quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O Haiti: Vidas são vidas ou: lá longe, há outras vidas...

Porto Príncipe (Port au Prince), o Palácio Real, antes do terremoto
Passaram já sete meses desde que aconteceu o terrível tremor de terra no Haiti.


Porto Príncipe, cidade capital

Foram grandes os títulos nos jornais, as intervenções na televisão, grandes promessas, grandes esperanças...
Passaram sete meses desde o terremoto do Haiti...
Mas o Haiti está lá tão longe!

Sete longos meses para quem lá ficou e teve a sorte (?) de sobreviver.
Sim, sobreviver, porque de vida não se trata com certeza.
E nós? Nós esquecemos... As ajudas por onde andam?


E nós?
Continuámos a ler as grandes parangonas dos jornais, que já estavam a falar de outras coisas, entre corrupções várias, petróleos derramados, florestas queimadas, lixo a céu aberto, ilhas de lixo, lixo nuclear, problemas com o ambiente, etc...

Já não sei (não importa para o caso), quem dizia há dias:
“Sim, a defesa do ambiente... Claro! É importante pensar no ambiente...
Mas a verdade é que, em certos sítios da terra, ninguém vai ficar vivo para ver o que acontece ao ambiente: já foram enterrados pelos cataclismos, ou estão à espera de morrer de fome e tanto lhes faz que o ambiente esteja como está...”

Dou-lhe razão...

Primeiro que tudo, deveria pensar-se nas pessoas: o Homem vem antes do ambiente, por absurdo que isto possa parecer já que o homem destrói o próprio habitat do homem... O tal ambiente! No qual o homem vai viver e morrer por causa de o destruir, ou deixar destruir.
Enquanto não houver cultura e educação suficientes, nada vai mudar...
E consciência política "séria"!
E...ideologia "a sério"!

"É tudo muito complicado", dirão...
"Sim, paradoxal mesmo!", acrescentarão alguns.
Será? Mas vale a pena continuar a pensar nisto tudo, e não esquecer, não deixar ficar para trás...

O terremoto do Haiti aconteceu em Janeiro deste ano. Claro, era inevitável.

Mas o que não “era inevitável” era que o resto do mundo –e até dentro do próprio Haiti- todos se estivessem nas tintas para as gentes do Haiti!
Não era inevitável que ninguém se preocupasse “a sério” com a ajuda real para o Haiti!
Ajuda vigiada, se necessário! Policiada! Com armas! Há para aí tantas...!
Sem deixar "guardar" nada nos bolsos...
Porque não chegar a ajuda onde deve chegar, depois deste tempo todo, bem: Isto é que é mesmo paradoxal!
Limito-me a citar algumas passagens de "notícias" :

Notícia do jornal espanhol, El País, no suplemento de domingo, 15 de Agosto (tradução livre minha):

"Sete meses depois do terrível terremoto, o Haiti continua de rastos. Não só os edifícios e as estradas, como as próprias pessoas continuam de rastos.
No meio dos escombros, que ninguém ainda limpou, 1.300.000 haitianos vivem debaixo de plásticos".

Então, grande parte dessa gente sem esperança recorre ao Vudu (Vudú, Voudu, Voodu)!

Tanto faz, não têm nada a perder!

Já não esperam nada: por que não hão-de tentar a magia negra??? Tentar "acreditar"?

Bandeira de Vudu

Mais adiante:

"Longe de tudo e de todos, milhares de haitianos celebram em Saut D’Eau, a uns 60 kilómetros a norte de Porto Príncipe, "o compromisso". Um ritual meio católico, meio vudu que os faz entrar em transe e esquecer a miséria por uns dias.
(...) Um grupo de mulheres vestidas com roupas azul-claro e brancas avançam, cantando em crioulo. Todas usam a mesma espécie de escapulário da Virgem dos Milagres.
Uma delas explica que vieram do norte da ilha para rezar.
Reconhece-se católica, mas não vê nada de mal no vudu. "As duas coisas são parecidas", diz ela, enquanto avança até um grande largo onde se juntou enorme multidão.

Ali, no meio, Pier Janis, vestida de amarelo, baila ao ritmo africano dos "bongos" e das "maracas".
Em redor, homens mulheres, jovens e velhos, movem-se ao mesmo ritmo.
É o momento do sacrifício. Vários homens trazem duas vacas duas cabras para que la santeira escolha o animal que deve ser sacrificado ao deus Erzuli. A cadência vai-se acelerando e Pier Janis dá voltas cada vez mais rápidas, com os olhos cerrados.
Está como que em transe quando se aproxima dos quatro animais; toca-lhes, anda á volta deles até que, finalmente, se apoia, meio desmaiada, sobre a cabeça e o pescoço de uma das vacas. É a eleita..."
"Que estranho! Vudu?!", dirão...
E que outras respostas concretas há?
Ajuda internacional ...ou Vudu?

Notícia, há dias, no "Público":

"Sessenta toneladas de ajuda humanitária partem hoje de Lisboa a bordo de um navio com destino ao Haiti, onde em Janeiro um sismo devastou o país, provocando a morte a 200 mil pessoas e desalojando milhares de outras. O donativo anónimo foi recolhido pela Associação Forever Kids."

Na "epa" (European Press Agency, on line): 17/08/10

Porto Príncipe, 17 de Agosto (EFE):
"A Comissão Interina pela Reconstrução do Haiti (CIRH) aprovou nesta terça-feira em Porto Príncipe a realização, durante os próximos três meses, de 29 projetos com um investimento de US$ 1,6 bilhões e com a perspectiva da criação de dezenas de milhares de empregos."

AFP: 18/08/10
"O Banco Mundial anunciou ajuda de US$ 55 milhões para o Haiti, depois do terremoto de 12 de janeiro que matou 230 mil pessoas e destruiu boa parte da capital Porto Príncipe. O dinheiro será destinado às necessidades mais urgentes para que se possa reconstruir o país."

Bem. Vamos acreditar que vai ser desta...

É "desejo que aconteça", apenas? O tal wishful thinking dos ingleses?

Acreditamos mesmo... ou , se não for verdade, recorremos ao Vudu, também? É uma solução.


Recolhi algumas informações, caso alguém esteja interessado...

Informações para assistência humanitária:

- Não recolha água, alimentos nem roupas para o Haiti porque o país não dispõe das infra-estruturas necessárias para os distribuir;
- Opte por doar dinheiro a organizações de ajuda humanitária reconhecidas, permitindo aos profissionais obterem exactamente aquilo que é preciso sem sobrecarregar os recursos já escassos para os transportes e armazenamento;

- Quem quiser voluntariar-se para ajudar no terreno tem que ter experiência anterior em cenários de calamidade ou em países estrangeiros, ou possuir capacidades técnicas em carência no momento, e deve fazê-lo através de uma organização reconhecida de assistência humanitária.

Mais informação disponível no Centro de Informações sobre Desastres Internacionais, agência ligada ao gabinete de Assistência em Calamidades das Nações Unidas, em www.cidi.org.

(*) Mitos e Falsas concepções da "religião" vudu, que 5% da população do Haiti ainda pratica hoje:

"O Vodu veio ser associado na mente popular com os fenómenos como "zombies" e "bonecas do vodu".

Enquanto há uma evidência etnobotânica que se relaciona à criação do "zombi", é um fenómeno menor dentro da cultura rural do Haiti e não uma parte da religião de Vodu em si.
Tais coisas caem sob os auspícios do "bokor" ou do feiticeiro mais do que do sacerdote do Lwa Gine.
A prática de furar com agulhas "em bonecas vodu" foi usada como um método de amaldiçoar um indivíduo por alguns seguidores do que veio a ser chamado "Voodoo de Nova Orleans", que é um variante local do voodoo.

As bonecas de "vodu" não são uma característica da religião haitiana, embora as bonecas feitas para turistas possam ser encontradas no Iron Market em Port-au-Prince, capital do Haiti.

A prática tornou-se associada ao Vodu na mente popular através dos filmes de horror." (wikipedia)

(**) Sobre o Haiti:

1 comentário:

  1. O problema está na exploração de toda a humanidade e todos os recursos,em favor e,por uns quantos monstros.
    Não se resolverá com caridade.Esse processo tem 2000 anos e ainda não resolveu nada.Só agravou.
    Quando os que amealham os recursos de todos,em caixas fortes,para benefício de nada,morrem como todos,forem obrigados a daí comer dinheiro,jóias,títulos,honrarias e quejandos então o mundo mudará,se ainda houver mundo.
    Cordial abraço,
    mário

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