sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O RATINHO FOI AOS AÇORES...



Sim, o Ratinho foi aos Açores...mais o Ouricinho, claro. Desta vez tive de os levar comigo porque é uma tristeza e um enorme sarilho quando viajo e os deixo em casa.

Fomos todos. Nunca vi tanta curiosidade em olhos tão pequeninos! Queriam ver tudo, saber tudo. Aqueles dois são incansáveis quando se trata de observar e têm sempre uma pergunta na ponta da língua. E uma resposta...

No avião lá estavam os dois a espreitar.
- Olha ali Lisboa que linda! Mesmo por baixo de nós!, exclamou o Ratinho Poeta.
- Que linda!, disse logo o Ouricinho. Viste as casinhas tão pequeninas?


De repente, o avião levava-nos sobre as águas do mar. Chamei-lhes a atenção
- Ó Ratinho e Ouricinho, vejam o mar e a ponte! É tão elegante...

- É a Ponte Vasco da Gama... Sim, é muito elegante. Parece uma fita de seda branca desenrolada, aos lacinhos, sobre o rio.


Poesia, claro, ou não fosse o Ratinho um poeta. O Ouricinho pergunta, admirado:

- Então ali não é o mar? O mar é tão grande...

- Não, Dani, é o rio Tejo. O Mar da Palha como se chamava nos tempos passados das nossas navegações...

O meu Ratinho é um pouco convencido. A verdade é que ainda hoje se chama Mar da Palha à grande bacia, no estuário do Tejo.

A viagem continuou, com muitas exclamações de espanto e de contentamento. Avistámos a Ilha Terceira, descemos e fomos ver Angra do Heroísmo, pois tínhamos uma espera de cinco horas antes de apanharmos o avião para a Graciosa.





Depois subimos e veio a Ilha Graciosa. Dias mais tarde, já víamos São Miguel. Aviões que subiam e desciam e que nos levavam cada vez mais longe, por cima do mar e daquelas ilhas maravilhosas.


- São as Ilhas Desconhecidas de que falava Raúl Brandão. 
E contei-lhes quem era esse escritor, desconhecido nos tempos de hoje. E tão injustamente. Deixo uma imagem sua que vi no Museu de Santa Cruz.


"Tanto mar!", pensava eu. 

Em redor das ilhas, verde, azul-turquesa, as rochas vulcânicas, negras que rebentavam como plantas selvagens do interior do mar. O basalto negro, as escórias cor de fogo, os cones dos vulcões, as crateras...

E verde, tanto verde: parques, florestas, lagunas nas crateras dos vulcões extintos, prados onde pastavam vacas. O verde sem fim...


- Olha as vacas! Era o espanto do Ouricinho que ria às gargalhadas. Ó Ratinho não vês as vaquinhas?
O Poeta tinha visto, sim, e comentou:

-  Tanta terra para elas passearem, tanta erva, tanta comida...
- E tudo verde! Nem parece verdade, dizia o Ouricinho encantado. Só vi isto na Suíça! Bem, nas fotografias... Mas aqui as vacas até pastam no meio das hortenses!


Era bom sentir o entusiasmo destas duas criaturinhas a que me afeiçoei. Tinham caído na minha vida sem saber de onde  vinham e era bom tê-los ao meu lado.
Crianças? Adolescentes? Para mim não tinham idade. Via-os por vezes tão maduros na apreciação das coisas. Quem me dera que não crescessem nunca!



- Ilhas tão lindas... Que terra maravilhosa - murmurou, quase para si, o Ratinho.
- E tanta ervinha boa! Tão fresquinha, todos os dias! Que sorte têm estas vacas!
Era o Ouricinho.
- Pois é.  Não admira que haja tão bom leite e queijos nos Açores.
Era concluiu o Ratinho, que em conversa nunca lhe ficava atrás...
Passeávamos, de carro, olhando tudo, visitando tudo. Os amigos, incansáveis, levaram-nos a ver o que havia de bonito. E era tudo bonito.

- Olha aquela rocha! Só parece uma baleia.

Estávamos na Graciosa, perto das Termas de água quente, debruçados no parapeito sobre o mar.E espreitámos as grutas e as antigas termas escavadas na rocha.



- Ó Ratinho, como adivinhaste? É o Ilhéu Baleia...
- Óbvio...parece uma baleia de verdade!




O tempo estava agradável, por vezes um chuvisco leve, mas quase sempre o sol. As noites eram calmas, frescas, e  era bom andar na rua, de passeio. Eram mesmo férias!



Estivemos na Festa do Senhor dos Milagres, em Santa Cruz da Graciosa, os meninos a brincar ao  pé do terreiro no Parque Infantil, a Filarmónica a tocar Jazz, as pipocas com sabor a chocolate...





E voámos outra vez e lá chegou a maravilha de São Miguel. De dia e de noite,  na esplanada ao pé das Portas do Mar





Ou na Marginal,  no porto, a ver cair a noite e a ouvir as ondas virem rebentar devagarinho na areia. 


Enquanto um Carrocel pequenino girava e girava.



De manhã era o pequeno almoço que tomávamos o mais tarde possível, a ver lá fora a piscina...




O passeio a pé era a todas as horas. Na Graciosa e em São Miguel... Tudo valia pena ser visto! 




E a noite chegava, com o seu encanto especial...Depois de ver os barcos no porto íamos sentar-nos na esplanada, em frente da Igreja Matriz, iluminada. E eles adormeciam e tinha que os levar ao colo para o hotel. 






E a caleche com os cavalos? Ah! Eram coisas de mais para eles! 



O Ratinho e o Ouricinho estão habituados ao sossego da "nossa" casa. A dada altura, via-os cansados e percebi que tinham vontade de voltar. E confesso que eu também.

O regresso foi um alívio para eles. O voo nocturno permitiu-lhes dormir bem agarradinhos a uma almofada. 

Eu encostei-me a ler um policial: vinha cansada de subir e descer, andar, trepar pelos carreirinhos de sítios infindáveis, porque havia sempre algo mais bonito ainda a ver um pouco mais adiante...

- Casa, my sweet casa!, disse o Ratinho, quando abrimos a porta. O Ouricinho olhou para nós, riu-se e disse:
-  Só o Manuel é que nunca quer voltar para casa...

Quando acabei de desfazer as malas e arrumar toda a tralha onde podia, fui-me deitar no chão, que é a melhor solução para as dores das costas...

- Não tens uma cama ali ao lado?, indignou-se o Ouricinho. Uma caminha tão boa!


Já estavam deitados, mas o Ratinho explicou, calmamente:
- São as costas dela, Ouricinho. Não sabes que tem dores nas costas?
- Então, vou-me deitar ao pé dela! Que linda noite, não achas?


E levou o saco-cama para o pé de mim. Sorri. Conheço bem a ternura daqueles dois.
O Ratinho abanou a cabeça, sorriu, condescendente, e veio deitar-se ao pé de nós. 
- Sim, uma noite linda...
- E o que vai dizer o Manuel?
Era o Ouricinho a falar. E ouvi as gargalhadinhas dele, antes de começar a dormir. 
Pareceu-me ouvi-lo ainda dizer: 
"Ah! mas acho que tenho saudades das vaquinhas", e um grande suspiro acompanhou este pensamento do Ouricinho...



* * *

(*) O Mar da Palha é uma grande bacia no estuário do Rio Tejo próximo da sua foz, que no seu ponto mais largo atinge os 23km de largura.

4 comentários:

  1. Como achaste as pessoas que vivem nos Açores? Num entorno tão idílico, devem ter muita paz, e um ritmo diferente de vida, Não?
    Gostei da tua reportagem, és uma boa reporteira.
    Saudades aos teus meninos. BEIJINHOS

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  2. Logo escrevo com mais calma, acabou-se-me o tempo. Gostei de ver-te com a tua amiga, uma boa amiga é um tesouro. Sempre.
    Não te apetece ter um cãozinho? A mim sim, fui eu que convenci uma amiga, solteira, a ter um, e agora está louca com o animal!!
    Até breve, beijinho

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  3. Belíssimas fotografias, como sempre. Gostei muito das da ponte, porque me parecem raras.

    Adorei o texto, que escreve com a sabedoria de quem sabe ver e ensinar.

    Esses dois são o máximo! Ainda bem que desta vez os levou! Ficariam muito tristinhos...

    Tão bonitos os seus post!

    Um beijinho e um bom fim-de-semana!

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  4. Maria João, os Açores com os nossos amiguinhos ainda ficaram mais maravilhosos...:))
    Era imperdoável privá-los desta viagem!!

    Mas, por mais maravilhosos que sejam os dias e o que se vê, o regresso a casa, ao nosso porto de abrigo, é sempre algo indescritível! É o nosso mundo, onde nos sentimos seguros!

    Um beijinho.:))

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