Sim, o Ratinho foi aos Açores...mais o Ouricinho, claro. Desta vez tive
de os levar comigo porque é uma tristeza e um enorme sarilho quando viajo e os deixo em casa.
Fomos todos. Nunca vi tanta curiosidade em olhos tão
pequeninos! Queriam ver tudo, saber tudo. Aqueles dois são incansáveis quando
se trata de observar e têm sempre uma pergunta na ponta da língua. E uma
resposta...
- Olha ali Lisboa que linda! Mesmo por baixo de nós!, exclamou o
Ratinho Poeta.
- Que linda!, disse logo o Ouricinho. Viste as casinhas tão
pequeninas?
De repente, o avião levava-nos sobre as águas do mar. Chamei-lhes a atenção
- É a Ponte Vasco da Gama... Sim, é muito elegante. Parece uma fita
de seda branca desenrolada, aos lacinhos, sobre o rio.
Poesia, claro, ou não fosse o Ratinho um poeta. O Ouricinho
pergunta, admirado:
- Não, Dani, é o rio Tejo. O Mar da Palha como se chamava nos
tempos passados das nossas navegações...
O meu Ratinho é um pouco convencido. A verdade é que ainda hoje
se chama Mar da Palha à grande bacia, no estuário do Tejo.
A viagem continuou, com muitas exclamações de espanto e de
contentamento. Avistámos a Ilha Terceira, descemos e fomos ver Angra do
Heroísmo, pois tínhamos uma espera de cinco horas antes de apanharmos o avião para a
Graciosa.
Depois subimos e veio a Ilha Graciosa. Dias mais tarde, já víamos São Miguel.
Aviões que subiam e desciam e que nos levavam cada vez mais longe, por cima do
mar e daquelas ilhas maravilhosas.
- São as Ilhas Desconhecidas de que falava Raúl Brandão.
E contei-lhes quem era esse escritor, desconhecido nos tempos de hoje. E tão injustamente. Deixo uma imagem sua que vi no Museu de Santa Cruz.
E contei-lhes quem era esse escritor, desconhecido nos tempos de hoje. E tão injustamente. Deixo uma imagem sua que vi no Museu de Santa Cruz.
"Tanto mar!", pensava eu.
Em redor das ilhas, verde, azul-turquesa, as
rochas vulcânicas, negras que rebentavam como plantas selvagens do interior do
mar. O basalto negro, as escórias cor de fogo, os cones dos vulcões, as
crateras...
E verde, tanto verde: parques, florestas, lagunas nas
crateras dos vulcões extintos, prados onde pastavam vacas. O verde sem fim...
- Olha as vacas! Era o espanto do Ouricinho que ria às
gargalhadas. Ó Ratinho não vês as vaquinhas?
- Tanta terra para
elas passearem, tanta erva, tanta comida...
- E tudo verde! Nem parece verdade, dizia o Ouricinho
encantado. Só vi isto na Suíça! Bem, nas fotografias... Mas aqui as vacas até pastam no meio das hortenses!
Era bom sentir o entusiasmo destas duas criaturinhas a que me
afeiçoei. Tinham caído na minha vida sem saber de onde vinham e era bom
tê-los ao meu lado.
Crianças? Adolescentes? Para mim não tinham idade. Via-os por
vezes tão maduros na apreciação das coisas. Quem me dera que não crescessem
nunca!
- Ilhas tão lindas... Que terra maravilhosa - murmurou, quase
para si, o Ratinho.
- E tanta ervinha boa! Tão fresquinha, todos os dias! Que
sorte têm estas vacas!
Era o Ouricinho.
- Pois é. Não admira
que haja tão bom leite e queijos nos Açores.
Era concluiu o Ratinho, que em conversa nunca lhe ficava atrás...
Era concluiu o Ratinho, que em conversa nunca lhe ficava atrás...
Passeávamos, de carro, olhando tudo, visitando tudo. Os amigos, incansáveis, levaram-nos a
ver o que havia de bonito. E era tudo bonito.
Estávamos na Graciosa, perto das Termas de água quente,
debruçados no parapeito sobre o mar.E espreitámos as grutas e as antigas termas escavadas na rocha.
- Ó Ratinho, como adivinhaste? É o Ilhéu Baleia...
O tempo estava agradável, por vezes um chuvisco leve, mas quase
sempre o sol. As noites eram calmas, frescas, e
era bom andar na rua, de passeio. Eram mesmo férias!
Estivemos na Festa do Senhor dos Milagres, em Santa Cruz da Graciosa, os
meninos a brincar ao pé do terreiro no
Parque Infantil, a Filarmónica a tocar Jazz, as pipocas com sabor a
chocolate...
E voámos outra vez e lá chegou a maravilha de São Miguel. De dia e de noite, na esplanada ao pé das Portas do Mar.
Ou na Marginal, no porto, a ver cair a noite e a ouvir as ondas virem rebentar devagarinho na areia.
Ou na Marginal, no porto, a ver cair a noite e a ouvir as ondas virem rebentar devagarinho na areia.
De manhã era o pequeno almoço que tomávamos o mais tarde possível, a ver lá fora a piscina...
O passeio a pé era a todas as horas. Na Graciosa e em São Miguel... Tudo valia pena ser visto!
O passeio a pé era a todas as horas. Na Graciosa e em São Miguel... Tudo valia pena ser visto!
E a noite chegava, com o seu encanto especial...Depois de ver os barcos no porto íamos sentar-nos na esplanada, em frente da Igreja Matriz, iluminada. E eles adormeciam e tinha que os levar ao colo para o hotel.
E a caleche com os cavalos? Ah! Eram coisas de mais para eles!
O Ratinho e o Ouricinho estão habituados ao sossego da "nossa" casa. A dada altura, via-os cansados e percebi que tinham vontade de voltar. E confesso que eu também.
O regresso foi um alívio para eles. O voo nocturno
permitiu-lhes dormir bem agarradinhos a uma almofada.
Eu encostei-me a ler um policial: vinha cansada de subir
e descer, andar, trepar pelos carreirinhos de sítios infindáveis, porque havia sempre algo mais
bonito ainda a ver um pouco mais adiante...
- Casa, my sweet
casa!, disse o Ratinho, quando abrimos a porta. O Ouricinho olhou para nós, riu-se e disse:
- Só o Manuel é que nunca quer voltar
para casa...
Quando acabei de desfazer as malas e arrumar toda a tralha
onde podia, fui-me deitar no chão, que é a melhor solução para as dores das
costas...
- Não tens uma cama ali ao lado?, indignou-se o Ouricinho.
Uma caminha tão boa!
Já estavam deitados, mas o Ratinho explicou, calmamente:
- São as costas dela, Ouricinho. Não sabes que tem dores nas costas?
- São as costas dela, Ouricinho. Não sabes que tem dores nas costas?
- Então, vou-me deitar ao pé dela! Que linda noite, não achas?
E levou o saco-cama para o pé de mim. Sorri. Conheço bem a ternura daqueles dois.
O Ratinho abanou a cabeça, sorriu, condescendente, e veio
deitar-se ao pé de nós.
- Sim, uma noite linda...
- Sim, uma noite linda...
- E o que vai dizer o Manuel?
Era o Ouricinho a falar. E ouvi as gargalhadinhas dele, antes de começar a dormir.
Pareceu-me ouvi-lo ainda dizer:
"Ah! mas acho que tenho saudades das vaquinhas", e um grande suspiro acompanhou este pensamento do Ouricinho...
"Ah! mas acho que tenho saudades das vaquinhas", e um grande suspiro acompanhou este pensamento do Ouricinho...
* * *
Como achaste as pessoas que vivem nos Açores? Num entorno tão idílico, devem ter muita paz, e um ritmo diferente de vida, Não?
ResponderEliminarGostei da tua reportagem, és uma boa reporteira.
Saudades aos teus meninos. BEIJINHOS
Logo escrevo com mais calma, acabou-se-me o tempo. Gostei de ver-te com a tua amiga, uma boa amiga é um tesouro. Sempre.
ResponderEliminarNão te apetece ter um cãozinho? A mim sim, fui eu que convenci uma amiga, solteira, a ter um, e agora está louca com o animal!!
Até breve, beijinho
Belíssimas fotografias, como sempre. Gostei muito das da ponte, porque me parecem raras.
ResponderEliminarAdorei o texto, que escreve com a sabedoria de quem sabe ver e ensinar.
Esses dois são o máximo! Ainda bem que desta vez os levou! Ficariam muito tristinhos...
Tão bonitos os seus post!
Um beijinho e um bom fim-de-semana!
Maria João, os Açores com os nossos amiguinhos ainda ficaram mais maravilhosos...:))
ResponderEliminarEra imperdoável privá-los desta viagem!!
Mas, por mais maravilhosos que sejam os dias e o que se vê, o regresso a casa, ao nosso porto de abrigo, é sempre algo indescritível! É o nosso mundo, onde nos sentimos seguros!
Um beijinho.:))