Invenção do selvagem? Qual selvagem?
Abriu no passado dia 28, em Paris, no Musée du Quai de Branly, uma Exposição que se intitula: “Exibições, a invenção do selvagem” e que durará até ao dia 3 de Junho de 2012.
Musée du Quai de Branly
O organizador é nada mais nada menos do que o ex-jogador, ex-estrela da equipa de futebol de França, Lilian Thuram, natural das Antilhas francesas.
Lilian pediu a sua reforma desportiva em 2008, e, como Membro do Conselho Federal da Federaçãp Francesa de Football, pede a demissão em 2010.
Criou, uma fundação, a “Fondation Lilian Thuram, éducation pour le racisme.”
A luta contra o racismo –seja ele de que natureza for- é sempre uma coisa a defender e a divulgar!
Aqui fica pois mais uma mensagem em garrafa...
Já agora: Lilian Thuram nasceu em Pointe- à Pître (Guadalupe), em 1972, e foi viver para França aos 9 anos de idade.
Colecção Lévi-Strauss, alfinete dos índios Bororo (Brasil)
A ideia da Exposição vem de Pascal Blanchard, co-comissário da "Exhibition", historiador e coordenador do livro: “Os Zoos humanos: no tempo das exibições humanas” (Nicole Bancel, Sandrine Lemaire e Pascal Blanchard, Ed. La Découverte).
http://www.monde-diplomatique.fr/2000/08/BANCEL/14145.html
Parece impossível, não é? Mas até ainda há bem pouco tempo o “diverso” era mostrado no Circo, nas tendas das feiras e, também, em locais mais sofisticados como o Jardin d'Acclimatation, em Paris.
Nesta entrevista muitas coisas de interesse se surgiram, como não podia deixar de ser. Entre outras, é o próprio Thuram que diz:
“Em 2002, estava eu a jogar no FC de Barcelona quando Pascal Blanchard veio fazer uma conferência sobre os “Zoos humanos”. Fiquei aliviado: percebia finalmente o mecanismo do racismo, o modo como se formaram os imaginários do selvagem. Esta exposição é a terceira que a minha fundação realiza.
A primeira acção foi a apresentação do meu livro: “As minhas estrelas negras, de Lucy a Barak Obama”; a segunda visou uma aproximação anti-racista nas escolas elementares.”
Philippe Dagen (crítico de Arte) escreve, num pequeno artigo: “ O primeiro assunto é a percepção do outro, nos países ocidentais, desde o Renascimento. Todo o indivíduo considerado ("apercebido como") diferente, inquietante ou apenas pitoresco. Assim, surgem as coisas “bizarras” da natureza: anões, gigantes, obesos, mas também os “homens de cor”. Eu lembro Frantz Fanon e a "negritude"...
Esta exposição faz um inventário dessas figuras da alteridade. A distância tem um lugar considerável: os embaixadores vindos do Sião que o rei Luís XIV recebe; os Iroqueses e Algonquins que chegam à corte de Inglaterra.
(...) Nas obras que os descrevem, o estupor vai até à incredulidade: “Como podem ter existido na criação divina seres como estes?, perguntavam. Com costumes e hábitos tão diferentes dos “'nossos'?"
Alguns tentam compreender, é certo. Outros, não, é claro...
“A maior parte -continua Dagen- pensa no lucro, apoderando-se das terras lá longe, organizando a escravatura nas plantações da América. Desde o século XVII que o homem negro é o “escravo” e poucos se indignam com isso na altura...”
Lembra Thuram: “Alguns ainda foram exibidos em jaulas, no Jardin d’Aclimatation em 1931.”
(Entrevista a Lilian Thuram, em Le Monde de 29 de Novembro de 2011)
A humilhação, o espanto, a dor... Quem fala deles?
“Com esta Exibição não se pretende vitimizar ou culpabilizar ninguém, apenas mostrar como, de geração em geração, fomos condicionados por crenças sem fundamento.
É importante pôr uma distância entre nós e isso para melhor compreender. Descentralizarmo-nos.”
estatueta da Colômbia, Colecção Lévi-Strauss
Gostei muito de ler o seu texto.
ResponderEliminarA exposição deve ser interessante.
Sorte de quem a pode ver.
Um beijinho
Vamos avançando, mas porquê tão desesperadamente devagar?
ResponderEliminarJá cheira a fim de semana, sê feliz!
Beijinhos
O racismo, o pior da humanidade. Aterrador pela actualidade também!
ResponderEliminarBeijinhos
Que post interressante Falcão, mais uma trincheira aberta e tem de ser não é? o racismo só mudou de apresentação, entretanto coma crise mundial, voltam as velhas frases. Bom ter vindo aqui e ver tudo isso, as vezes desanimamos um pouco.
ResponderEliminarbjs de todas nós
Racismo que não é só marcado pela cor; cada vez mais o poder do dinheiro e a ganância a mostrarem formas diferentes de racismo e de descriminação.
ResponderEliminarAté quando?
Um texto de alerta e de muita actualidade.
Obrigado
Abraço,
Raul
Sim, voltam as velhas frases e as velhas "atitudes"...Racismo social subreptício, hipócrita (ou não..) é o que há mais!
ResponderEliminarAbraço e bom week end