Para a minha amiga Maria, uma andaluza portuguesa, que ama a poesia de Miguel Hernandez
Múrcia, Praça da Catedral
Os pais eram pobres, tinham umas terrinhas e ovelhas e Miguel foi pastor dos rebanhos de seu pai.
Depressa se sentiu poeta, mas o pai desencorajou-o, a vida era
dura, como pensar em poesias?
Teimoso, consciente da sua verdade e da vocação
sincera que sentia, conseguiu com a ajuda de amigos e graças à sua memória fantástica ir estudando a Literatura Espanhola, saber da
Cultura, interessar-se pelo que lhe era à partida proibido.
Em 13 de Janeiro de 1930 sai o seu primeiro poema “Pastoril”,
no “Pueblo de Orihuela”.
Sijé (Ramón Marín
Gutierrez ), conhecido por Ramón Sijé, ajuda-o nesse seu desejo de cultura, foi o
seu mentor e amigo
mais velho.
E Miguel Hernandez continua a escrever os seus poemas.
Em 1931, passa os primeiros seis meses em Madrid.
Volta a Orihuela e apaixona-se. O noivado com Josefina Manresa é longo. Só casarão em 1937.
Em 1937, com a mulher, em Jaén, onde vão viver uns tempos
Em 1933, publica o primeiro livro “Perito em luas”.
Em 1934, nova estadia
em Madrid.
Desta vez conhece outros
escritores Pablo Neruda, Francisco Garcia Lorca e Vicente Aleixandre.
Aproxima-se ideologicamente destes poetas - próximos do Governo
Republicano- e das suas ideias socialistas.
Afasta-se de Orihuela, de Sijé e do seu catolicismo. Quando o
amigo vem a Madrid visitá-lo, percebem que um fosso os separa. Mas a amizade
perdura.
Em 1935, participa na Homenagem a Pablo Neruda o que lhe traz inimizades fortes e incompreensões.
Sijé não lhe perdoa o que considera uma traição.
Nesse ano, Ramón Sijé morre, com uma pneumonia, e Miguel Hernandez
sente-se culpado, sofre por se terem afastado, por não se terem visto.
E é então que escreve
a belíssima “Elegia” a ele dedicada.
"En Orihuela, su pueblo y el mío,/se me ha muerto como del rayo Ramón Sigeiro, / a quien tanto quería."
"En Orihuela, su pueblo y el mío,/se me ha muerto como del rayo Ramón Sigeiro, / a quien tanto quería."
“Yo quiero ser llorando
el hortelano
De latierra que ocupas
y estercolas,
Companero del alma, tan
temprano.
Alimentando lluvias,
caracolas
Y órganos mi dolor sin
instrumento
A las desalentadas
amapolas
daré tu corazón por
alimento.
tanto dolor se agupa en
mi costado
que por doler me duele
hasta el aliento.”
E mais:
(...)
“Temprano levanto la
muerte el vuelo,
temprano madrugo la
madrugada,
temprano está rodando
por el suelo.
No perdono a la muerte
enamorada,
No perdono a la vida desatenta,
No perdono a la tierra ni a la nada.”
Em 1936, a 18 de Julho, dá-se o golpe de estado fascista do Generalíssimo
Francisco Franco, a partir de Melilla, Norte de África.
Franco entra em Espanha pelo Sul.
Estala a Guerra Civil Espanhola. Que vai durar até 1939, e vai ser sangrenta. Com milhares de mortos de parte a parte.
Chegam a Espanha as Brigadas Internacionias que vêm em auxilio do Governo legal Republicano. Entre eles virá os escritores André Malraux, Hemingway e tantos outros.
Miguel Hernadez escolhera o seu campo: arrola-se nas Forças Combatentes Republicanas, no 5ª Regimento.
bandeira das Forças de Franco
Franco entra em Espanha pelo Sul.
Miguel Hernandez, em 1936, lendo os seus poemas
Miguel Hernandez, em 1936, na Radio
brigadas republicanas, 1936
Madrid, ruínas de um bunker, 1936
Alcazar de Toledo
Brigadas Internacionais, brigada polaca, 1936
Miguel Hernadez escolhera o seu campo: arrola-se nas Forças Combatentes Republicanas, no 5ª Regimento.
Conhece Rafael Alberti e Luis Cernuda. Durante a República
participa em vários encontros de intelectuais antifascistas. Faz parte dos
grupos ou “Missões” que procuram levar a cultura e a educação às zonas mais
desfavorecidas de Espanha.
baterias das Forças Republicanas
Miguel Hernamdez, em Moscovo~
Ruínas em Corbera, dos tempos da Batalha do Ebro
A guerra de Espanha continua um pouco mais.
Depois destas atitudes, sabe que corre perigo na Espanha franquista, mas não procura exilar-se por lá.
Acabada a Guerra, tenta refugiar-se na Embaixada do Chile sem sucesso. Tenta fugir mas é apanhado na fronteira portuguesa em Rosal da Fronteira: se de lá estava Franco, de cá estava Salazar, não havia muita escolha.
Acabada a Guerra, tenta refugiar-se na Embaixada do Chile sem sucesso. Tenta fugir mas é apanhado na fronteira portuguesa em Rosal da Fronteira: se de lá estava Franco, de cá estava Salazar, não havia muita escolha.
É preso, libertado com pena suspensa.
Mas em Setembro de 1939 é denunciado por um oriolano quando
volta à terra a visitar os pais de Sijé e é preso outra vez. Desta vez é levado para a prisão de Torena em
Madrid.
Fez há pouco 70 anos que morreu...
“A las desalentadas
amapolas/ daré tu corazón por alimento”...
NOTA: Óptimo site sobre Miguel Hernandez: "enorihuela" de onde retirei a maior parte das fotografias que usei, a quem muito agradeço.
Mais informações úteis:
http://www.poetryfoundation.org/bio/miguel-hernandez
E sobre a Guerra de Espanha:
Que post triste e bonito. É fato que morremos pelo que acreditamos.
ResponderEliminarbjs as duas
Que bom trabalho!
ResponderEliminarMiguel Hernandez é a minha debilidade, não consigo ler "las nanas de la cebolla", que escreveu moribundo, sem emocionar-me.
Obrigada pela dedicatória, és "un cielo".
Síntese agradável e muito útil. Parabéns.
EliminarTambém sinto o mesmo quando leio " las nanas de la cebolla". O seu amor amor à mulher e ao filho impressiona. E quando, da cadeia, escreve pequenas histórias e poemas ao filho!Uma ternura!Há, porém, um poema que reputo da maior importância poética que tem como título "Vuelo".Um convite à sua leitura.Obrigado.
Vou ler. Obrigada!
ResponderEliminarUm post esclarecedor.
ResponderEliminarNão conheço o poeta, mas acho que já ouvi a Maria falar dele (?).
Haverá alguma coisa em português? Vou ver.
Um beijinho
Isabel, tens no comentário de J.M. Romana, em baixo, a resposta à tua pergunta! um beijo
EliminarMJ,
ResponderEliminarMuito bonita esta postagem. O poema é lindo.
Beijinho. :)
Para a Isabel:
EliminarNão sei se a sua obra completa, que é pequena, está traduzida. Mas José Bento, poeta e excelente tradutor,contempla-o com 14 poemas na Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea, nas edições Assírio e Alvim. Lá estão os poemas: "Elegia", " Canção de embalar da cebola" e "Voo".Bom fim de semana para todas.
José Manuel Romana
Obrigada, Ana! Ajuda-me o seu apoio... beijo
EliminarObrigada, amigo Romana! estava sem saber como ajudar a Isabel, que bem merece! Conheço o trabalho do José Bento que foi -e é (pois ainda está vivo! Sei que mora em Sintra, pois uma ex-aluna minha é vizinha dele)- muito importante.
ResponderEliminarJá agora uma palavra de apreço para a Assírio & Alvim que tem traduzido tanta coisa boa em que "os outros" não pegam!
Abraço
Obrigada ao José Manuel Romana e a si Maria João. Já tinha estado a ver no site Wook e não encontrei nada em português. Vou ver outra vez e procurar se há essa antologia. Obrigada. Estive a ler o "Vuelo" que colocou hoje e apercebo-me da sua beleza, mas não consigo perceber todo o poema e tenho pena.
EliminarUm beijinho
Uma guerra terrível, em que os republicanos foram abandonados pelas democracias europeias; onde os fascistas foram apoiados pelos nazis (ou nunca venceriam); onde morreu mais de 1 milhão de pessoas; onde as tropas de Hitler se treinaram para a 2ª guerra mundial, onde morreram mais de 50 milhões de pessoas; onde se enterrou a Cultura e a Esperança, na península ibérica...
ResponderEliminarBem verdade! Para não esquecer, também...
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