segunda-feira, 16 de junho de 2014

Alain Touraine e o seu artigo em "Le Monde", há poucos dias...




É importante ler este artigo do filósofo e sociólogo, Alain Touraine, no jornal Le Monde: "Réinventons le politique". 
http://www.lemonde.fr/idees/article/2014/06/07/reinventons-le-politique_4433882_3232.html

Tornou-se conhecido por ter sido o pai da expressão "sociedade pós-industrial" e pelos seus trabalhos baseados na "sociologia da acção". 
O principal ponto de interesse de Touraine tem sido o estudo dos movimentos sociais.



Ouvimos, neste artigo, a voz de alguém que não desistiu e que "abre" ainda uma esperança no nosso futuro: salvar a política, reinventando-a.

Como ?
"Reunindo os objectivos económicos e sociais, voltando a pôr em marcha a mobilidade social e transformando o ensino."

Manifesta a sua esperança em países que, como a França e a Itália, não escolheram as políticas (que, até então, eram sociais-democratas) de direita -como a Inglaterra ou a Alemanha.

"A França tem um potencial científico inovador que deve ser mantido e desenvolvido. Educar, aprender, ensinar, participar."


Como muito bem pergunda - na imagem acima: "Que país discute a educação? Só dizem que está mal..."

Educar, pois, defender o estudo, o ensino, a Cultura das nossas populações! 
E saber viver em comum, respeitando a diferença do outro! Chega das obsessões desctructivas e de ódio, desse "triunfo glacial da morte" de que ele fala!


"Contra a obsessão crescente da identidade, do medo do outro, do assassínio de minorias, contra este triunfo glacial da morte e do proibido, só a paixão da diversidade, mas fundada na crença do universalismo dos direitos fundamentais pode fazer-nos escolher a abertura em vez do fechar em si próprios, a inovação em vez da recusa." (…)

Nada é mais concreto do que a animação da vida política pelas esperanças, pelas reivindicações e pela consciência dos direitos".

Discurso coerente. Já se referira à reivindicação dos direitos, anos atrás (8/01/2011), quando disse, em entrevista conduzida por Vincent Rémy:

"O indivíduo deve privilegiar (...) a procura dos direitos…”

“A mundialização destruiu o social e substituiu-o pelo humanitarismo.”(…) A mundialização e o império da finança destruíram a sociedade ocidental”, afirma. 

E continua: “Daí o “silêncio das vítimas” frente ao “gangsterismo financeiro”.

Por toda a parte a crise é profunda, durável. E o que se fez nestes anos? Nada. O único sector que se renovou foi o sector financeiro. Não se desenvolve a indústria, não se produz. Criam-se “jogos especulativos”.

E à pergunta: “Quem conseguirá parar a finança, esta máquina louca que destrói as nossas sociedades ocidentais?", o filósofo Alain Touraine responde que existe uma escolha:

“(…) ou vivemos num mundo de consumismo, de não-produção, que dura o que durar (…) ou, então, inventa-se um novo tipo de sociedade, o que é muito complicado.”

Pergunta: "Podemos esperar que apareçam novas ideias que lhe resistam?"
 A resposta é: “Cada um de nós, tem a obrigação de se revoltar para salvar a democracia.”  

Pergunta: "Sobre que forças não-sociais se pode contar hoje?"
 Temos duas. A primeira, o fenómeno extraordinário que é a ecologia. Vivemos séculos com a ideia dos filósofos Descartes e  Bacon que diziam que tínhamos de dominar a natureza.” (...)

Pergunta: "Qual a segunda força não social?"
O indivíduo! O indivíduo pode decerto privilegiar a procura do dinheiro, do prazer, do jogo, claro, mas igualmente a procura dos direitos…”

A escolha é nossa, procurando saber, aprender- e privilegiando os nossos direitos… Porque, de facto, ele tem razão:
Nada é mais concreto do que a animação da vida política pelas esperanças, pelas reivindicações e pela consciência dos direitos".

Como Stéphane Hessel, recentemente desaparecido, estas vozes dos antigos "sábios" só nos podem dar "novas" ideias, porque muito souberam e viveram! 
E, assim,  podem "renovar" o que não presta neste mundo de interesses vãos e de ambições várias e inúteis.

Bem o dizia Camões: “ó glória de mandar, ó vã cobiça” e etc…!

(Os sublinhados em bold são meus...)





(1) “Os sublinhados a bold são meus...Alain Touraine (Hermanville-sur-Mer, 3 de agosto de 1925) é um sociólogo e filósofo francês. Acredita que a sociedade molda o seu futuro através de mecanismos estruturais e das suas próprias lutas sociais. Tem estudado e escrito acerca dos movimentos de trabalhadores em todo o mundo, particularmente na América Latina e, mais recentemente, na Polónia”, onde observou e ajudou ao nascimento do Solidarność e desenvolveu um método de pesquisa denominado intervenção sociológica.” (wikipedia)

5 comentários:

  1. Já só acredito na forma de governar de países como a Dinamarca e poucos mais. Tudo o resto me parece teoria, teoria, teoria. Estou mais céptica que nunca, e isso que nunca fui demasiado ilusa.
    Beijinho, que ainda é das poucas coisas que não contaminam nem custam dinheiro...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Um beijinho (grátis!), enquanto deixarem! Connosco não têm sorte nenhuma, Maria! Continuaremos em frente! (mais a Isabel...)

      Eliminar
  2. Estava a ler e a pensar na entrevista do Papa, que deu há poucos dias na televisão. Uma entrevista de uma hora mais ou menos, ao Henrique Cymerman. Fala do mesmo. Gostei muito de o ouvir, porque me pareceu genuinamente interessado em contribuir para mudar as coisas, em fazer tudo o que for possível, pela paz e pela mudança da sociedade para melhor.

    Gostei muito de ler o post. O dinheiro comanda o mundo e a vida dos países. Parece-me que as pessoas se começam a aperceber que há outra escolha. Mas não pode ser concretizada com estes políticos que temos. Tem que ser uma nova geração de políticos, honesta e que trabalhe para o bem comum e não para seu proveito.

    Será que isso vai acontecer?

    Um beijinho grande e uma boa semana :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tens razão, Isabel, é tempo que as pessoas percebam o que se passa e os direitos (inalienáveis) que têm e lhes querem tirar. Veremos,,,
      O Papa tem tido intervenções muito duras e certas. E fez gestos importantes como esse (simbólico?) do encontro no Vaticano com o Presidente Peres de Israel e o Mahmud Abbas chefe da Autoridade Palestina. Não serve para nada? Não é verdade. Não o fazer é que seria grave! beijinhos

      Eliminar
  3. Neste post admirável está uma grande lição: não há que esperar novas gerações de políticos: políticos somos todos nós e esta geração não é para deitar fora. Nada é para adiar. Urge acabar com o criminoso capitalismo financeiro que goza as fortunas construídas à custa de biliões de pobres –aqui, na Europa, no Mundo- e se marimba para a sociedade em que mama, a sociedade que rouba e atira para a miséria, a fome, a morte em vida. Não há milagres: há gente que luta e gente que amocha!

    ResponderEliminar