Durante
muito tempo se pôs em discussão este quadro, que é, a vários títulos, famoso. Hoje
sabe-se muito mais: quase tudo.
É essa "redescoberta" e o "novo" estudo, que se encontram expostos no Museu Marmottan em Paris -e as conclusões.
É essa "redescoberta" e o "novo" estudo, que se encontram expostos no Museu Marmottan em Paris -e as conclusões.
Li um artigo de Nathaniel Herzberg, no jornal Le Monde do passado dia 20 de Setembro, que me despertou a atenção sobre o "sentido" dessa exposição.
Trata-se
do quadro que (involuntariamente) deu o nome ao "Impressionismo".
A obra aparece "assinalada", pela primeira vez, em 1874, na exposição organizada pela Sociedade anónima da Cooperativa-dos-artistas-pintores que organizaram, no antigo atelier do fotógrafo Nadar, a sua primeira exposição.
Citando o próprio Monet, em 1897, diz o artigo: “Enviei uma obra realizada no Havre, à minha janela, o sol na bruma do amanhecer e alguns mastros de barcos em primeiro plano.”
A obra aparece "assinalada", pela primeira vez, em 1874, na exposição organizada pela Sociedade anónima da Cooperativa-dos-artistas-pintores que organizaram, no antigo atelier do fotógrafo Nadar, a sua primeira exposição.
Citando o próprio Monet, em 1897, diz o artigo: “Enviei uma obra realizada no Havre, à minha janela, o sol na bruma do amanhecer e alguns mastros de barcos em primeiro plano.”
Abre em 15 de Abril de 1874, e, depressa, os pintores e a exposição vão ser atacados pelos
críticos do tempo. O mais violento deles é Louis Leroy, que acusa, inclusivamente, o quadro de Monet de estar mal feito:
“Até mesmo o papel pintado, no seu estado embrionário, é mais bem feito do que
esta marinha.”
E, para ridiculizar o pintor e os amigos, intitula o artigo “A Exposição dos Impressionistas”, mal sabendo o sucesso que esses "impressionistas" iriam ter no futuro.
Uma exposição falhada? Não creio... Reunia obras de 27 grandes artistas, entre os quais Pissarro, Monet, Renoir, Degas e Cézanne e era a primeira exposição juntos.
Uma exposição falhada? Não creio... Reunia obras de 27 grandes artistas, entre os quais Pissarro, Monet, Renoir, Degas e Cézanne e era a primeira exposição juntos.
Monet
apresenta 5 telas, incluindo -além de Impressão Sol Nascente- o belo quadro Boulevard des Capucines.
Monet, Carnaval Boulevard des Capucines
Renoir apresenta alguns quadros -entre eles "A Bailarina" e “Box au Théâtre”.
La Loge au Théâtre (1874)
Paul Cézanne apresenta “Nova Olympia” e paisagens de Auvers, entre elas La Maison du Pendu.
La Maison du Pendu (1874)
A pintora Berthe Morisot expõe 9 obras: aguarelas e óleos.
Berthe Morisot, Na Relva (1874)
Edgar Degas, 10 obras (uma delas era "Ceifeiros" da qual não encontrei imagem) e Pissarro e Sisley expõem 5 telas cada um: paisagens.
Edgar Degas (1873)
Pissarro, Dia de sol na estrada( 1874)
Sisley, Manhã de Inverno (1874)
Todos ficaram famosos pelos anos fora! Até hoje....
Ele, o crítico Louis Leroy, será lembrado apenas por ter dado o nome aos “Impressionistas”…
O
quadro Impression Soleil Levant entra a fazer parte da colecção do Musée Marmottan em 1940, com esse mesmo título e com a data de 1872.
Neste artigo do "Monde" tudo nos é explicado em pormenor! O que na Exposição se veria - se a fôssemos ver au Musée Marmottan- está neste "trabalho" de Herzberg...
Em 1973, a data que o pintor pusera é contestada e atribui-se-lhe a data de 15 de Abril de 1873: não existia nenhum documento provando que Claude Monet estivera no Havre naquele ano. E, pelo contrário, havia uma carta ao amigo, Camille Pissarro, enviada do Havre, com essa data, 1873.
Neste artigo do "Monde" tudo nos é explicado em pormenor! O que na Exposição se veria - se a fôssemos ver au Musée Marmottan- está neste "trabalho" de Herzberg...
Em 1973, a data que o pintor pusera é contestada e atribui-se-lhe a data de 15 de Abril de 1873: não existia nenhum documento provando que Claude Monet estivera no Havre naquele ano. E, pelo contrário, havia uma carta ao amigo, Camille Pissarro, enviada do Havre, com essa data, 1873.
As
dúvidas começam cedo: afinal é 1872 ou 1873? Sol nascente ou pôr-do-sol? O que sabemos de
verdadeiro da execução deste quadro?
O Museu decide organizar uma investigação profunda para tirar essas dúvidas, incluindo trabalhos de especialistas dos mais variados campos.
De arquivistas de bibliotecas municipais, a restauradores, até a um engenheiro portuário. Procuram-se e "analisam-se" postais, cartas, mapas, fotografias da época: tudo é passado a pente fino.
O Museu decide organizar uma investigação profunda para tirar essas dúvidas, incluindo trabalhos de especialistas dos mais variados campos.
De arquivistas de bibliotecas municipais, a restauradores, até a um engenheiro portuário. Procuram-se e "analisam-se" postais, cartas, mapas, fotografias da época: tudo é passado a pente fino.
E,
por fim, é convidado o astrofísico americano, Donald W. Olson, da Universidade
do Texas, "cientista" especializado em pintura.
Especialista dos céus e dos astros que já conseguiu identificar se é sol nascente, ou poente, de Turner e de Monet e datar certos céus
estrelados de Van Gogh. Não sei exactamente quais quadros foram...
E um quadro de Munch no qual identificou o lugar exacto da ponte que o quadro mostra.
Turner, "Sol nascente, em Veneza". Este???
Ou este??? Turner, "Sol nascente"
Van Gogh "Céu estrelado"... Este???
Ou este???? "Céu estrelado sobre o rio Ródano" (1988)
E um quadro de Munch no qual identificou o lugar exacto da ponte que o quadro mostra.
Edvard Munch, "Meninas na ponte"
Olson estuda os documentos existentes, visita várias vezes Paris e, em 2012, vai, com
um grupo dos seus estudantes, visitar Etretat, onde Monet vivera muitos anos e cujas
paisagens pintara. Verifica que o artista respeitava sempre escrupulosamente a
realidade dos terrenos e das paisagens que representava nos quadros.
"Assim este Sherlock Holmes texano – escreve Herzberg- decide fazer tábua rasa e partir do zero.”
Estuda ventos e marés, a posição do sol, a existência das marés altas (o quadro representa o porto com maré alta) em que dias e em que anos, estuda a metereologia da época: dos anos, dias e meses possíveis. E reduz a 19 as datas possíveis.
"Assim este Sherlock Holmes texano – escreve Herzberg- decide fazer tábua rasa e partir do zero.”
Estuda ventos e marés, a posição do sol, a existência das marés altas (o quadro representa o porto com maré alta) em que dias e em que anos, estuda a metereologia da época: dos anos, dias e meses possíveis. E reduz a 19 as datas possíveis.
Primeira
conclusão: “O quadro foi pintado em dia de tempo
suave, com uma ligeira bruma”.
Fotografia ainda mais nublada do que essa manhã de bruma...
Tempo suave? Mas, no Havre, caracterizado pela rudeza do clima da Normandia, é raro haver desse tempo "suave". Poucos dias no ano haverá sem mau tempo.
O "detective" continua a investigar os dias, eliminando os de tempestade, de mar bravo, de chuva: que “somam” 13 dias. Ficam apenas 4 datas "possíveis"…
“Afinal, foi a observação do quadro que se tornou determinante”, diz o articulista.
O
fumozinho que sai de uma chaminé inclina-se para a esquerda, portanto, o vento soprava do leste. Eliminam-se assim mais dois dias. Restam duas datas possíveis: 13 de Novembro de
1872, às 8:35 da manhã, e 25 de Janeiro de 1873, às 9:05.
Mais : o ângulo particular do sol, no quadro, prova que se trata do fim do Outono.
Mais : o ângulo particular do sol, no quadro, prova que se trata do fim do Outono.
Assim, a conclusão é: o quadro “Impression, soleil levant” foi
pintado no Havre, no dia 13 de Novembro de 1872.
Para que serviu esta investigação, perguntarão alguns. Foi inútil este trabalho? Preciosismo?
Puro diletantantismo, só para alguns escolhidos? Desnecessária, porque o que "interessa" é o
quadro em si?
Sei de muitos que dirão que se tratou de um trabalho inglório e desnecessário, de “especialistas para especialistas", que só pode interessar a quem não tem mais nada que fazer…
Bem, eu cá, como sou teimosa, discordo. Eu gostei de saber que o quadro mostrava uma manhã de bruma do dia 13 de Novembro de 1872!
Sei de muitos que dirão que se tratou de um trabalho inglório e desnecessário, de “especialistas para especialistas", que só pode interessar a quem não tem mais nada que fazer…
Bem, eu cá, como sou teimosa, discordo. Eu gostei de saber que o quadro mostrava uma manhã de bruma do dia 13 de Novembro de 1872!
E isso nada tira da poesia desta manhã brumosa, no porto do Havre... A luz está lá, o mar calmo, os primeiros reflexos rosados do sol na água, os barquinhos desenhados delicadamente. Tudo!
Como defendia o astrofísico Olson “Nunca devemos destruir a mística de uma pintura pela sua análise técnica. Continua a ter o mesmo impacto emocional. Limitámo-nos a separar o real do irreal.”
Como defendia o astrofísico Olson “Nunca devemos destruir a mística de uma pintura pela sua análise técnica. Continua a ter o mesmo impacto emocional. Limitámo-nos a separar o real do irreal.”
Muito interessante!
ResponderEliminarTem aqui pinturas muito bonitas:)
Um beijinho :)
Curioso, sobretudo a primeira parte.Como bem dizes todos foram famosos menos esse tal crítico, há muitos casos parecidos. O verdadeiro talento sempre triunfa, pese a essas cabeças iluminadas...
ResponderEliminarBeijinho, és uma trabalhadora aplicada!