sábado, 31 de dezembro de 2011

BOM ANO 2012, CONTRA TUDO E CONTRA TODOS!

Não vamos deixar que nos estraguem o novo ano! Com bom humor, generosidade, solidariedade e pouco egoísmo... Os tempos vão ser difíceis? Pois vão. Como dizia uma amiga minha: "se a crise continuar, nós comemos a crise!"

Bom Ano para todos os meus amigos!
Deixo-vos umas imagens de beleza, mesmo com céus nublados. O quadrinho é uma aguarela do Aldo Zari...

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Fra Angelico e o Natal e Paris...

FRA ANGELICO EM PARIS!

Passou o Natal... Momentos de alegria: os belos presépios e  as bellissime "Madonne" do Renascimento italiano com " il bambino" ou sem menino, as maravilhosas "anunciações", desde  Simone Martini, Leonardo, Benozzo Gozzoli...
                                                  Simone Martini, Anunciação (Uffizi)
Benozzo Gozzoli, Madonna con il bambino
                                                       Leonardo da Vinci, Anunciação

Lembro entre esses criadores Fra Angelico que chegou um pouco antes do Renascimento, recordo a sua pintura delicada, suave, o azul inconfundível do manto das Virgens, ou dos céus: o lápis lazúli que ele soube tão bem usar e enriquecer, juntamente com os rosas-pálidos, ou os roxos suaves.
As auréolas que envolvem os santos combinam-se bem com este azul dos céus, ou com o carmim das vestes.


                                            Fra Angelico, Cenas da vida de São Nicolau
                                                   Fra Angelico, Anunciação (Uffizi, Florença)


                                        Fra Angelico, Adoração dos Magos (National Gallery)

Harmonioso, sempre. Repousante.


Em Paris, até 16 de Janeiro, vão estar expostas - no Musée Jacquemart-André- telas deste artista. 


Giovanni da Fiesole (ou Guido di Pietro Trosini) mais conhecido como Fra Angelico nasceu na Toscana, em 1387 e morreu em Roma em 18 de Fevereiro de 1455) foi considerado o pintor italiano mais importante , entre o Gótico Tardio e o início do Renascimento.

Fra Angelico ingressou no convento dominicano de Fiesole em 1407. Antes disso tinha já estudado pintura. Não podemos esquecer a influência da famosa Escola de Siena, com Simone Martini e outros.

Fra Angelico, ou "beato Angelico", frade dominicano, viveu na Toscana e pintou em vários locais, mas sobretudo no Convento Dominicano de San Marco, em Florença,foi  protegido por Cosimo de’ Medici, seu amigo.
                                                               Fra Angelico, Madonna

Pintor de grande religiosidade, foi durante séculos esta sua faceta a mais reconhecida.

(Por curiosidade, foi beatificado pelo Papa João Paulo II,  em 1982, talvez seja o único pintor “beatificado”, mas o Papa escolheu bem, sem dúvida... Ele era já o "beato Angelico"...)

Mas a verdade é que se distinguiu como  um artista inovador e a sua pintura revela subtileza e quase sofisticação.

Cito  The Economist onde vi a notícia da Exposição:

Lorenzo Monaco

As suas pinturas revelam além da graça delicada e as cores intensas do estilo “gótico internacional” que ele aprendeu com o sue Mestre, o frade Lorenzo Monaco, também o interessam as novas técnicas que iam surgindo, ilustradas por Masaccio e Paolo Ucello, com a visão tridimensional que revela já a importância das leis da perspectiva.”


Paolo Uccello

Benozzo Gozzoli, Adoração dos Reis Magos

Benozzo Gozzoli, Virgem e Santos
Também Benozzo Gozzoli, para mim um dos mais extraordinários pintores do Renascimento - desse fim do gótico.


Na Exposição em Paris intitulada “Fra Angelico e os Mestres da Luz” estarão presentes 25 das suas obras, acompanhadas das obras de outros seus contemporâneos do início do Renascimento.
(www.musee.jacquemartandre.com)

sábado, 24 de dezembro de 2011

Bom Natal para todos os meus amigos! O ratinho e o ouricinho querem participar nos votos de Boas Festas...

Foi este o primeiro Natal que o Ratinho Poeta passou em nossa casa. Talvez por isso a excitação dele seja tão grande.
E a do ouricinho Danny é igual, porque ele imita sempre o seu Mestre.

Estive fora uns dias e, ao abrir a porta, foi uma barulheira tal à entrada da sala, junto da árvore de Natal que já tinha deixado preparada...

- Julguei que não vinhas para o Natal!, disse o ratinho, com ar de censura na voz.  Pensei que já não gostavas de mim...
O ouriço olhou para mim, triste. 
- E de mim...
Estavam destruídos!
- Estava tudo às escuras..., disse o ratinho. Julguei que ficasses por lá.
O ratinho Poeta é um sentimental...
- Que ideia? Se não pensasse passar o Natal em casa, tinham ido comigo!
Ficaram mais contentes.
Foram buscar o saquinho de dormir já enfeitado com um pinheirinho de Natal minúsculo. E meteram-se lá  dentro.
- Gostas? É para o Natal.

E começaram a andar pela casa à procura de prendas para me dar e inventaram uns embrulhos especiais...
- Este é para ti... este é para o Manuel... Chocolates de Portalegre.


Tinha-os trazido eu de Portalegre, oferta de uma amiga...
Quiseram tirar fotografias na árvore de Natal e, claro, fiz-lhes a vontade.

 A árvore está a ficar um pouco velha e as luzinhas já vi que para o ano tenho que comprar outras mais brilhantes! E falta-me uma estrelinha  que dantes tinha - lá no alto.

Mas o ratinho e o ouricinho deram-lhe uma nova luz! O ouricinho até tinha posto um cachecol vermelho com pintinhas!

O ratinho bem me disse, um tanto escandalizado:
- Já viste que não tens uma estrela do Natal!? Até te trouxe esta flor vermelha, para ficar mais alegre...
- Obrigada, ratinho, mas procura bem, tem de estar lá...
Depois espreitou melhor, e viu-a...
- É muito e pequenina, quase que nem se vê, mas é uma estrelinha. E tens um anjinho muito  bonito que eu vi.
- Deu-mo uma amiga...
- E também um lindo coração bem vermelho...
- Deu-mo outra amiga...
- E um Pai Natal que parece um pintainho... Ou é um pinguim?

- Foi a Gui e o Diogo que nos deram, há muitos anos.
- Olha, trouxe mais estas prendas...

- Afinal, está bonita a tua árvore!, disse o ouricinho.
Fiquei contente.

Andei pelo Alentejo, minha terra, a ver coisas bonitas. Até fui ver o Museu de Estremoz.
E esqueci-me da estrela...
Paciência. Para o ano a estrela vai ser maior! E não vai ser virtual, como estas que fui "roubar" à internet...

A Nossa Senhora é uma imagem dos "bonecos", em barro,  de Estremoz". Vem do tempo dos meus pais, onde a fui buscar, à casa da Serra, vazia, para este Natal...
Bom Natal!

sábado, 17 de dezembro de 2011

Wim Wenders e "Lisboa Monogatari", como se deveria ter chamado o filme "Lisbon Story"( 1994 )


WIM WENDERS E LISBON STORY

Ernst Wilhelm “Wim” Wenders nasceu em Dusseldorf,em 14 de Agosto de 1945, e é uma das figuras mais importantes do cinema alemão.

Já aqui falei dele (Pina Bausch, O Amigo Americano, As Asas do Desejo) porque gosto dos filmes que faz.

Lisbon Story  vem na sequência de um outro filme também passado em Portugal (filmado entre Sintra,  a Praia das Maçãs e a Praia Grande). Chamava-se "O Estado das Coisas" (1982).

Em 1970, Wenders iniciara um ciclo de filmes falando da "viagem" - ou do viajante?-  (The Road Movie Trilogy) e com Lisbon Story pretende recordar e homenagear essa trilogia.

O autor pensou chamar-lhe Lisboa Monogatari, referência-homenagem decerto ao filme japonês “Tokyo Monogatari”, de Yasijuro Ozu,  e talvez a outros “monogatari” (contos/histórias), a começar pelo conto "clássico" de Murasaki Shikibu, "Gengji Monogatari", ou o "Ugetsu Monogatari" (Contos da Lua Vaga depois da Chuva), de Kenji Mizoguchi, uma das obras-primas do cinama mundial!

No filme dedicado a Lisboa, actores como Rudiger Vogler (fantástico na naturalidade e ironia!)- na figura de Philip Winter, o viajante e sonoplasta - e de Patrick Bauchau, o realizador “perdido”, Friedrich Munro (talvez inspirado pelo nome do grande  Friedrich Murnau...) interpretam personagens vivas.

As duas figuras vêm já do outro filme que referi - “O Estado das Coisas” (2)- onde um realizador (também chamado Friedrich Munro) anda girovagando à procura de um produtor desaparecido.

Aqui trata-se de sobreviventes de um acidente nuclear (remake de um filme de ficção científica  de Roger Corman, "O dia em que o Mundo acabou".

No "Estado das coisas" um realizador que veio filmar os "sobreviventes" da catástrofe, vagueia, à procura de alguém e perde-se... E não volta.

A troupe  aguarda o seu regresso, num Hotel abandonado, à beira-mar (o Hotel das Arribas, na Praia Grande, ainda pintado de branco e azul, mas no filme a preto e branco, claro...). Preocupada, assustada e aborrecida,  vai filosofando para passar o tempo e o medo...
 
Na Lisbon Story trata-se de  uma filmagem através de Lisboa, com imagens belíssimas dos tectos de Lisboa, do rio Tejo, de Alfama, dos eléctricos, das ruas da Baixa – que nos reconcilia com Lisboa.

Uma Lisboa pobre, sem dúvida, quase fora do tempo (tão longe da Europa!), mas com outras riquezas: o céu, o  Aqueduto, Alfama, os azulejos, a música e a voz (perfeita?) de Teresa Salgueiro. E a miudagem de Alfama que filma para ele, e que fazem um bom papel!

Nessa “peregrinação” cultural, passa a “asa” de Pessoa, encontramos Manoel de Oliveira e o grupo dos Madredeus.

(1)    Em meados dos anos 70, Wim Wenders realizou  três filmes ligados ao tema "estrada", ou a viagem (The Road Movie Trilogy) Alice in the Cities (1974), The Wrong Move (1975) e Kings of the road (1976). Nesses filmes, aparece pela primeira vez a personagem de Philip Winter, o viajante-observador-ouvinte- errante, que vai voltar na "Lisbon Story" (1994),  e, mais tarde ainda,  no filme "Faraway, so close!"

(2)    The State of things (1982). Neste filme, Wenders trabalhou com Jim Jarmusch que o "seguirá"  noutra “viagem” :  o filme Stranger than Paradise - a sua viagem, maravilhosa também, onde John Lurie tem um papel inesquecível...

Cesária Évora canta "É Doce Morrer no Mar", com Marisa Monte


Morreu no Mindelo, Cabo Verde, sua terra natal, ao pé do mar...

O quadro é de Kuinjy, o pintor russo: Luar no mar à noite

Já com saudades dela... Cesária Évora - Saudade