segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Hoje é o Dia dos Reis Magos!


Sandro Boticelli, Adoração dos Reis Magos

O Natal não acaba até chegarem os Reis Magos, creio eu. Um pouco antes, um pouco depois, mas sempre à roda da noite de 24 de Dezembro, os povos do mundo festejam o seu "natal", conscientes ou não da simbologia dessa data. 



Amanhã é o Natal ortodoxo, o dia em que a natividade se festeja na Rússia, nos países eslavos, e na Grécia. 


Natal russo

Em Itália, em vez dos Reis - que são desconhecidos ou pouco importantes - festeja-se a Befana, a bruxa boa que, montada ou não na sua vassoura, traz as prendas à miudagem. 


La befana vien di notte...

"Befana" (*)é, no fim e ao cabo, uma corruptela da palavra "epifania" (aparição ou acontecimento invulgar)?

Há quem defenda, porém, que a "Befana" teria origem na figura de uma deusa sabina, Strenia, que trazia presentes: tâmaras, figos e mel. 


A Befana vem de noite e põe doces e caramelos. Ou carvão!


A Epifania festeja-se em França e come-se neste dia o bolo "galette des rois".


Jean-Baptiste Greuze, La Galette des Rois

La Galette des Rois (Marisa V.M. in Facebook)

Aqui fala-se é de Reis Magos. Ou, come me ensinou hoje a Isabel, "Reis Magros" que é o que dizem os seus alunos pequeninos. 

Na boca das crianças, a verdade! De facto, os Reis "Magos" pela Europa são hoje mais Magros do que Magos... Mas sempre alguma magia trazem! 

Porque os sentimos vir de longe, paulatinamente (como se dizia em Sâo Tomé...), carregados de riquezas lá dos orientes sonhados.



Os Reis Magos (os magos, ou magoï, eram padres do Zoroatrismo, religião da Pérsia) e aparecem num episódio do Evangelho de São Mateus: avisados desse “acontecimento espantoso", seguindo uma estrela,  vêm do Oriente, seguindo uma estrela a Belém saudar o “rei dos judeus” acabado de nascer. 

Adoração, de Albrecht Altdorfer

E as noites de Reis parecem sempre mais luminosas e estreladas na nossa imaginação...


Os Reis lembro-me de os festejar, com o bolo-rei é claro. No bolo-rei, no entanto, o que interessava às crianças, acima de tudo, era a prenda que vinha dentro e que todas ambicionávamos: uma prenda minúscula embrulhada num papel de seda e bem misturada no interior da massa do bolo, com as frutas cristalizadas e toda a variedade de frutos secos por vezes também. 


Bolo-rei da Gui (comprado na Garrett!)

A outra curiosidade do bolo era não sermos nós a receber a fava! Porque, como todos sabem, na massa levedade, se punha uma fava bem dura que seria destinada ao que, nesse ano, iria ser “castigado”, menos amado, menos mimado? Ou, apenas, o que teria de comprar o bolo no ano seguinte...

De Espanha, chegou-nos depois a ideia de que os Reis Magos traziam prendas, uma vez que, no imaginário cristão, os Reis -que vêm do Oriente -trazem presentes extraordinários e "simbólicos" ao menino nascido: ouro, incenso e mirra. 

Por isso,  é no dia de Reis e não no Natal que os meninos espanhóis recebem os seus presentes.
Diferentes costumes, festas iguais...ou parecidas!



12 comentários:

  1. <3 FANTÁSTICO TEXTO...COMO SEMPRE!...aprendemos sempre ao "ler-te"...obrigada,prima...lindo!

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  2. Primoroso e espetacular, tudo mesmo. Um show de informação. Pra nós que acredita no senhor Noel e nos Três Reis Magos (ou Magros), na bruxinha da fartura e dom agouro, montada em sua vassoura, já hoje motorizada, o que dirá do nosso querido Jesus em sua manjedoura, pobre e humilde, mas rica em sabedoria...essa mesma que permanece até hoje.

    ameiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii a senhora ensinando e aprendendo com essa gente linda, nessa cozinha que respira vida. Chegou com muito carinho, das calins e romis do Brasil.
    bjs muitos.

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  3. Como dizem as nossas amigas: "Primoroso e espetacular. Um show de informação."
    Gostei tanto de ler tudo isto e há coisas que desconhecia completamente, por exemplo a Befana, que achei interessantíssimo. Às vezes não compreendemos as coisas, porque desconhecemos a sua origem. Nunca veria uma bruxinha simpática ligada às festividades desta época e no entanto aí está ela, bem explicada!

    Post maravilhoso, cheio de coisas lindas: a pintura , as informações novas, a bruxinha engraçada, o Calvin e Hobbs e a foto dos amiguinhos (o grupo vai crescendo!)

    Ri-me aqui sozinha quando vi a referência aos Reis Magros!

    ADOREI!
    Um beijinho grande e continuação de boa semana :)

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    1. Isabel,! minha fiel leitora, tu dás força à minha imaginação! A bruxinha é um encanto e fartei-me de comprar bruxinhas pequeninas lá nas barracas para dar sorte, mas ofereci-as todas... se não dava-te uma. O Calvin e o Hobbes são os maiores! Bem, a seguir ao Ratinho e ao Ouricinho....
      Beijinhos

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    2. Ainda bem que assim é, porque não passo sem a minha visitinha diária ao seu blogue, que é, de longe, um dos dois ou três melhores que conheço. E conheço muitos, muitos!
      Continue por aqui com as suas histórias deliciosas e os seus conhecimentos que enriquecem quem a lê!
      Obrigada!
      Um beijinho :)

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  4. Beijo bem grande,e faço votos para não esquecer desta data, pois a grandeza dos REIS não é trazer presentes, senão de nos reunir como família.
    precioso texto....como sempre., María.....

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  5. Nota-se que gostas do Natal, que é realmente uma quadra do ano em que os sentimentos e a fantasia se desbordam sem pudor, repetem-se os mesmos clichés ano trás ano, e não importa nada. Acho que o Natal continua a ser o que é porque somos os adultos que o necessitamos e lhe damos o verdadeiro sentido. Somos nós que precisamos de recordar a infância, não a infância que quere recordar-se a si mesma.... As crianças de agora estão saturadas de brinquedos e folgórios durante todo o ano ( a Carolina passa a vida disfarçada, vai assim para a rua em quaquer época, e não há quem a contrarie, talvez por comodidade, porque é muito cabeçona...).
    Vivamos pois o "nosso" Natal, com bruxinhas ou reis magos, com musgo natural no presépio ou com pinheiros de plástico, que mais dá, sempre que ainda nos apeteça sonhar!!
    Por certo, esta tarde vou já de rebaixas, para toda a família, em busca da ganga perdida, que é uma coisa que adoro: não tem magia nenhuma, mas eu no Corte Inglés esqueço-me de Tudo, por muito prosaico que te pareça, eh eh.
    Um grande beijo

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  6. Maria, last but not least, um Bom Ano! A criança que fomos - ainda somos? (era o Fernando Pessoa que falava disto - já que ele falou de tudo e mais alguma coisa!- esse é o problema, porque quando não formos crianças cá no fundo de nós, acaba-se a magia das coisas...E se perdemos isso, como comunicá-lo depois aos outros? bem faz a tua Carol a andar a brincar, inventando cada dia, mascarada como lhe apetece!
    Um beijinho e bom ao Ano!

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  7. Maria João,
    Desconhecia a história da befana. Um belíssimo registo.
    Obrigada por mais esta partilha. :))
    Beijinho.

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