levant "(1872)
Sucederam-se críticas ferozes, vulgares em que ridicularizavam os chamados "intransigeants" - intransigentes, como eles se sentiam e se chamavam a si próprios, na sua revolução contra o academismo em que a pintura caíra.
Eles, quem?
Alfred Sisley, Matin de Brouillard, 1872
Alfred Sisley, La leçon (1974)
"Bem, Renoir (1841-1919), claro", diz Jean Renoir.
Pierre-Auguste Renoir, paisagem com vento (1872)
E Claude Monet (1840-1926), o grande Camille Pissarro (1830-1903) - considerado por muitos deles como o Mestre-, Sisley (1839-1899), Paul Cézanne (1839-1900), Berthe Morisot (1841-1895) e Edgar Degas (1834-1917).
Expõem, primeiro, na Galeria de Durand- Ruel, na rue des Peletiers.
Desastre total...
Depois tentam leiloar as obras na sala Drout. Fracasso total, não vendem nem um quadro e ainda são insultados...
No tal leilão, um visitante insulta a pintora Berthe Morisot chamando-lhe "gourgandine" (mulher de má vida) e Pissarro dá-lhe um murro na cara.
Indigna-se Renoir: "Ela? Uma verdadeira Senhora!"
Grande reboliço. Vem a polícia.
Berthe Morisot, Dans la salle à manger
Berthe Morisot, l'enfant au tablier rouge, 1972
Berthe Morisot, pintada por Manet, em 1872
Grande reboliço. Vem a polícia.
A crítica é dura. Ninguém compreende a “novidade”, confundindo-a com loucura, desejo de espantar, ambição.
De facto, a pintura "consagrada" e estagnada do momento (do post-Delacroix) é a única que se vende e é apreciada.
De facto, a pintura "consagrada" e estagnada do momento (do post-Delacroix) é a única que se vende e é apreciada.
A velha querela dos antigos e modernos.
Diz um dos críticos:
Diz um dos críticos:
“A Rue des Peletiers tem azar: depois do incêndio da Opéra, agora outro desastre. O passante ingénuo e inofensivo entra e depara-se-lhe um espectáculo cruel: cinco ou seis alienados, entre os quais uma mulher, um grupo de infelizes dominados pela loucura da ambição, reuniram-se ali para mostrar as suas obras (...)"
Mais adiante: " Muita gente desata a rir diante daquilo. Eu sinto o coração apertado." (Pierre Wolf, em Le Figaro).
Mais adiante: " Muita gente desata a rir diante daquilo. Eu sinto o coração apertado." (Pierre Wolf, em Le Figaro).
Continua (...) "Espectáculo da vaidade humana levada à demência loucura galopante. (...) Como fazer compreender a M. Pissarro que as árvores não são violeta, que o céu não é cor de manteiga derretida, que não há paisagem nenhuma onde se veja o que ele pinta. (...)"
Mais: "Ou vão dizer a M. Degas que há na Arte certas qualidades que têm nome: existe o desenho, a cor, a execução e a vontade –ele vai rir-se na vossa cara, (...)"
"Ou explicar a M. Renoir que um torso de mulher não é um amontoado de carnes em decomposição com manchas verdes e violáceas que denotam o estado de putrefacção do cadáver...”
Os intransigentes não transigem e, pouco tempo depois, decidem organizar outra exposição, agora no Boulevard des Capucines, na local do fotógrafo Nadal (Maio de 1874).
Camille Pissarro, mulher a coser
Diz logo um dos críticos: “Vendo a exposição dos Intransigentes no Boulevard des Capucines (1874) pode-se dizer que são loucos: se quiserem divertir-se à brava vão até lá!” (La Patrie, Maio 1874)
Do quadro "La Lecture" de Berthe de Morisot que é uma pequena maravilha, disseram: " Ela pinta uns riscos para cima outros para baixo e para o lado e já está..."
Cézanne é ridicularizado e as meninas de Renoir provocam o riso.
O quadro La Loge de Degas é considerada um horror: "Que carantonhas!"
O quadro de Monet, “Impression” - que vai dar o nome ao grupo, e com o qual Renoir nunca concordou- é "demolido" pela crítica!
Berthe Morisot, La lecture
Cézanne é ridicularizado e as meninas de Renoir provocam o riso.
O quadro La Loge de Degas é considerada um horror: "Que carantonhas!"
O quadro de Monet, “Impression” - que vai dar o nome ao grupo, e com o qual Renoir nunca concordou- é "demolido" pela crítica!
“Mas...Aqui não se vê nada!”, diz Leroy, no jornal Charivari.
"Já agora, por que não pintar uma luta de negros, num túnel?"
Monet, Estrada de Inverno
Ao que Monet responde: “Pobres cegos que querem ver tudo nítido através do nevoeiro!” (p.186)
Renoir sente-se desanimado, quer voltar a "decorar" os cafés como fizera. Degas mão tem problemas, vivera sempre bem, mas os outros têm reais dificuldades.
Cézanne, la Maison du Dr. Gachet
Cézanne, Auto-portrait
Cézanne decide voltar a Pontoise.
É Monet quem reage com grande coragem a este mau resultado da exposição.
Pensa, pensa : “Onde é que haverá mais bruma?”...
Numa bela manhã, vai acordar Renoir: "Descobri! Na Gare Saint-Lazare!"
E decide ir pintar a Gare Saint-Lazare com o vapor dos comboios que chegam à estação. Ou que partem.
Veste o melhor fato, leva a bengala de castão dourado e dirige-se ao director dos caminhos de ferro e propõe-lhe pintar a estação:
“Pensei na Gare du Nord mas achei que a vossa tinha mais cartácter...”, explica.
Bem recebido vai fazer uma série de quadros sobre a Gare Saint-Lazare, o azul e a bruma, o fumo dos comboios.
Que encantou também o Ratinho Poeta.
Renoir sente-se desanimado, pensa voltar à decoração de cafés...
Numa bela manhã, vai acordar Renoir: "Descobri! Na Gare Saint-Lazare!"
E decide ir pintar a Gare Saint-Lazare com o vapor dos comboios que chegam à estação. Ou que partem.
Claude Monet, Gare Saint-Lazare
Veste o melhor fato, leva a bengala de castão dourado e dirige-se ao director dos caminhos de ferro e propõe-lhe pintar a estação:
“Pensei na Gare du Nord mas achei que a vossa tinha mais cartácter...”, explica.
Monet e a série de "Gare Saint-Lazare"
Que encantou também o Ratinho Poeta.
Renoir sente-se desanimado, pensa voltar à decoração de cafés...
Degas, danseuses
Edgar Degas, La Loge
Como conta Jean Renoir, começam a vir procurar o pai e perguntar-lhe coisas:
"M. Renoir, como se faz?"
"M. Renoir, devemos deitar fora o tubos de tinta preta?"
Um grupo de estudantes vem mesmo dizer-lhe: "Já deitámos agora mesmo os tubos de preto no Sena!"
"Fizeram mal. O negro é uma das cores mais importantes! A natureza está cheia de negro misturado com as outras cores."
E explica:
Renoir, O Pescador
Nem tudo estava perdido no Reino da Dinamarca!
(1) Jean Renoir: "Pierre-Auguste Renoir, mon père", Gallimard, Folio nº 1292
(1) Jean Renoir: "Pierre-Auguste Renoir, mon père", Gallimard, Folio nº 1292
Gostei muito - as pinturas são lindas.
ResponderEliminarGostei tanto deste post.
ResponderEliminarAdorei as pinturas.
Fico com vontade de ler todos os livros de que vai falando. Este deve se interessante.
O ratinho poeta e o ouricinho têm muito bom gosto. Alguém duvida?
Um beijinho grande
Estes homens foram grandes percursores da pintura contemporânea. O século XX viria a ser um século de intensa criação e muito se ficou a dever aos impressionistas que fizeram a parte mais difícil do trabalho: o corte com os canones tradicionais da pintura figurativa.
ResponderEliminarSem estes pintores não teria havido o fulgor da primeiras décadas do século XX, com a explosão de expressionistas, fauvistas, futuristas, abstracionistas, surrealistas, cubistas, etc.
Se os canónicos da pintura romantica do séc. XIX tivessem regressado à terra 50 anos depois, certamente teriam ficado petrificados com a influência que os impressionistas tiveram em Van Gogh, Matisse, Kadinski, Munch, Schiele, ou até Dali, Mondrian e Picasso...
Uma bela homenagem ao impressionismo.
ResponderEliminarBoa noite MJ e um beijinho. :)
É difícil, e certamente injusto, comparar os movimentos artísticos, mas o impressionismo é certamente incontornável na história da arte. E ainda que enfrentando inicial resistência, como é frequente acontecer quando se rompem tradições, conquistou o reconhecimento e valorização devidos. Alguns destes artistas tiveram a felicidade de assistir em vida ao reconhecimento do seu mérito. Mas no extremo oposto há os que nunca viveram essa satisfação, como inevitavelmente me ocorre o exemplo dramático de Van Gogh.
ResponderEliminarParabéns pela belíssima e justíssima homenagem que aqui presta.
E votos de um bom fim de semana!
Bom sentar aqui e ler sobre ele, o amigo pintor dos ciganos de Arlês.
ResponderEliminarViemos dizer que valeu a sua torcida e a sua ajuda magistral.
bjs muitos de todas nós