Anne Frank nasce em 12 de Junho de 1929, na Holanda. Morre de tifo no campo de concentração de Bergen-Belsen, pouco antes de fazer 16 anos.
Rutka Laskier nasce no ano de 1929 também, na Polónia. Morre em Auschwitz não se sabe bem em que ano.
O Diário de Anne Frank é conhecido em todo o mundo.
Fez 63 anos que foi publicado pela 1ª vez, em 1947, pelo pai dela, Otto Frank, o único da família que sobrevivera a Auschwitz.
http://www.ipv.pt/millenium/millenium26/26_16.htm (belíssimo trabalho sobre Anne Frank)
O livro de Clara Kramer é no fundo um livro de Memórias, tirado do seu “diário” . Diário esse escrito durante o período em que está escondida num bunker subterrâneo, com outras 17 pessoas, fugindo às perseguições nazis.
Clara é uma adolescente de 15 anos quando o exército alemão ocupa a Polónia e entra na terrinha onde vivia, Zolkiev.
Enquanto todos os judeus da região são perseguidos, assassinados ou enviados a campos de concentração, Clara e a sua família encontram uma ténue esperança de salvação quando o senhor Beck acaba por assumir a tarefa de ocultar e proteger judeus na cave da própria casa. Tarefa heróica que lhe valeu uma homenagem no Yad Vashem em Israel.
Aos 80 anos, Clara Kramer retomou, com a ajuda do escritor Stephen Glantz, o seu passado, testemunhando sobre um período terrível da história: dos cinco mil judeus que habitavam Zolkiew antes da guerra, menos de sessenta sobreviveram...
“Quando esta guerra acabar, apenas as valas comuns testemunharão que em tempos houve aqui um povo”, escreve-lhe uma amiga, conta Clara.
E continua: "Tínhamos os corações partidos. Era o fim. O fim do mundo.Na nossa tradição, uma morte rasga o tecido do mundo. Estamos todos ligados. Por casamento. Por amizade. Por trabalho."
E explica a razão desse diário:
"E um dia, sem mais nem menos, a minha mãe olhou para mim e disse: “Clara, vais escrever um diário.”
O "Diário de Rutka", outro testemunho desses anos, apareceu em 2006, na Polónia.
Rutka, menina de catorze anos, dotada para a escrita, observadora, curiosa, quando percebe que a sua é uma vida que não vai ter futuro, decide deixar um testemunho consciente, voluntário.
Vive no gueto de Bedzin, na Polónia, primeiro no que ela chama um “gueto aberto”, nas casas para onde foram levados, mas “impedidos” de se deslocar livremente, obrigados a respeitar as leis do gueto e a usar a “estrela amarela”.
Meses mais tarde, são levados para uma aldeia perto, Kamionka, um “gueto fechado”, entre muros e arame farpado, e guardas armados nas “saídas”.
Segue para Bari onde fica um tempo num campo de refugiados e depois para Israel, onde viveu em Givatayim.
O diário foi encontrado por Stanislawa Sapinska, na cavidade entre dois degraus das escadas de casa, onde Rutka lhe pedira que procurasse, no caso de ser deportada.
Guardou-o e lia-o de vez em quando. Mas os anos passaram, e só em 2006 o diário é publicado na Polónia.
Stanislawa contou a Zahava que costumavam sentar-se as duas no pátio da casa, na Kasernerstrass, requisitada pelos alemães quando criaram o gueto de Bedzin e cujo proprietário era o pai de Satnislawa.
Eram amigas e falavam de tudo, abertamente.
Sapinska tinha 20 anos e Rutka 14 mas, dizia ela, era uma “menina séria e madura”
Segundo Stanislawa, Rutka sabia o que se passava fora e conhecia a situação dos judeus deportados, sabendo pois o que a esperava, sem ilusões.
E que lhe dissera que estava a escrever um diário para que “ficasse” a testemunhar, já que ela não sobreviveria à guerra.
É graças ao seu diário, apesar de ela ter desaparecido, hoje nós podemos aquiescer ao seu pedido: “não esquecer, e poder lembrar um dia” a brutalidade do que viveu e viu.
-----------
(*) Doutora em Ciências da Educação, Zahava Laskier Schetz faz parte do Departamento de Educação Científica, na Fundação Weizman em Israel