A Lebre, Souza Cardoso
“ Na liberdade de
escolha,
não há nada de misterioso.
Fazes o que queres fazer
E não fazes
O que não queres...”
O Rabbi Nahman de Breslau nasceu em 1772, na Ucrânia. Era
neto do fundador do Hassidismo hebraico, o Baal Shem-Tov. Escreveu contos, aforismos, ensinou, teve discípulos. É um grande pensador do mundo judaico.
O Rabbi vai desenvolver uma doutrina que encontra eco (e ajuda) não
só naqueles que escolheram a vida espiritual, como naqueles que se vêem às
voltas com a vida, nos seus problemas quotidianos, e desesperam e têm medo...
The Hope, de Wyatt
Procurava ensinar-nos a preencher o vazio interior, fosse ele
qual fosse. Era uma lição de vida e de optimismo, de solidariedade e altruísmo. De esperança nos dias que virão.
Perder a esperança
É um pouco perder a nossa liberdade.
É perder um pouco de nós próprios.
Há uma história dele, neste livro, La Chaise Vide, que adorei
ler.
"Um dia, o Rabbi está à janela e vê chegar um dos seus alunos,
que vem a correr.
Estava um dia lindo, um céu azul maravilhoso e a praça estava
cheia de gente, era dia de feira.
Perguntou-lhe, logo:
- Viste o céu?
- Não, Mestre, eu vinha cheio de pressa, estava atrasado.
- Não viste o céu porque tinhas pressa? Olha que daqui a uns
anos, tudo terá desaparecido. Haverá outra feira, com outras gentes, outros
cavalos, outras carroças, mas nem tu nem eu estaremos aqui. Então por que não
te deste ao prazer de ver este céu e este sol?"
Van Gogh
São as máximas do Rabbi a chave para a felicidade nesta vida?
Talvez não. Ele quer
apenas empurrar-nos para pensar no que
podemos fazer por nós e pelos outros – e que não fazemos, nem sabemos por quê, escolhendo a infelicidade!...
Temos a tendência para nos irresponsabilizarmos, achando que
somos sempre vítimas, já demasiado desgraçados por isto ou por aquilo e
facilmente culpamos os outros dessas mesmas desgraças e infelicidades.
*
Procura sempre nos outros
o que têm de bom
Procura sempre em ti o que tens de bom.
Ele pensava que deveríamos, pelo contrário, pensar no que há de bom (em nós e nos outros) e tentar
acabar com o que está mal. Ajudar em vez de culpar e magoar...
*
É tão fácil magoar os outros
E dar-lhes a impressão de que
Estão a mais.
Toda a gente o pode fazer..."
Difícil é amparar os outros, nos seus problemas. Ou ampararmo-nos a nós nos nossos desgostos. Difícil é não cair na depressão... Ou no desespero!
*
Procura sempre nos outros
o que têm de bom
Procura sempre em ti o que tens de bom.
E não cairmos na depressão. Sim, porque ele fala muito na depressão - que, pelos vistos, não é só de agora, dos nossos tempos que parecem tão negros.
*
Evita a depressão seja lá como for.
Porque ela é a raiz de todos os males
e do teu mal-estar.
E depende de nós, em muitos casos, mudar a vida...
Mais vale cantar do que mergulharmos no buraco, mais vale rir e fazer algo que pode parecer estúpido aos olhos outros, mas que nos faz sentir bem...
Ter amigos, sacrificarmo-nos pelos amigos, ajudar os amigos! E brincar, também, rir, cantar, dançar! Até ficarmos cansados, mas felizes!
Saber ver as cores da vida, a beleza das flores, dos pássaros e dos homens. Saber dar o seu sorriso!
Papoilas, de Emil Nolde
*
Mesmo que não cantes bem,
Canta. Canta para ti.
Na intimidade da tua casa.
Mas canta.
Escolhi alguns dos seus aforismos de que mais gosto:
*
Se hoje te sentes bem,
Não deixes de modo nenhum
Que os ontens e os amanhãs
Te deitem abaixo...
*
Nada nos liberta tanto como a alegria
Ela solta o espírito e enche-o de calma.
*
Se a única maneira de te sentires feliz
É fazer alguma coisa estúpida,
Fá-la.
*
É bom ganhar o hábito de cantar.
É como se uma nova vida
Nos enchesse de alegria.
*
É bom dançar
Porque a dança afasta a depressão
E afasta o cansaço...”
Ths singing Buttler, Jack Vetriano
a flor e a abelha (foto de RAM)
*
É fácil magoar os outros
E dar-lhes a impressão de que
Estão a mais.
Toda a gente o pode fazer...
Simberg, O Anjo Ferido
*
Difícil, pelo contrário,
É fazer o que exige esforço e habilidade:
É ajudar os outros a ganharem forças
e a sentirem-se bem...
o sorriso da Virgem de Federico Barocci
(Rabbi Nahman de Breslau, La Chaise Vide, ed. La Table Ronde, Paris, 1995)
Cá estou eu!
ResponderEliminarO que hei-de fazer! Gosto muito dos seus post!
Este gostei especialmente! Tenho este livrinho, em espanhol, porque não há em português; comprei-o depois de a Maria João falar dele uma vez, aqui. Não sei se já lhe tinha dito.
Gosto das citações que escolheu e lembro-me de ter lido essa pequena história.
Eu concordo com tudo! Às vezes a vida não é fácil, mas cair na depressão piora-a.
E Portugal conduz-nos todos os dias mais um degrau a caminho de uma vida de depressão. Há sonhos e projectos que se perderam e já não voltam - ainda hoje falei nisso. Cortaram-nos as asas, mas caminhamos em vez de voar. Desistir é que não.
Adoro o Calvim e Hobbes! Eles é que sabem: temos que rir e fazer algumas parvoíces e acreditar nos amigos. Gosto de me rir!
Gostei de tudo neste post!
Sou sua leitora fiel, mas saio sempre a ganhar, quando aqui venho: beleza, alegria e conhecimentos. Aqui há sempre um pouco de cada!
Obrigada!
Um beijinho grande :)
Lindo! Obrigado pelo que nos mostra!
ResponderEliminarAbraço
Raul
É mesmo, somos os principais artífices do nosso estado de espírito, e ninguém pode magoar-nos sem o nosso consentimento, não magoa quem quer, senão quem pode.
ResponderEliminarFeliz semana, que cantes muito!
Beijinho
Sem dúvida, um excelente post.
ResponderEliminarE, sábias as palavras de Rabbi Nahman de Breslau!! Repletas de bons ensinamentos
e pensamentos positivos.
Temos de ser fortes para não nos deixarmos abater pelos notícias más com que somos confrontados constantemente! Para isso os amigos são fundamentais!
Um beijinho com muita amizade.:))
Maria João,
ResponderEliminarNão tenho palavras...
Maravilhoso...
Beijinho. :))