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The Migrant Mother (1), 1936, fotografia de Dorothea Lange
A pobreza é chocante! A violência é chocante! A desumanidade é chocante! A hipocrisia é chocante!
Aqui vai mais um pouco de “indignação”: é cíclico...
“São tempos de dureza social, em regressão securitária. As sociedades do velho continente caem na precariedade, na exclusão, no desemprego de massa, na desigualdade – e na lógica financeira que transforma os humanos em “variáveis”.”
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"Sociedades em que há poucos excepcionalmente, obscenamente, ricos e outros – cada vez em maior número - excessivamente pobres", continua.
Sociedade a de hoje em que a aridez dos sentimentos dói. Em que há ignorância...
Ainda há analfabetos ! Que, é verdade, nem sempre são os verdadeiros "ignorantes"!
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"Escola dominical", do pintor russo Voskresnoye
Ainda há quem não coma como deveria comer. Ainda há quem não tenha como pagara renda e seja expulso. Expulsão da casa, do quarto, do cantinho que se tem significa exclusão e, em pouco tempo, degradação, perda da estima de si próprio, desentendimento familiar.
Violência. Desespero. Suicídio.
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Solidão.
E, como diz Camões: "o céu sereno" tão silencioso lá no alto!
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Há os desempregados que continuam a "aparentar" ter trabalho, escondendo à família a situação real.
Os que aceitam trabalhos que nunca aceitariam na vida, muito abaixo dos estudos que fizeram, do dinheiro que a família e o Estado gastou com eles e que, licenciados em coisas várias, vão parar à caixa de uma loja qualquer, a receber o ordenado mínimo - porque os filhos existem e têm de comer.
O ordenado mínimo que hoje o Governo não quis aumentar...
E há a casa e há a prestação do carro a pagar.
Tudo isto até quando? Um dia já nem esse dinheiro vai chegar.
a secura das rochas escarpadas, no Magoito
Mas há os que têm muito... E muita secura nos corações!
Há a indiferença, há a loucura do "ganho", do "ter mais", que impede esses "seres" de pensarem no outro.
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Há empresas importantes e com lucros altos quenão têm escrúpulos de fechar fábricas e "deslocalizá-las - ainda hoje, com a crise!- para outros países!
Até é fácil: falo de Acelor- Mittal, a empresa francesa-belgo-luxemburguesa, dos "aços", da siderurgia, que ainda há dias anunciou que vai fechar duas fábricas e lançar no desemprego milhares de empregados.
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Isto é chocante. diria mesmo a tal palavra: "obsceno". Porque mete nojo na sua vulgaridade...
Há os que ainda têm trabalho mas o dinheiro já não chega ao fim do mês. Há os que com a crise, deixaram de comprar os remédios necessários: porque a escolha é tratarem-se...ou comer.
Ou dar de comer...
Fora de casa, vagueiam o dia todo, talvez parando a beber num café ou noutro para aquecer a alma gelada. Que têm os olhos perdidos sem ver, virados para o seu interior vazio e solitário.
Esses mesmos que, à hora de fechar dos supermercados, vão buscar os restos, as latas, os congelados, o esparguete, a comida que está fora do prazo legal. E levam-na para os filhos, para a família...
Há gente que dantes se chamava de "remediada" que não tem onde dormir. E vai buscar comida à “sopa dos pobres”...
Há quem durma na rua, e o Inverno vem aí! Em França, aqui, em Espanha, enfim, na velha Europa...
O que pensamos fazer a propósito disto?
É impossível não protestar!
Volto a lembrar as palavras de Stephane Hassler: Indignai-vos!
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O livro que correu o mundo e inspirou as "primaveras árabes" na Tunísia e no Egipto e todos os "movimentos de indignados" pela Europa e pela América!
Livro que já não sei em quantas línguas está traduzido, sei que em romeno, checo, turco, árabe...
Mas Hessel conclui que esse é só o primeiro passo...
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Le Monde - capas das várias traduções do livro de Hessler
Protestar é o segundo...
Lembro as palavras de uma canção de Bob Marley:
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"Enquanto a filosofia que suporta uma raça superior e outra inferior não for completamente desacreditada, haverá guerra, eu digo guerra.
Enquanto existirem cidadãos de 1ª e de 2ª classe de qualquer nação, enquanto existir a diferença da cor da pele de um homem e essa for mais importante do que a cor dos seus olhos, haverá guerra.
Enquanto os direitos básicos não forem igualmente garantidos para todos, sem discriminação de raça, até esse dia o sonho de paz duradoura e de cidadania mundial e as regras da moralidade internacional permanecerão como ilusões fugazes para serem perseguidas e nunca alcançadas.”
http://youtu.be/JL9DXaXufh8 (Bob Marley canta "War")
Mas esse dia chegará! Em que a discriminação de raça ou social terminará!
Chegará? Duvidei por um momento... Sim, chegará!
(1) “The Migrant Mother”, fotografia de Dorothea Lange, 1936. Esta fotografia é uma das mais famosas sobre a grande fome nos USA, depois da Grande Depressão. Mostra uma jovem mãe que não quis ficar anónima.
Numa cidade da Califórnia, onde Dorothea Lange a fotografou.
Chamava-se Florence Owens Thompson e está com dois dos sete filhos. O marido morrera em 1931. Desempregado. Ela tentava há anos uma ajuda social, fosse qual fosse, ou um emprego.
Mais tarde, em entrevista (2008), a filha Katherine (a menina escondida do lado esquerdo da foto) confessou que o sucesso da fotografia trouxera vergonha à família de tanta pobbreza.
Eu diria que não seria ela quem deveria ter vergonha...
Mas até isto é fácil de dizer!
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Se perdermos a capacidade de nos indignar, perderemos o que ainda nos resta de humano.
ResponderEliminar5 bjs
Gostei muito deste post.
ResponderEliminarAté quando tanta pobreza, tanta desigualdade, tanta desumanidade...?
Às vezes tenho dificuldade em acreditar que há-de acontecer mudança...
Um beijinho
MJ,
ResponderEliminarNão tenho palavras a não ser indignação!
O seu post é extremamente valioso.
Beijinhos. :)
Por agora, resta-nos a indignação... E a seguir?
ResponderEliminarContinuemos a ser HUMANOS!!!!
Obrigada!
A fotografia Mãe Emigrante continua a estremecer-nos.
ResponderEliminarEstamos a viver uns tempos muito complicados, e não se divisa nenhuma luz ao final do túnel.
No entanto temos que manter a fé e a esperança, estar vigilantes, e votar à esquerda, sempre à esquerda, e se fôr possível à esquerda da esquerda!
Por desgraça aqui vai ganhar a direita em novembro, e isso é o que mais "jode".
Beijinhos, vivamos mientras podamos (y nos dejen)
Querida Amiga,
ResponderEliminarA verdade dolorosa do que escreve dói fundo nos sentires da gente! Tanta verdade e tanta incapacidade de mudar!! Que revolta!
Estes homens de hoje pouco mais têm de humano do queo nome...
Beijinhos e boa semana