Foi este o nome que a cidade de Urbino dedicou a uma
Exposição: “A Cidade Ideal e a Utopia do
Renascimento em Urbino de Piero della Francesca a Raffaello”.
A exposição realizou-se, em 2012, na Galleria Nazionale delle Marche. As Marcas são a região de Itália a que pertence Urbino.
É de facto em Urbino que se encontra a Cidade Ideal. Ou, melhor, a sua imagem.
Urbino
E o que
é afinal a “cidade ideal”? Trata-se de uma tábua pintada de cuja autoria se
discute ainda hoje em dia: Piero della Francesca?, contribuição de Boticelli?, Francesco di Giorgio
Martino?, o arquitecto de Florença, Leon Battista Alberti?, ou Luciano Laurana?
Este último, conhecido arquitecto do Renascimento, terá sido muito
provavelmente o seu autor.
pormenor da Cidade Ideal, da tábua de Urbino
Veneziano, nascido na Dalmácia, em Zara, que então pertencia
à República Sereníssima de Veneza, Luciano Laurana era um arquitecto da Corte
Ducal de Urbino. Supõe-se que a figuração represente a Florença do Renascimento.
“A Cidade é concebida como um tabuleiro de xadrez onde o
pavimento das estradas, interseccionando-se, através mármore de diversos tons,
Reflectem e amplificam a estrutura da cidade, em cujos edifícios, tal como as
peças dos tabuleiros de xadrez, estão dispostos por ordem e colocados a
intervalos regulares, pré-estabelecidos, segundo os cânones da absoluta
perfeição.
Além disso, os edifícios (que não devem superar os 3 andares)
estão dispostos de maneira simétrica, e transversalmente, em relação ao centro
da representação, que culmina com uma Rotunda. Trata-se de uma particular
tipologia de edifícios clássicos que, em quanto estruturalmente de forma
circular, pretenem representar (com a hipérbole da circunferência do círculo -figura
sempre considerada “perfeita”, porque fechada em si e inclusa-, tal como a
coroação de uma obra que tudo reúne no seu interior, deixando um vazio ideal e
universal no seu exterior.”
Tábua, ou tábuas?, perguntaremos...
A pergunta tem sentido pois, nessa Exposição, reuniram-se
três tábuas: a que pertence desde sempre a Urbino; depois, a tábua de Berlim que
se encontra no Museu Gemäldegalerie;
Vista da Cidade Ideal (Berlim)
E, finalmente, a tábua de Baltimore, no Walers Art Museum, atribuídas ao mesmo autor - e anteriores à de Urbino.
ACidade Ideal, tábua de Baltimore
Todas elas representam –de forma ligeiramente diferente- o que se considerava no Renascimento a
cidade ideal e talvez a mais próxima desse ideal fosse a cidade de Florença.
Pode "imaginar-se" à direita, ao fundo, o Batistério de Florença...
Pode "imaginar-se" à direita, ao fundo, o Batistério de Florença...
Correspondem, pois, a épocas diferentes: A Cidade Ideal, de Urbino, terá
sido pintada entre 1480-1490; a Vista de Baltimore, ligeiramente antes, por volta de
1470-80, e a Vista da Cidade Ideal, de Berlim, é de cerca de 1477.
pormenor da Cidade Ideal (Baltimore)
A cidade renascimental, a cidade das artes que, na segunda metade do
século XV, il quatrocento, Federico da Montefeltro, Duque de Urbino, criou, na sua corte.
Il Cortegiano, de Baldassarre Castiglione
E penso na cidade ideal que Perugino nos deixou, ao pintar "A Entrega das Chaves a São Pedro"...
Perugino, Museu do Vaticano
Ele, o mais douto e iluminado dos
grandes senhores do seu tempo, aspirava à beleza. Ele, o famoso condottiere, nas batalhas, e, na Corte Ducal, o
mecenas culto, o homem mais douto e iluminado entre os grandes senhores do seu
tempo, ele aspirava à perfeição.
Palazzo Ducale
(Considerado, ahimé, um dos homens mais
feios do seu tempo...)
Foi Federico da Montefeltro o mecenas que protegeu as artes e deu, na sua Corte, abrigo e
protecção a artistas de todos os tipos. Baldassarre Castiglione soube falar dessa vida de uma corte do Renascimento.
Nomes como Piero della Francesca, Perugino, Paolo Ucello, Luca Signorelli, Melozzo da
Forlì, Pinturicchio, Raffaello, enfim, foram alguns dos tantos passaram por Urbino!
Continuando, inspirando-me no que li, supõe-se que a perfeição dessa "vista", ou da perspectiva, da cidade ideal é, decerto, o fruto de
investigações e especulações científicas e arquitectónicas - e de engenharia.
E de estudos no
campo filosófico e da Matemática, igualmente.
Ao ponto de a cidade de Urbino ser chamada, no tempo de Federico, a “capital do Renascimento Matemático”, no século XV.
Era o tempo do Humanismo, dos artistas que eram figuras de saber poliédrico, aberto, acedendo a vários "campos" e artes, sem as "especializações" dos tempos que correm.
Era o tempo do Humanismo, dos artistas que eram figuras de saber poliédrico, aberto, acedendo a vários "campos" e artes, sem as "especializações" dos tempos que correm.
Eram escritores, escultores, matemáticos, desenhadores, poetas, arquitectos, eruditos. Como Leon Battista Alberti que foi tudo isso.
Leon Battista Alberti, por Pisanello
Homens que se interessavam pelo Homem na sua totalidade e todos os saberes eram necessários...
* * *
A referida exposição (que passou também por Siena) realizou-se de 6 de Abril a 8 de Julho de 2012, em Urbino.
Excelente viagem
ResponderEliminarGrato pela partilha
Bj
Um post interessantíssimo!
ResponderEliminarAdorei ler!
É engraçado, que uma das coisas que ainda há pouco tempo falavam uns amigos, é que os prédios não deviam ir além dos três ou quatro andares, porque ficam feias as cidades e perde-se qualidade de vida. As pessoas não se falam, não se conhecem.
Também os espaços...deveria haver jardins e praças para onde os prédios confluíssem, mas espaços grandes, (com árvores) onde as crianças pudessem brincar...
É utopia!
Um beijinho grande :)
Adoreiiiiii.
ResponderEliminarDemasiado belo para palavras.
Beijinho. :))
Concordo com a Isabel... menos num ponto, quando diz que é utopia. Não, não é: é Cultura, Civilização e existe em países como a Finlêndia. O texto é magnífico. Parabéns Falcão de... Oiro!
ResponderEliminarTens estado muito prolífica e eu mal de tempo, mas não posso deixar passar por alto este belo post. Não sabia nada das tres tábuas, que li com gosto.
ResponderEliminarSabes que sempre me atraiu este duríssimo perfil de Federico de Montefeltro que Piero della Francesca pintou com muita arte e nenhuma complacência? Acho-o belo na sua fealdade, diferente a todos. Não me importava tê-lo na minha casa, he he. Inspira-me ternura, e isso que não foi tão santo, apesar de um grande mecenas.
Até breve ma chérie, que durmas bem, que eu vou fazer o mesmo,
Besos