Angioletto Musicante, de Rosso Fiorentino
"Se tu queres que eu não chore mais,
Diga ao tempo que não passe mais.
Chora o tempo o mesmo pranto meu, ele e eu, tanto,
Que só para não te entristecer,
Que fazer, canto.
Canto para que te lembres quando eu me for..."
Tanta poesia, tanto amor, tanta indulgência, tanta alegria para mascarar a dor - isto era o "Poetinha", como lhe chamavam os amigos. Lembremos, pois, o Poetinha (que faria hoje 114 anos). Com o seu humor, claro!
“Quem
pagará o enterro e as flores
Se
eu me morrer de amores?
Quem,
dentre amigos, tão amigo
Para
estar no caixão comigo?
Quem,
em meio ao funeral
Dirá
de mim:
-
Nunca fez mal...
Quem,
bêbedo, chorará em voz alta
De
não me ter trazido nada?
Quem
virá despetalar pétalas
No
meu túmulo de poeta?
Quem
jogará timidamente
Na
terra um grão de semente?
Quem
elevará o olhar covarde
Até
a estrela da tarde?
Quem
me dirá palavras mágicas
Capazes
de empalidecer o mármore?
Quem,
oculta em véus escuros
Se
crucificará nos muros?
Quem,
macerada de desgosto
Sorrirá:
- Rei morto, rei posto...
Quantas,
debruçadas sobre o báratro
Sentirão
as dores do parto?
Qual
a que, branca de receio
Tocará
o botão do seio?
Quem,
louca, se jogará de bruços
A
soluçar tantos soluços
Que
há de despertar receios?
Quantos,
os maxilares contraídos
O
sangue a pulsar nas cicatrizes
Dirão:
- Foi um doido amigo...
Quem,
criança, olhando a terra
Ao
ver movimentar-se um verme
Observará
um ar de critério?
Quem,
em circunstância oficial
Há
de propor meu pedestal?
Quais
os que, vindos da montanha
Terão
circunspeção tamanha
Que
eu hei de rir branco de cal?
Qual
a que, o rosto sulcado de vento
Lançará um punhado de sal
Na
minha cova de cimento?
Quem
cantará canções de amigo
No
dia do meu funeral?
Qual
a que não estará presente
Por
motivo circunstancial?
Quem
cravará no seio duro
Uma
lâmina enferrujada?
Quem,
em seu verbo inconsútil
Há
de orar:
-
Deus o tenha em sua guarda.
Qual o amigo que a sós consigo
Pensará:- Não há de ser nada...
Quem
será a estranha figura
A
um tronco de árvore encostada
Com
um olhar frio e um ar de dúvida?
Quem
se abraçará comigo
Que
terá de ser arrancada?
Quem
vai pagar o enterro e as flores
Se
eu me morrer de amores?”
"REGRA TRÊS"... TOQUINHO & VINICIUS
Lindos poemas e lindas músicas!
ResponderEliminarUm beijinho grande e continuação de boa semana:)
Eu diria como Drummond de Andrade, que " também queria ter sido Vinicius de Moraes"...
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