Há alguns anos já, comecei a ler os livros de "Fruttero & Lucentini". Dois amigos de longa data, nascidos em Torino, que, cedo, começam a escrever a quatro mãos.
São eles Carlo Fruttero, nascido em 19 de Setembro de 1926 e ainda vivo, publicou, agora sozinho, um romance “Donne informate sui fatti” (2006), e Franco Lucentini que nasce em 24 de Dezembro de 1920, em Turim, e morre em 5 de Agosto de 2002. Dois bons escritores italianos que se associaram para escrever. O binómio, às vezes abreviado em "F&L", também chamado “a firma”, assinou, durante anos, colaborações no jornal La Stampa, de Turim, numa rubrica chamada “L’Agenda di F.&L.”.
Isto a partir de 1972.
Reunidos e publicados em três volumes, esta chamada “Trilogia do Cretino” (“La prevvalenza del cretino, 1885, La manutenzione del sorriso, 1988, e Il Ritorno del cretino, 1992), voltam mais tarde, em 2002, agora em formato económico, numa síntese feita pelos seus autores que se intitula “Il cretino in sintesi” (título fantástico!)na Mondadori Editore, Milão, e, em 2003, na colecção dos Oscar Best-sellers da mesma editora.
Falam de tudo, da literatura à cultura em geral, passando pela política (o último capítulo do livro é mesmo um dicionário político-satírico, de 50 palavras) e nada -e ninguém- escapa ao olhar crítico e irónico que "destrói" o cretino:
Per lo stupido il cretino è sempre l'altro, diziam eles...
Além dos artigos, publicam juntos traduções e romances –sobretudo policiais, criando a figura do Comissário Salvatore Santamaria (interpretado no écran por Marcello Mastroiani) -os célebres “gialli” da Mondadori! A palavra “gialli” (giallo, no singular) refere-se à cor dos livros da colecção policial, “amarelos”, pois.
Desde o início, foram muito apreciados pelo público italiano. Assinaram também livros de ficção científica, dirigindo durante vinte anos a colecção da Mondadori desse tipo de livros, a Urania (1961-1986).
Desde o início, foram muito apreciados pelo público italiano. Assinaram também livros de ficção científica, dirigindo durante vinte anos a colecção da Mondadori desse tipo de livros, a Urania (1961-1986).
Nos anos 80/90 tiveram um programa literário, na televisão italiana, programa que revelava a enorme cultura de ambos, e em que me lembro de ouvir Fruttero (salvo erro... ou seria Lucentini?) dizer que lera a Guerra e Paz, de Tolstoi, e Os Irmãos Karamazov, de Dostoieviski, nas viagens de autocarro, de casa para o trabalho e vice-versa, e que, devido ao tamanho dos livros, os cortou em vários montinhos de folhas... Assim, metia-os no bolso e tirava-os onde e quando queria, e lia.
Que eu saiba não existe tradução portuguesa de nenhum dos seus livros: aqui deixo a sugestão para quem possa –e queira- fazê-lo.
Talvez a obra-prima seja o romance “L’Amante senza fissa dimora” (O Amante sem residência fixa), livro inesquecível de poesia, cujo herói, Mr. Silvera, é uma espécie de judeu errante que de, terra em terra, vai errando até poisar em Veneza. E que me lembra ,inevitavelmente, na figura e no seu deambular por Veneza outro aventureiro "errante", o Corto Maltese de Hugo Pratt...
História de mistério, de amor, história fascinante, um thriller, que se passa em três dias, em Veneza, entre uma princesa romana e o misterioso personagem que é o guia acompanhante de uma excursão, Mr. Silveri...Talvez a obra-prima seja o romance “L’Amante senza fissa dimora” (O Amante sem residência fixa), livro inesquecível de poesia, cujo herói, Mr. Silvera, é uma espécie de judeu errante que de, terra em terra, vai errando até poisar em Veneza. E que me lembra ,inevitavelmente, na figura e no seu deambular por Veneza outro aventureiro "errante", o Corto Maltese de Hugo Pratt...
Para vos excitar a curiosidade, deixo o primeiro parágrafo do livro (tradução minha livre...).
"Quando Mr. Silvera se decide enfim (look, look, Mr. Silvera!) a soltar o cinto de segurança e a inclinar-se por cima dos seus companheiros de viagem a espreitar pelo obló, Veneza já tinha desaparecido; vê, apenas, um longínquo fragmento de mar cor de alumínio e, perto, um trapézio de alumínio, a asa.
The lagoon!- repetem os turistas do seu -e do outro- grupo que enchem o voo AZ 114, -A Laguna!"
Quem me dera que houvesse já alguma tradução, para poderem ler os que não lêem italiano!
Deixo uma pequena lista das obras, por ordem cronológica:
O primeiro livro data de 1972, e intitula-se La donna della domenica. Em 1975, Luigi Comencini realiza o filme do mesmo nome com Marcello Mastroiani, Jacqueline Bisset e Jean Louis Trintignant..
Começa assim:
“Na terça-feira de Junho, em foi assassinado, o arquitecto Garrone olhou mil vezes para o relógio. Começara ao abrir os olhos na obscuridade profunda do quarto, cuja janela bem vedada não deixava passar nenhum raio. Enquanto a mão, impaciente se estende ao longo do fio, à procura do interruptor, fora invadido por um medo irracional: seria demasiado tarde e que a hora do telefonema tivesse passado...”
É a primeira vez que aparece a personagem do Comissário Santamaria que se vai encarregar de investigar o morte do ambíguo arquitecto Garrone.
1ª ed. 1972, Mondadori
A che punto è la notte? (Em que ponto está a noite?/Como vai a noite? -tradução difícil)
Livro cheio de suspense, passado em Turim, tendo como personagem principal outra vez o Comissário Santamaria.1ª ed. 1972, Mondadori
A che punto è la notte? (Em que ponto está a noite?/Como vai a noite? -tradução difícil)
1ª edição 1979, Mondadori
Em 1990, o realizador italiano Nanni Loy realiza para a televisão a adaptação dessa história, com os actores Marcello Mastroiani, no papel do Comissário, e a actriz francesa Marie Laforêt.
Il Palio delle contrade morte
Passa-se em Siena durante o Palio, a corrida de cavalos que se realiza no Verão, na belíssima praça de Siena, em forma de concha, a Piazza del Campo.
1ª ed. 1983
Passa-se em Siena durante o Palio, a corrida de cavalos que se realiza no Verão, na belíssima praça de Siena, em forma de concha, a Piazza del Campo.
1ª ed. 1983
Enigma in luogo di mare
Passa-se numa pequena e luxuosa localidade ao pé do mar, na Maremma toscana, no Natal.
1991
Surgiu há pouco uma brilhante ideia, em Itália: a publicação de mais textos tirada da colaboração entre Fruttero e Lucentini aparece Fruttero & Lucentini. “I nottambuli” , o título do livro, editado por Avagliano Editore (pagg. 304, 12 €).
Passa-se numa pequena e luxuosa localidade ao pé do mar, na Maremma toscana, no Natal.
1991
Surgiu há pouco uma brilhante ideia, em Itália: a publicação de mais textos tirada da colaboração entre Fruttero e Lucentini aparece Fruttero & Lucentini. “I nottambuli” , o título do livro, editado por Avagliano Editore (pagg. 304, 12 €).
Livro dedicado aos que aman, amavam e amarão as fábulas mas que hoje, crscidos, têm que olhar para além delas. è um livro para os que nas noites de insónia sonham de olhos abertos.
Trata-se de uma recolha de escritos que propõem uma espécie de passeio nocturno ideal em companhia de escritores famosos e de personagens livrescas, misto de história e de fantasia que se cruzam com o mundo da arte e da política.
Trata-se de uma recolha de escritos que propõem uma espécie de passeio nocturno ideal em companhia de escritores famosos e de personagens livrescas, misto de história e de fantasia que se cruzam com o mundo da arte e da política.
Para terminar, não quero deixar de citar um blog, o único que encontrei que fala destes autores, o Blog Incursões, no dia 5 de Janeiro de 2008, no post intitulado o leitor (im)penitente 29:
“(...) uma homenagem aos leitores de Fruttero e Lucentini, sobretudo ao livro “A mulher dos domingos” se é que houve tradução portuguesa. E ao filme que era delicioso (Jacqueline Bisset, Marcello Mastroianni e Jean-Louis Trintignant, realização de Luigi Comencini, 1975). Como é sabido Franco Lucentini suicidou-se, acabando assim a mais interessante dupla literária italiana. Carlo Fruttero acaba de publicar, cito a edição francesa que é a que tenho e li, “Des femmes bien informées” (Robert Laffont). Uma homenagem ao livro que os fez famosos e que acima referi. Três dos meus leitores são fans deste duo e decerto gostarão de saber que a velha fonte não secou. Ora aqui está um toque de nostalgia que fica sempre bem num balanço de livros. "
No blog Incursões, que se encontra agora em:
Nâo li nada de Fruttero & Lucentini,mas anotei no meu caderno de citas "Per lo stupido il cretino è sempre l´altro".Recorda-me outra,de Confúcio:"O homem de bem exige-se a si mesmo,o medíocre espera tudo dos outros".
ResponderEliminarUm beijinho. Maria
Parabéns de encontrar ao final um blogue em Portugues (pais do que gosto muito) e que fala assim bem (e em detalhe) de unos escritores de policiais italianos. Jà sabe que pareciu um novo livro dele?
ResponderEliminarCiao! Piacere di averla qui!
ResponderEliminarParla (scrive) molto bene in portoghese... Dove ha studiato? Ho vissuto 15 anni a Roma... , non tanto spesso quanto voglio... Ho lavorato con Luciana Stegagno-Picchio, grande amiga, 7 anni alla Sapienza...
Come si chiama il nuovo libro di Fruttero? "Donne che sanno qualcosa"?? Non lo so. Me lo dica Nela. Bacioni e a presto, spero!
MariaJ.
Sono scapate delle parole... Volevo dire che vado ogni tanto a Roma, ma non tanto spesso quanto vorrei...
ResponderEliminarOlà Maria, grazie il mio portoghese è...autodidatta. Il libro di cui parla è "Donne informate sui fatti" mentre il nuovo, appena uscito, si intitola "Mutandine di Chiffon - memorie retribuite" ed è un'autobiografia dell'autore con aneddoti, quindi altro dai gialli a cui ci ha abituato. Tuttavia ho pensato potesse interessarLe visto la recensione così dettagliata sul suo blog. Da parte mia, ho letto in portoghese tutti i policiais de FJ Viegas (ainda não o último livro dele, O Mar em Casablanca e do brasileiro Garcia-Roza). Se você tiver outras sugestões de autores Português de policiais são bemvindos, a não ser os clasicos Eça de Queiroz e Cardoso Pires (já na minha livraria) Obrigada PS Complimenti anche al suo italiano, perfetto!
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