quinta-feira, 30 de maio de 2013

Verão em Roma, tanti anni fa... e um pouco de policiais...




Vivia em Roma e estava habituada ao calor abafado e húmido que ia aumentando, gradualmente, de Maio a Junho, começando já em finais de Abril, com dias de sol maravilhosos, céu azul e algumas chuvas esquecidas. 


E o sol brilhava de repente...

Eram muito quentes certos Agostos em Roma...




Já nos tínhamos esquecido do Inverno quando chegavam as chuvas do ferragosto - que era o meio do mês, afinal- e começavam as trovoadas súbitas e chovia torrencialmente dias seguidos.

O ferragosto assinalava o fim do Verão e coincidia com o dia do feriado da Senhora da Assunção. 

Nesse mês, quem ficava em Roma, vivia a cidade livremente porque os habitantes a tinham abandonado para irem em  villeggiatura para o mar: fosse ele o da Maremma toscana, ou o mar de Rimini, ou  as praias do Adriatico.

Ou para a montanha! Gostavam muito de ir até aos Dolomiti os romanos.


A cidade, esvaziada de gentes e de carros, revelava o amarelo  dourado dos seus prédios, o ocre das praças, e o “rosso veneziano” de certas fachadas.



Os passos ouviam-se na Via del Corso, como antes se não ouviam, ou na Piazza Colonna, bellissima. 





Também, à volta do sempre visitado triângulo da Piazza  della Rotonda, Piazza Navona, Piazza Farnese.



Estamos quase no Verão... 

Por que me lembro de Roma e de Agosto? Se hoje quase chove! E nem vai haver Verão este ano...


O tempo passou. O tempo não volta.




Para me animar,  fui buscar um pedacinho de Verão ao meu romance policial, que se passa em Roma...




         "Michael Brenner olhava o fluir das pessoas. Uma mancha de cor. Ia mexendo devagar o capuccino, um pouco pensativo. Lembrava as palavras de Roberta, dias antes, depois as queixas que lhe fizera.

"Fui parar, nem sei como, à Piazza del Popolo, contara-lhe ela. E reconciliei-me com a vida. Fiquei sentada a ver a praça, na luz do poente, as pessoas que andavam para trás e para diante. Até os carros e o trânsito me souberam bem. Sentia-me amparada, ali!"


Sim, tinha razão. A  Piazza del Popolo àquela hora, ao cair da tarde, era uma mancha de cor, com o rosado e o ocre das fachadas, que se acentuava, no azul deslavado do céu que apontava para a noite e não se sentia sozinho.

As duas igrejas desafiavam-se, gémeas e grandiosas, o obelisco erguia-se ao centro, os motorini estacionados lado a lado. A Via del Corso acolhente iluminava as montras.


As duas Igrejas gémeas

A fechar a praça, estava a Igreja de Santa Maria del Popolo, guardando as suas magníficas telas de Caravaggio.

E, ao lado, a Porta del Popolo por onde entravam e saíam os carros, motoretas, autocarros, sem saberem, nem quererem saber,  qual tinha a precedência: quem chegava primeiro, passava. Isto só o vira em Roma...
Santa Maria del Popolo

E, no meio da poalha de luz, as pessoas andavam, sem correr. Admirava a vivacidade dos italianos, a alegria, os risos, os gestos, os corpos que se moviam, elegantes. 
Tocavam-se, às vezes, falando alto e agitando as mãos, e seguiam sem pressa.
Pensava em Paola. Preocupava-o.

Giovani Giacometti,  Menina


Tinha ido visitá-la uma vez mais à Galeria, ao pé do Lungotevere. Adorava aquele passeio, dava voltas com a moto, atravessando uma ponte, virando a seguir, no outro sentido, pela ponte mais próxima, de uma margem para a outra do Tevere, a observar as diversas perspectivas. A luz única do cair da tarde sobre o Castel Sant'Angelo.

Às vezes, ia  até à Isola Tiberina, era sempre diferente a luz, as cores, as sombras da noite a cair sobre a cidade. O rio a escurecer lá em baixo. Como amava aquele rio!



A dada altura, quase contrariado, estacionava a moto. E continuava a  deambular por ali, debruçava-se no parapeito para ver o rio, à espera que o sol dourasse o fim da tarde. E que a noite descesse e os candeeiros iluminassem o lungotevere.


Lungotevre, em Roma

Seguia, então devagar pela Via delle Mantelate, até à  Galeria. Ia ter com ela. 

Mas ela não ia ajudá-lo, continuavam as indecisões, os silêncios. Não percebia por que razão ela odiava tanto o Conde Orsini. 
"Ao ponto de o ter assassinado?", perguntava a si mesmo e não era capaz de responder. Tantos mistérios. Quem matara aquele homem que, no fundo, ninguém conhecia bem?

O sol desaparecera e a Piazza del Popolo, na noite de Verão da cidade vazia, acompanhava-o. "

(in Morte de um desconhecido)

6 comentários:

  1. As cidades são melhores nesse sossego de Verão.

    Um beijinho grande e bom fim-de-semana!

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  2. Que legal! Roma é praticamente um interlocutor dele. Talvez a cidade também tenha uma resposta para a sua nostalgia, MJ. Afinal, o tempo passa, mas ela é eterna. E, ao que parece, você soube eternizar vários momentos da sua vida, seja em Roma ou em qualquer outro lugar. Um abração do Mateus.

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  3. Roma faz sempre saudades! Isabel, tens de lá ir, não te escapas... Mateus, obrigada pelas suas palavras. Happy friday! Boa sexta-feira e coragem: amanhã é sábado...

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  4. Ah como eu anseio conhecer Roma! A maria João é mazinha, aguça ainda mais o meu desejo/sonho...

    Beijinhos
    Luísa

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  5. Maria Joao,
    meraviglioso. :)
    Fez-me recordar e sonhar.
    Nem tenho palavras pois calcorreei de novo todos os caminhos que trilhei.
    Beijinho.

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