quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Como resistir à leitura de José Duro ? Embala-nos a sua dor...


Chagall, O violinista azul


Embala-nos a sua dor e vamos atrás dela.  Dói-me lê-lo, e continuo a ler. 
Picasso, Jovem com um cachimbo

Tanto desespero, ódio, amor, tristeza e um laivo de esperança aqui e ali - tão poucos... 
Tanto desencanto num jovem poeta! Tão novo, um rapaz ainda, e quase velho!
Picasso, Tocador de guitarra

Quantos anos tinha? Morreu cedo. Tinha 23 anos. Amou a sua dor? Não creio, sofreu e nunca amou a sua dor. Sente-se em cada verso… Lamenta-se dessa dor, do Abandono, do Desgosto, da busca perdida e do seu Azul que se desfez em astros…
As figuras de Antero, Poë, Baudelaire e de Cesário perpassam no desespero constante e no triste desafio à morte. 
Não deve ter ilusões quem abrir o seu livro ou ler um seu poema. Na epígrafe que escolheu - da Divina Comédia, de Dante, está tudo dito:
"Deixai fora toda a esperança/ vós que entrais." 
Vou-vos deixando uns poemas para lembrar o poeta da minha terra. José Duro nasceu em Portalegre em 1875 e morreu em Lisboa em 1899

Em busca

"Ponho os olhos em mim, como se olhasse um estranho,
E choro de me ver tão outro, tão mudado…
Sem desvendar a causa, o íntimo cuidado
Que sofro do meu mal – o mal de que provenho.

Já não sou aquele Eu do tempo que é passado,
Pastor das ilusões perdi o meu rebanho,
Não sei de meu amor, saúde não na tenho,
E a vida sem saúde é um sofrer dobrado.

A minha alma rasgou-ma o trágico Desgosto
Nas silvas do Abandono, à hora do sol posto,
Quando o Azul começa a diluir-se em astros…

E à beira dum caminho, até lá muito longe,
Como um mendigo só, como um sombrio monge,
Anda o meu coração em busca de teus rastros…"

"Fel", Guimarães Editores, 11ª edição, 1983

1 comentário:

  1. O poema é triste, mas muito lindo!
    Gosto muito da pintura de Chagall.
    Gostei muito do post:)
    Um beijinho grande:)

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