segunda-feira, 23 de junho de 2014

CONTINUANDO A LEITURA DE VIRGINIA WOOLF: MULHERES ESCRITORAS

Virginia Woolf, pintada por Vanessa Bell

Virginia Woolf, retrato de Gisèle Freund

Falei do livro de Virginia Woolf (1) que me prendeu e que, devagar devagarinho, vou lendo: porque há muito para ler e para pensar.



Vou-me referir ao capítulo que se intitula: “As mulheres e o romance”
É lógico que fala das escritoras e dos seus romances. Escreve em 1929 e, portanto, o seu horizonte é diferente do nosso. Muita coisa mudou entretanto. Mas mudou mesmo?

"Middlemarch", ilustração

O título diz ela que é ambíguo: mulheres que escrevem?, ou romances sobre mulheres? Ou as duas coisas? A ambiguidade é voluntária, intencional, porque quer que o título se entenda de duas maneiras: mulheres que escreveram romances e que acabarm por escrever sobre as mulheres.
Charlotte, Emily e Anne Brontë, três irmãs escritoras

E acentua: “Quando se fala de mulheres escritoras é preciso ter uma grande elasticidade não esquecendo o percurso difícil que a mulher-escritora teve de seguir.”

Charlotte Brontë

E refere como, apesar de serem muito diversos os temas e os estilos de George Eliot ou Charlotte Brontë, elas têm a mesma preocupação de revelarem a condição da mulher, reivindicando maior liberdade e consideração. 
 Jane Austen, imagem do filme


Falamos dos finais do século XVIII e do início do século XIX.


Em Middlemarch e Jane Eyre sentimos a presença do autor. Temos consciência também de uma presença de mulher – de alguém que sofre com o tratamento reservado às mulheres e que quer defender esses direitos."
Middlemarch, ilustração


Por outro lado, reconhece que "Emily Brontë e Jane Austen nos aparecem “livres” dessas preocupações, limitando-se a escrever o que querem, ignorando os outros problemas. 

Emily Brontë


filme "Monte dos Vendavais", Emily Brontë

O “génio” de Jane Austen e de Emily Brontë nunca foi mais convincente do que no poder que ambas tiveram de ignorar qualquer tipo de reivindicação e seguir a sua estrada sem se preocuparem com o desprezo ou a crítica.”


Jane Austen

Escreve ainda, a páginas 83:

É evidente que o extraordinário brotar do romance feminino inglês dos inícios do século XIX foi anunciado por inumeráveis pequenas alterações na lei, nos costumes, e na vida. As mulheres desse século têm algum tempo livre para elas, tinham já alguma instrução. (…)”


Estavam prontas para publicar livros? Bem, estavam prontas para publicar romances!


Quatro mulheres que não podem ter sido mais diferentes umas das outras do que estas eram! Com certeza Jane Austen não tinha nada que ver com George Eliot; George Eliot era exactamente o contrário de Emily (…) No entanto, quando o momento chegou estavam preparadas para exercer essa “profissão” e, quando escreveram, escreveram romances.

Por que razão romances e não outra forma de arte?

O romance tornava-se mais fácil para a mulher. Não é difícil de encontrar a razão. O romance é uma forma de arte que exige pouca concentração. (…) Por outro lado, vivendo na sala comum, no meio das pessoas, a mulher exercita-se na observação e na análise dos caracteres.”

O “condicionalismo “ continua, pois… Virginia Woolf nota:
É muito significativo que das quatro romancistas – Jane Austen, Emily Brontë, Charlotte Brontë e George Eliot – nenhuma delas teve filhos e duas nunca casaram.”

Seja como for, muita água passou sob as pontes e muita coisa se "conquistou" e se modificou…
E o que terá mudado hoje? Houve a “libertação” de uma condição de dependência? É evidente que houve. 

Mas a eterna dupla (tripla?) profissão da mulher, com família, existe sempre.  Quantas vezes, não será num canto da cozinha, ao lado do fogão, que tantas mulheres, ainda hoje, vão pegar em pedacinhos de papel para anotarem uma ideia antes que ela lhe fuja!

Como, séculos atrás, Charlotte Brontë aproveitava para ir descascar umas batatas, entre um capítulo e outro…


(1)Virginia Woolf, L’ Art du Roman, Aux Editions du Seuil, França, 1963

7 comentários:

  1. Que maravilha de post!
    Gostei de ler o que escreveu, gostei das imagens e gosto de todas as escritoras de que fala.
    Imagino-as a escrever.

    Eu acho que se conquistou muito, mas na família, continua a mulher a ser sobrecarregada ou então a sentir-se culpada.

    Tenho um livro muito bonito que comprei há tempo chamado "Mulheres que escrevem vivem perigosamente". Hei-de fazer um post com ele.

    Um beijinho grande :)

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    1. Olá, Isabel, fiel leitora do meu blog! Obrigada! Esse livro de que falas deve ter muito que se lhe diga, de facto, o que muda é sempre muito relativo, depende de tantas coisas...
      Um beijo e fico à espera desse post!

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  2. Gosto de Virgínia Woolf e este livro deve ser interessante.
    Observo o prazer que lhe dá, torna-se pois um livro para colocar na lista.
    Beijinho e gostei muito.:))

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    1. Vais gostar de certeza, Ana! É muito interessante e ela é de facto uma mulher muito sensível e inteligente! Tinha este livro há anos e nunca o tinha lido! Um beijo

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  3. Quando há talento, há talento. Eu sou uma grande apreciadora da literatura feminina actual, (e das autoras que citas nem se fala). À medida que a mulher tem um maior acesso à cultura, vão aparecendo mais génios femeninos em todos os campos, mas isto é só o princípio, claro.
    Um beijo, interessante post, como todos

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  4. Que texto fantástico, fico maravilhada com essas mulheres, eu amo profundamente a literatura inglesa. Para mim resume-se em obras de artes verdadeiras. Você conhece a editora Pedrazul? Ela pública os melhores e mais incríveis clássicos ingleses, eu participo do clube de leitores da editora e em cada dois meses recebo uma linda caixa com verdadeiros presentes. A primeira veio com o livros da Charlotte Brontë, O Professor. E a mais recente veio com O Moinho à beira do rio Floos de George Eliot, simplesmente obras fantásticas.
    Amei seu texto, admiro essas mulheres, e as vezes me pergunto como seria tê-las no século XXI, certamente seria esplêndido.
    Abraços!!

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