Chagall, "O Rabi pensativo, com a Torah"
Em poucos livros religiosos como no "Pirqe Abot (A Ética dos Pais)" encontro a paz e o entendimento
de mim e daquilo em que acredito.
Páginas maravilhosas sobre a nossa responsabilidade na nossa vida, para com os outros, de observação de nós próprios para não sermos nós os que trazem a dor, para sermos nós a saber perdoar, para sermos nós a valorizar e não a destruir.
Páginas maravilhosas sobre a nossa responsabilidade na nossa vida, para com os outros, de observação de nós próprios para não sermos nós os que trazem a dor, para sermos nós a saber perdoar, para sermos nós a valorizar e não a destruir.
O que não impede que me encantem certas passagens dos Evangelhos,
sobretudo o de São João, ou dos Salmos, outra das minhas leituras de
cabeceira.
Tenho na minha gavetinha, ao lado da cabeça, um volumezinho dos Salmos, que me foi oferecido em Israel pelo Manuel, quase uma miniatura, onde vou procurar, abrindo
ao acaso, o salmo do meu dia.
Marc Chagall, "Rabi no Sukhot"
Aquela religião em que se procura que a vida e a morte sejam ambas parte da dignidade a que o homem tem direito.
Leio no Pirqe Abot, hoje, e procuro nas imagens que Chagall nos deixou de vários "rabinos", a inspiração.
Rabinos como o Rabi (ou Rabino) Hillel - que diz:
“Ama
os outros, não te afastes da comunidade, não respondas por ti antes do dia da
tua morte. Não julgues o teu próximo até te encontrares na sua situação” (Cap. II, 5)
Sim, o doce Hillel que
eu admiro disse-o: Hillel que que me lembra o “suave Jesus” que sabe perdoar e ajudar de que falou Eça nos seus Contos.
Hillel,
que defendeu a paz e a justiça, dizia:
Leonardo da Vinci, "Última Ceia", antes do restauro (pormenor)
“Procurai
ser discípulos de Aarão, amai a paz, procurai a paz, amai a humanidade e
exortai-a ao estudo da lei Divina.” (Cap
I, 12)
O Rabi que recusa a vingança, que previne os que matam o seu
semelhante de que serão mortos por isso mesmo. Ao ver um crânio sobrenadando um
rio, disse:
“Porque
afogaste outras pessoas, foste afogado, e quem te afogou virá também a ser
afogado”. . (Cap II, 7)
Não por
vingança, mas por justiça.
Marc Chagall, "O Rabi com a Torah vermelha"
O Rabi Hillel, o justo Hillel, que aconselha que se siga a ciência, o estudo, e que dá estes conselhos, ainda hoje modernos e fundamentais:
“Muito, estudo, muita
ciência; muita prudência, muito entendimento; muita justiça, muita paz.” (Cap. II, 8)
Serei ateia? Pouco importa. Sei que uma religião que não seja
a da recusa ou da exclusão do outro, do
ódio e da inveja, do poder de um sobre o outro, da recriminação e do castigo,
essa eu aceito.
A que seja a do
abrir-se ao outro, abrir-se ao conhecimento da vida, deixar para trás a vingança e a
ignorância, ensinar os tímidos que não aprendem, não ser presunçoso a ensinar, essa eu aceito.
Tanta coisa séria nos ensinam estes livros! Continuo com o Rabi Hillel:
"Aquele que quer muita
celebridade, perde a que já tem; o que não aumenta os seus conhecimentos,
diminui-os; quem não se quer instruir não é digno de viver. (...)”
Chagall, "Rabi a estudar a Torah"
“Se eu não for por mim quem será por mim? E se
eu não tomar conta de mim, quem sou eu? E se não for agora, quando será? (CAP I, 13)
Chagall, "Lamentação de Jeremias com a Torah"
“O idiota não teme o pecado; o ignorante não pode ser verdadeiramente devoto; o tímido não aprende; o irascível não ensina; os que se deixam absorver pelo comércio não adquirem a ciência.”
E conclui, apontando a Ética, que todos deveriam - deveríamos!- respeitar:
“ Onde não houver
homens, procura ser homem.” (Cap II , 6) Ou Poeta...
Fico-me hoje pelo Rabi Hillel, mas muito haveria a dizer sobre a Ética! Aqui e noutros lugares. O importante é não ficarmos calados! Tentarmos subir um pouco: nós e os outros...
(*) “PIRQÉ ABÓT, A ÉTICA
DOS PAIS”, traduzido do hebraico por Moses Bensabat Amzalak, lisboa,
Imprensa Nacional, 1927
http://www.mycrandall.ca/courses/ntintro/lifej/PDFReadings/Abot.pdf
(**) O Rabino Hillel (60 aC- 9 eC) foi um famoso cabalista, uma das
figuras mais importantes da história de Israel. Viveu no tempo de Herodes. Está
associado ao estudo do Talmud e da Mishnà. Considerado um grande sábio e
estudioso, foi o fundador da Escola de Hillel (Escola para Tannaïm, ou Sábios
da Mishnà).
Muito interessante este post.
ResponderEliminarAs pinturas são lindas e gostei de ler sobre o Rabit Hillel e as suas ideias. Essa frase "não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti" ensino-a muito aos meus alunos, fazendo-lhes ver o seu significado.
Estive a ler os dois primeiros links que deixou. O terceiro em inglês é que não.
Não sei se a Maria João é ateia, eu sou católica, mas independentemente da religião, de acreditarmos ou não em algo, essa deveria ser uma máxima para nos orientar a todos: "Não faças aos outros o que não queres para ti!".
Gostei muito do post!
O livro de que fala não deve ser fácil de encontrar, mas vou espreitar no site Wook.
Um beijinho grande :)
Tens toda a razão, Isabel. Aliás, importante é o que nos aproxima sempre e não o que nos pode afastar... Beijinhos
EliminarHá definições que eu não compreendo. "Ateu", segundo o dicionário, é quem não acredita na existência de Deus. Mas então temos que definir Deus. Voltando ao dicionário "o criador e o preservador do universo". Ora todos acreditames que o universo existe, porque o vemos, porque estamos dentro dele, e que ele se rege por leis inteligentes. Tentamos definir essas leis. Se as seguimos a nossa vida funciona, se as infringimos ela não funciona. É como o computador. Dizemos que são as Leis do Universo. Logo, todos acreditamos em alguma coisa. Uns chamam-lhe Universo, outros chamam-lhe Deus. É um conceito e uma questão de semântica. Não há ateus.
ResponderEliminarSim, Inácio, e eu a si ouço-o sempre. Chamemos-lhe o que lhe chamemos há algo que existe, onde estamos, que nos regula ou desregula a vida...
EliminarComo diz, "acreditamos que o universo existe, porque o vemos, porque estamos dentro dele, e que ele se rege por leis inteligentes. Tentamos definir essas leis. Se as seguimos a nossa vida funciona, se as infringimos ela não funciona..."
Um grande abraço
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
ResponderEliminarMaría, "saltou" o teu comentário com um click! Queres pôr outra vez? beijos
EliminarMaria João,
ResponderEliminarEncantei-me ao ler este registo. Sou católica de nascimento, de cultura, de espiritualidade. Não sou praticante embora vá muitas vezes a um templo conversar. O tronco é comum: judaico-cristão. (...) Não conheço o livro "A ética dos Pais".
Partilho, na minha profissão, uma palavra: T-O-L-E-R- Â-N-C-I-A.
Detive-me nesta citação:
“Se eu não for por mim quem será por mim? E se eu não tomar conta de mim, quem sou eu? E se não for agora, quando será? (CAP I, 13)
Esquecemos-nos tantas vezes de nós.
Sem dúvida a minha citação preferida: “ Onde não houver homens, procura ser homem.” (Cap II , 6)
Beijinho.:))