A Primavera tinha chegado e as flores amarelas, mais as papoilas, apareciam por toda a parte, na Serra e nos campos em redor da cidade. Nós fazíamos colares, pulseiras, enfiando as flores, uma a uma, com uma agulha larga, num fio de algodão.
As janelas estavam abertas desde manhã e a brisa entrava suave e repousante. As andorinhas começavam a voltear e a fazer os ninhos nos beirais dos telhados.
O calor do Verão ainda vinha longe.
Pela tarde, ouviam-se umas vozinhas ao fundo da rua e, logo, a Rosalina vinha chamar-nos, afogueada:
As janelas estavam abertas desde manhã e a brisa entrava suave e repousante. As andorinhas começavam a voltear e a fazer os ninhos nos beirais dos telhados.
O calor do Verão ainda vinha longe.
Pela tarde, ouviam-se umas vozinhas ao fundo da rua e, logo, a Rosalina vinha chamar-nos, afogueada:
- Meninas! Vem aí a “maia”!
A “maia” era uma rapariguinha, ainda uma criança, que podia ter sete ou dez anos, enfeitada com flores, com um vestido, talvez da mãe ou duma irmã mais velha, branco e de renda, já muito lavado e gasto, por cima da sua roupinha e com a saia rodada à volta, apanhada pelas mãos das outras meninas que a rodeavam, formando uma concha aberta, cheia de pétalas de rosas e outras flores.
A “maia” era uma rapariguinha, ainda uma criança, que podia ter sete ou dez anos, enfeitada com flores, com um vestido, talvez da mãe ou duma irmã mais velha, branco e de renda, já muito lavado e gasto, por cima da sua roupinha e com a saia rodada à volta, apanhada pelas mãos das outras meninas que a rodeavam, formando uma concha aberta, cheia de pétalas de rosas e outras flores.
Trazia os cabelos enfeitados de grinaldas, colares de flores amarelas ao pescoço, grandes e pequeninos, pulseiras. Tinha as faces coradas com rouge e os lábios pintados de vermelho ressaltavam vivos no meio da mancha amarela das boninas e malmequeres.
Meninas da rua, meninas pobres, princesas de um dia de Primavera, que vinham anunciar a sua chegada, trazer a alegria das suas cantigas e pedir algum dinheiro.
Ouço as vozes desafinadas:
“Ó maia, ó maia,
Ó maia das cachopas,
Por onde vai a maia?
Vai por essas barrocas.
Ó minha senhora!
Chegue lá à janela,
Venha ver a maia
Que parece uma donzela...”
Nós debruçávamo-nos da janela, voltávamos para dentro numa excitação enorme, a buscar os trocos, guardados para os gelados e gulodices no porta-moedas da cozinha, e corríamos a deitar o dinheiro pela janela. Às vezes, juntávamos rebuçados embrulhados em papéis, amêndoas, o que tínhamos à mão.
As moedas caíam no chão, caíam no vestido e elas paravam, riam às gargalhadas quase soltando a saia da "maia" para poderem apanhá-las.
Ó maia das cachopas,
Por onde vai a maia?
Vai por essas barrocas.
Ó minha senhora!
Chegue lá à janela,
Venha ver a maia
Que parece uma donzela...”
Nós debruçávamo-nos da janela, voltávamos para dentro numa excitação enorme, a buscar os trocos, guardados para os gelados e gulodices no porta-moedas da cozinha, e corríamos a deitar o dinheiro pela janela. Às vezes, juntávamos rebuçados embrulhados em papéis, amêndoas, o que tínhamos à mão.
As moedas caíam no chão, caíam no vestido e elas paravam, riam às gargalhadas quase soltando a saia da "maia" para poderem apanhá-las.
Seguia-as um grupo de garotos descalços, brincando com uns arcos de ferro ou arame que tilintavam na rua. Corriam à frente e atrás delas, procuravam agarrar primeiro as moedas mas as “maias” não os deixavam e faziam briga.
Depois iam todos, rua adiante, a cantar. Outras pessoas vinham à janela e a brincadeira continuava até ao cimo da rua.
E aí andam de novo, as Maias. Mais plastificadas, mais ornamentadas com chinesisses baratas (que a crise é real) mas, ainda assim, alegres e encantadoras...
ResponderEliminarBeijinhos