Há tempos, desiludida, comecei a pensar que não valia a pena falar, escrever ou intervir, nem indignar-me, porque o vazio da resposta à volta era sempre o mesmo. E a cidade ideal quando será real?
E as vozes de algumas sereias a sussurrarem: "Ai, não vale a pena...."
E as vozes de algumas sereias a sussurrarem: "Ai, não vale a pena...."
Queria
resultados mais rápidos? Claro que queria.
E dizia para mim: “Não sou eu que vou mudar o mundo. Para que me ralo? Mais vale calar-me e deixar andar”, pensava eu, com um pouco de amargura.
E dizia para mim: “Não sou eu que vou mudar o mundo. Para que me ralo? Mais vale calar-me e deixar andar”, pensava eu, com um pouco de amargura.
O tempo foi passando, entre a desentusiamo com o que se passava em
roda e o fingir que não via nem ouvia, num morno desencanto.
Nada muda do dia para a noite, dir-me-ão. Mas já lá vão muitas
noites e o dia nunca mais aparece!
"Talvez seja a
culpa do Verão"..., pensei ainda. Talvez, quem sabe?
Depois vieram os amigos, escreveram os amigos e senti-me
melhor.
Conversar do que passou nas nossas vidas, e foi bom, faz bem à alma. Se passarmos a vida a olhar
para trás, a pensar só nisso e a sofrer, ah! então só faz mal à alma.
Quero contar-lhes que li uma coisa que me dispôs bem e
me deu ânimo.
Perguntarão: "alguma coisa se mexeu na podridão do Reino da Dinamarca?"
Não, no reino da economia e do dinheiro selvagens, na concorrência vergonhosa (desleal já é pouco dizer...), na falta de respeito pelo ser humano cada vez mais fragilizado não se passou nada.
O ser humano foi jogado ao chão como um boneco que não serve!
Não, no reino da economia e do dinheiro selvagens, na concorrência vergonhosa (desleal já é pouco dizer...), na falta de respeito pelo ser humano cada vez mais fragilizado não se passou nada.
O ser humano foi jogado ao chão como um boneco que não serve!
Bem, no Reino da Dinamarca de cá, nada mudou mesmo. O boneco
continua no chão...
Mas ouvir falar do que se protesta noutros reinos já é bom.
Mas ouvir falar do que se protesta noutros reinos já é bom.
Estou farta de ouvir falar dos ricos que enriquecem cada vez mais na crise e na classe média que, de média, passou a baixa, e de baixa passou a pobre; das gentes a quem não deixam dignidade; das pessoas que cada vez mais vão comer a sopa que dantes era dos pobres...
Como aceitar?!
Ontem mesmo, vi uma imagem no FB que me arrepiou: uma fila de gente (novos, velhos, desempregados, reformados) que esperavam exactamente isso que estão a pensar: a sopa dos pobres.
No Porto, na cidade-nação de que nos orgulhamos, no Porto industrial (?), do dinheiro (dinheiro de quem?)! É chocante e vergonhoso!
E as notícias giram, sensaboronas, à volta do que dá audiências, dos escândalos, das histórias de "maria-não-me-mates-que-sou-tua-mãe" - para adormecer quem vem cansado do trabalho- ou das publicidades enganosas que defendem o dinheiro dos patrões deles...
Ou a mostrarem os pobres à hora do jantar: à hora em que ninguém vai pensar nisso, entre uma garfada, um olhar de esguelha à TV e uma ida à cozinha buscar a coca-cola.
Como suportá-lo?!
Como aceitar?!
Pessoas na cidade do Porto, à espera de comida (*)
Ontem mesmo, vi uma imagem no FB que me arrepiou: uma fila de gente (novos, velhos, desempregados, reformados) que esperavam exactamente isso que estão a pensar: a sopa dos pobres.
No Porto, na cidade-nação de que nos orgulhamos, no Porto industrial (?), do dinheiro (dinheiro de quem?)! É chocante e vergonhoso!
Disfarçando a pobreza, num Carnaval
E as notícias giram, sensaboronas, à volta do que dá audiências, dos escândalos, das histórias de "maria-não-me-mates-que-sou-tua-mãe" - para adormecer quem vem cansado do trabalho- ou das publicidades enganosas que defendem o dinheiro dos patrões deles...
Ou a mostrarem os pobres à hora do jantar: à hora em que ninguém vai pensar nisso, entre uma garfada, um olhar de esguelha à TV e uma ida à cozinha buscar a coca-cola.
outros pobres, outras terras (net)
Como suportá-lo?!
Bem, foi no Nouvel Observateur que li a
editorial do seu director, Jean Daniel, que leio há anos e que muito admiro
pela coerência e equilíbrio dos julgamentos e das suas opiniões bem fundamentadas.
Falava do projecto de um Nouvel Observateur “renovado” - na modelação das ideias, na preparação dos conteúdos e não no
formato - que é o mais fácil. Falaria de um N.O. “revoltado”? Não, porque já há 50
anos que o é.
São apenas necessários "arranjos", acertar algumas "agulhas". No fundo e não na forma...
E Jean Daniel refere o novo projecto (já em curso, a partir deste número), citando as palavras do chefe de redação, Laurent Joffrin.
E Jean Daniel refere o novo projecto (já em curso, a partir deste número), citando as palavras do chefe de redação, Laurent Joffrin.
“O seu projecto? Contra a crueldade da economia, uma sociedade humana. Contra
as loucuras do famatsmo, uma sociedade da razão. Contra a confusão mediática,
uma sociedade do escrito, seja ele impresso ou numérico (...).”
Respirei fundo. Alguém ainda está a pensar...
E respirei fundo: ele referia a importância da opinião “séria”, medida, pensada,
apoiada em documentos. Com jornalistas que escrevam a verdade, e se informem! E
recusava o uso da “opinião descartável”, como o papel A4, ou as fraldas...
E eu de acordo com eles, feliz da vida, claro!
Porque a verdade é que, quando a informação se torna numa coisa descartável, que caduca e apodrece em segundos, logo que chega uma nova informação toda fresquinha, por vezes oposta, a sair, incompetentemente feita e descartável logo...
Informação que, tão perecível como a anterior, porque opinião sem opinião, não fundamentada, vai caducar em três tempos - então, temos que voltar à opinião pensada, ao tempo de reflexão.
Digam-nos coisas sérias! Façam pensar quem não pensa, ilustrem os ignorantes!
por que razão há cada vez mais ricos?
Porque a verdade é que, quando a informação se torna numa coisa descartável, que caduca e apodrece em segundos, logo que chega uma nova informação toda fresquinha, por vezes oposta, a sair, incompetentemente feita e descartável logo...
Informação que, tão perecível como a anterior, porque opinião sem opinião, não fundamentada, vai caducar em três tempos - então, temos que voltar à opinião pensada, ao tempo de reflexão.
Digam-nos coisas sérias! Façam pensar quem não pensa, ilustrem os ignorantes!
a pobreza é fatal como o destino?
Que nos faça as perguntas certas. Ou nos ajude a encontrar as respostas que não nos dão...
“Quando a informação se torna em produto que perece,
abundantemente gratuita, quando o espectáculo dos sons e das imagens se
sobrepõe e destrói o sentido, apelamos para o recuo e distanciamento
necessários, para o passo atento e reflectido, para a leitura silenciosa longe
da cacofonia mediática”.
Uma nova vida?, pergunta Jean Daniel. Pelo menos muitas coisas
novas que vão num bom sentido: "acerto, enriquecimento dos assuntos e das
opiniões, aperfeiçoamento. Renegar o que se fez? Nunca, porque os ideais nunca
se renegam.”
Parabéns pela decisão e pela consciência! Bem, e obrigada! Deu-me um certo alento...
(*)http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.pt/2013/09/assim-vamos-na-sopa-dos-pobres.html
(*)http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.pt/2013/09/assim-vamos-na-sopa-dos-pobres.html
Já nem encontro palavras para o que se está a passar na Europa (com incidência muitíssimo grave na Grécia e em Portugal), mas por este andar, é um comboio descontrolado e desgovernado, que só para quando descarrilar, e o acidente final não vai ser coisa bonita de se ver... tristeza...
ResponderEliminarSim, muito grave. Assusta-nos... Mas não devemos desesperar, sim protestar!
EliminarAbraço
Às vezes existe mesmo um certo cansaço, por não ver mudar nada, ou mudar para pior, mas depois algo nos dá alento e vontade de continuar a fazer o que é possível: uns escrevendo, outros ensinando nas escolas, outros lutando de outra forma...
ResponderEliminarSe acreditamos em algo e procedemos de acordo com isso, alguma diferença há-de fazer!
Gosto dos seus post! Contagia-nos! É tão bom acreditar!
Um beijinho grande :)
Gosto muito de te ouvir dizer isto!
Eliminar"vontade de continuar a fazer o que é possível: uns escrevendo, outros ensinando nas escolas, outros lutando de outra forma."
Com toda a indignação possível e com toda a vontade de que as mesntalidades mudem! E tu estás bem colocada para pores a cabeça dos teus meninos a pensar por eles, depois de te ouvirem! hahaha!
beijinhos
Não se indignar, fazer de conta que as coisas não existem é a maior pobreza de todas. As coisas andam e param assim, dentro das nossas casas.
ResponderEliminarLutar amiga é sempre a melhor saída para garantir comida e dignidade nas mesas e nos lares.
bjs nossos, muitos e sempre
admiramos você, sabe disso.