E o Ratinho voltou à piscina... Com o amigo, claro!

Pois, foi hoje mesmo que voltámos os três à piscina. De manhã, prepararam-se logo.Referi o Ratinho, mas claro que o Ouricinho também foi, de toalha às costas! 

Ficaram espantados porque, mesmo ao lado do Pavilhão Desportivo dos Bombeiros, havia uma capoeira e um galo cantou, à passagem deles! 

E, quase a seguir, uma galinha cacarejou. Tinha acabado de pôr o seu ovo e não se calava com um cacarácá enérgico...

- Um galo? E galinhas, aqui na cidade? Que estranho!, disse o Ratinho.

E Ouricinho comentou:

- Estranho porquê? Os galos vivem em toda a parte. E as galinhas vivem com os galos.

- Ah! Eu julgava que eles viviam no campo e não na cidade…

E o Ratinho riu-se. 
Mas nada desanima a vontade de contrariar do Ouricinho!

- Vivem onde querem, é isso! Basta que os donos queiram. Têm aqui bastante campo à roda…

De facto, por ali, mesmo em pleno São João, ao lado do Pavilhão Desportivo dos Bombeiros, há campos e oliveiras e matagais. 

E aquela capoeira num quintal "inventado" e rodeado de uma cerca de arame - há quantos anos estará naquele canto do lado de lá da rua? Muitos! 

Até me lembro de haver, em tempos,  uma "plantação" de repolhos e couves- e muitos limoeiros.

- Aqui é campo!, voltou o Ouricinho. Olha em volta! Não vês a pereira, e a pera pequenina pendurada?

- Sim, sim, vejo.

O Ratinho deu-se por vencido. Era difícil argumentar com o Ouricinho em certos dias e hoje era um dia desses…

- Vamos mas é nadar!, disse eu.

Entrámos, com o nosso cartão e lá nos dirigimos para a piscina.  

Eles saltitavam por cima das sandálias das senhoras e riam-se. Mas, desta vez, não tomaram banho, não tinham ainda os fatos de banho novos. Lá terei que lhes costurar outros!

- Olha! Falta a Isabel! E a Carmo! O que lhes aconteceu?, perguntou o Ratinho à professora.

- Este ano não vêm...

O Ouricinho acrescentou, olhando para mim, entristecido:

- Que pena! Eram as mais divertidas! Aquela Carmo, lembras-te das histórias dela? Gostava tanto de brincar!

Tive que me rir e reconheci que era verdade.

- Não era Carmo, era Carma!, disse o Ratinho. Tinha um nome esquisito…

Como é que o Ratinho se lembrava daqueles pormenores? De facto, chamava-se Carma e eu fazia sempre confusão quando lhe falava e chamava-lhe Carmo. Contava anedotas continuamente, tinha um sentido do humor especial. E a Isabel mais o seu amado Benfica era impagável! Tive saudades das duas.

- Olha, o peixe na parede! Parece um atum!, gritou, entusiasmado, o Ouricinho, a apontar com o dedinho. 

Não parava quieto, andava de um lado para o outro a espreitar tudo.

- Não é atum, disse, calmamente, o Ratinho. É um golfinho. Os golfinhos é que saltam assim…

- Dizes tu! Os golfinhos são elegantes e leves, parecem voar. Não vês na televisão? Este é um peixe pesadão!

Desta vez o Ratinho aquiesceu, olhando para a parede:

- Tens razão, os golfinhos são leves. Têm uma grande beleza na sua liberdade…

Virou-se para mim, que já estava dentro da piscina. Talvez para mudar de conversa...

- Que linda a água! Estás contente por ter vindo?

A sua ternura deixava-me sempre um pouco comovida. Havia algo de maternal no tom com que o ratinho me falava às vezes. E fazia-me bem à alma.

- Sim, está mesmo linda! E está quentinha?

O Ouricinho não queria ficar atrás.

Sorri para os dois e disse:

- Está boa, está fresquinha e sabe tão bem!

E a manhã passou a correr! No fim, ia-me esquecendo dos óculos! foi o Ratinho, sempre atento, que me avisou.
- Olha os óculos! Depois não podias ir brincar, connosco, à internet...

Em casa, em frente da porta, esperava-nos o velho salgueiro que tem 
mais de cinquenta anos e me lembro de ver desde que chegámos a S. João.

“É sempre bom voltar a casa!”, pensei. E fomos para a cozinha arranjar o almoço. Vinham cheios de fome...