Nathaniel Hawthorne
Bem, a verdade é que soube agora que, em data desconhecida, Fernando Pessoa traduziu o famoso -e dramático- romance de Hawthorne The Scarlet Letter (1850). Com o título de "A Letra Encarnada".
A letra escarlate era a que "marcava" a fogo as mulheres pecadoras, as adúlteras. Era um "A" vermelho, cor do fogo: escarlate. É uma história intrincada em que o mal aparece ligado ao próprio o puritanismo americano – tema central da tradição gótica. Ao puritanismo do autor, afinal, que ele próprio assume tratar nas suas obras.
A dado momento, a protagonista Hester Hynes lamenta a sua sorte e diz : “One day there will be a new world – a better world for women” (Um dia surgirá um mundo novo - um mundo melhor para as mulheres).
Lembro-me da edição da Colecção Romano Torres onde o li, há muitos anos, e se chamava A Letra Escarlate e que tem sido reeditado (já vai na 4ª edição) com o mesmo nome.
Nessa colecção magnífica, li eu todo o Walter Scott que lá havia, o Wilkie Collins, o Dickens do Mr. Pickwick ou Tempos Difíceis e A Dama Velada, de Nathaniel Hawthorne também.
(Outras edições existem hoje: da Assírio e Alvim, da Companhia das Letras, no Brasil, e outras, umas vezes usando a palavra "escarlate", outras "encarnada")
O livro a que me refiro foi publicado pela Dom Quixote em 1988 com o subtítulo: Tradução inédita de Fernando Pessoa.
Tem um prefácio muito interessante de George Monteiro que aponta para as muitas interrogações que nos podemos pôr: quando terá sido terminada a tradução?, por que a terá feito Pessoa?, foi desejo seu apenas?, alguém lha terá encomendado?, haveria algum editor solicitado a tradução?
Mais um mistério de Pessoa. De facto, são perguntas a que o autor do prefácio não sabe responder. Ignorada, a tradução "permaneceu entre um amontoado de papéis de Pessoa só Deus sabe desde quando", diz George Monteiro (p.10).
E continua: "Não indagarei das razões porque este inédito jamais atraiu a atenção dos pessoanos; (...) o próprio Gaspar Simões uma vez me respondeu muito honesta e francamente que desconhecia completamente tal assunto." (p.10)
A letra escarlate era a que "marcava" a fogo as mulheres pecadoras, as adúlteras. Era um "A" vermelho, cor do fogo: escarlate. É uma história intrincada em que o mal aparece ligado ao próprio o puritanismo americano – tema central da tradição gótica. Ao puritanismo do autor, afinal, que ele próprio assume tratar nas suas obras.
A dado momento, a protagonista Hester Hynes lamenta a sua sorte e diz : “One day there will be a new world – a better world for women” (Um dia surgirá um mundo novo - um mundo melhor para as mulheres).
Charles Dickens
Nessa colecção magnífica, li eu todo o Walter Scott que lá havia, o Wilkie Collins, o Dickens do Mr. Pickwick ou Tempos Difíceis e A Dama Velada, de Nathaniel Hawthorne também.
(Outras edições existem hoje: da Assírio e Alvim, da Companhia das Letras, no Brasil, e outras, umas vezes usando a palavra "escarlate", outras "encarnada")
Tem um prefácio muito interessante de George Monteiro que aponta para as muitas interrogações que nos podemos pôr: quando terá sido terminada a tradução?, por que a terá feito Pessoa?, foi desejo seu apenas?, alguém lha terá encomendado?, haveria algum editor solicitado a tradução?
Mais um mistério de Pessoa. De facto, são perguntas a que o autor do prefácio não sabe responder. Ignorada, a tradução "permaneceu entre um amontoado de papéis de Pessoa só Deus sabe desde quando", diz George Monteiro (p.10).
E continua: "Não indagarei das razões porque este inédito jamais atraiu a atenção dos pessoanos; (...) o próprio Gaspar Simões uma vez me respondeu muito honesta e francamente que desconhecia completamente tal assunto." (p.10)
Na referida introdução à tradução de Pessoa, encontrei uma informação interessante:
"Constitui nota curiosa e pouco conhecida o facto de Nathaniel Hauthorne, logo após a publicação, em 1850, da sua obra-prima, 'A Letra Encarnada', ter encarado a possibilidade de prosseguir a sua carreira diplomática em Portugal.
A 11 de Dezembro de 1852 escrevia o romancista ao seu editor, James T. Fields, de Boston:
'Queira investigar-me algumas coisas sobre Portugal - como, por exemplo, em que parte do mundo se situa, e se é um império, uma monarquia ou uma república. Saiba-me também - e o mais minuciosamente possível- as condições do custo de vida bem como se o ministro plenipotenciário é propenso a ser demasiado importunado pelos seus compatriotas.' (in Introdução, pág. 9)
"Constitui nota curiosa e pouco conhecida o facto de Nathaniel Hauthorne, logo após a publicação, em 1850, da sua obra-prima, 'A Letra Encarnada', ter encarado a possibilidade de prosseguir a sua carreira diplomática em Portugal.
'Queira investigar-me algumas coisas sobre Portugal - como, por exemplo, em que parte do mundo se situa, e se é um império, uma monarquia ou uma república. Saiba-me também - e o mais minuciosamente possível- as condições do custo de vida bem como se o ministro plenipotenciário é propenso a ser demasiado importunado pelos seus compatriotas.' (in Introdução, pág. 9)
O Porto de Salem, óleo de Fitz Hugh Lane (1853)
A verdade é que Nathaniel Hawthorne não veio, chargé d'affaires, para Portugal, mas foi, sim (coisa de certeza mais importante na sua carreira), parar a Liverpool, como cônsul.
Hawthorne, 1848
Pessoa era um bom tradutor, vou reler o livro agora nesta edição, com curiosidade e interesse, claro... A espreitar a edição inglesa just in case...
NOTA BIOGRÁFICA:
Nathaniel Hawthorne nasceu em Salem, no Massachusetts, no dia 4 de Julho de 1804, e morreu em 19 de Maio de 1864, em Plymouth. Os seus antepassados tinham-se estabelecido nos Estados Unidos no século XVII.
Era uma família de tradição puritana: Hawthorne era bisneto de um dos juízes das Feiticeiras de Salem (*), julgamento de várias pessoas (mulheres, sobretudo) acusadas de bruxaria, torturadas e condenadas à morte, julgamento controverso em que a barbárie medieval parece ressurgir.
Hawthorne foi amigo de H.D. Thoreau e de Emerson.
Em 1825, já tinha escrito muitos contos, que foram publicados em jornais, e são, mais tarde, reunidos no volume Twice-told tales (1837, Histórias contadas duas vezes) com boa recepção crítica.
Em 1846, sai outra colectânea de contos: Mosses from an old manse (Musgos de um velho solar).
Em Março de 1850
publica então The Scarlet Letter, que se esgota num mês. Nesse mesmo ano, em Agosto, encontra Hermann Melville (1819-1881) e
tornam-se grandes amigos.
Nathaniel Hawthorne é considerado o maior dos novelistas americanos e um dos melhores autores que escreveram em língua inglesa.
Era uma família de tradição puritana: Hawthorne era bisneto de um dos juízes das Feiticeiras de Salem (*), julgamento de várias pessoas (mulheres, sobretudo) acusadas de bruxaria, torturadas e condenadas à morte, julgamento controverso em que a barbárie medieval parece ressurgir.
Óleo de Matteson, inspirado no Julgamento de Salem
Gravura do século XIX, As Bruxas de Salem
Henry DavidThoreau
Em 1825, já tinha escrito muitos contos, que foram publicados em jornais, e são, mais tarde, reunidos no volume Twice-told tales (1837, Histórias contadas duas vezes) com boa recepção crítica.
Em 1846, sai outra colectânea de contos: Mosses from an old manse (Musgos de um velho solar).
A velha mansão onde Hawthorne viveu, em Concord (a partir de 1848)
Moby Dick, a Baleia Branca, de Melville
Escreve mais dois romances, A Casa das Sete Torres (1851, Casa das Sete Empenas, no Brasil) e O Romance de Blithedale
(1852).
Em 1858 viaja por França e Itália. Em 1860, publica
O Fauno de Mármore, romance ambientado em Itália. Publica também Our Old Home : a recolha de vários textos e contos que escrevera sobre Inglaterra.
Tem ainda uma história para crianças: Wonder Book for girls
and boys: maravilhas das lendas gregas contadas às crianças (1852). E em 1853 sai a continuação: os "Tanglewood Tales."
Nathaniel Hawthorne é considerado o maior dos novelistas americanos e um dos melhores autores que escreveram em língua inglesa.
Não sei se tenho alguma coisa de Nathaniel Howthorne, mas não tenho a Letra Encarnada. Vou tentar arranjar, para ler...quando me aposentar, se a vista e a paciência não me faltarem! Ah!Ah!Ah!
ResponderEliminarAinda não consegui começar a cumprir os meus objectivos na leitura, para este ano, mas em breve já estou organizada para isso ( para ver se leio mais que no ano passado, que li pouquíssimo) .
Um beijinho grande :)
É um romance muito triste e duro. Guarda-o para a reforma!!!! Há tanta coisa boa e mais alegre para leres! Um beijo e fazes bem em ter projectos sempre renovados de leituras!
ResponderEliminarMaria João, nunca li nada de Nathaniel Howthorne. Tendo em minha posse a edição inglesa e a respectiva tradução de F. pessoa para português, achei que fazia todo o sentido não as separar, pois assim dá para confrontar uma com a outra! Não que duvide das capacidades de F. Pessoa... longe disso!
ResponderEliminarMaria João, se é um romance triste e duro, vá adiando a leitura!
Um beijinho.:))
Obrigada, Cláudia, pelo conselho. De facto, acho que não o vou reler para já! Um beijinho!
ResponderEliminarLi o livro há mil anos, só me lembro que era curto mas que não foi uma leitura fácil. Seria essa tradução? penso que não, pois lembrar-me-ia talvez. Pessoa era bilingue, e ganhou muitas vezes a vida como traductor. Não sei como teve tempo para deixar a obra que deixou, e trabalhar noutras coisas !
ResponderEliminarBeijos