sexta-feira, 28 de novembro de 2014
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
O “cante” alentejano e a terra... Ai o Alentejo!
O
cante alentejano foi hoje considerado pela UNESCO Património Imaterial da
Humanidade!
Que
algo de “imaterial”, como um canto, seja património do mundo é muito bom. Que seja o imaterial cante da miha terra, ainda melhor! Inútil dizer-vos que gostei muito.
Um
cantar cujas origens são ainda desconhecidas mas que, possivelmente, estarão ligadas às "liturgias" judaicas e árabes e cristãs. (*)
Talvez um dia se saiba, mas mesmo sem saber fico contente pois são duas raízes da nossa identidade, queixe-se lá quem quiser. Quando me falam das nossa raízes célticas, aí já desconfio…
Talvez um dia se saiba, mas mesmo sem saber fico contente pois são duas raízes da nossa identidade, queixe-se lá quem quiser. Quando me falam das nossa raízes célticas, aí já desconfio…
Por
alguns considerado “matriz” do nosso povo, é evidente que não é matriz única. Com
a complexidade que essas coisas têm.
Hoje
foi “valorizado” o cante do Alentejo, a nível mundial, como merece. E fico
feliz!
o cante em Monsaraz
o cante, grupo do Redondo
Penso
nos meus amigos alentejanos, nos emigrados para fora da sua terra saudosa e
imigrantes noutros lugares do país nem sempre bem recebidos. Estrangeiro é
estrangeiro e o racismo começa logo no nosso patamar, como diz o meu amigo
Manuel.
Bem
recebidos, mal recebidos – como outros portugueses fora do seu canto, ou como
outros seres fora do seu habitat, do seu calor… - recolheram-se com os seus gostos e as suas
comidas e seguiram em frente. Talvez cantassem ás vezes as suas saudades...
"Menina(o) e moça(o) me levaram de casa de meus pais para longes terras". Já o "cantava" Bernardim Ribeiro, alentejano...
"Menina(o) e moça(o) me levaram de casa de meus pais para longes terras". Já o "cantava" Bernardim Ribeiro, alentejano...
Não
posso deixar de vos contar uma história real. Mais uma anedota de alentejanos?
A verdade é que o alentejano é o primeiro “criador” dessas anedotas…
Há
muitos alentejanos na zona onde vivo, espalhados pelos aglomerados que se
criaram na segunda linha: Caparide, São Domingos de Rana, Tires e mesmo em São João
do Estoril, até Cascais.
Na
minha escola havia muito miúdo que ainda não perdera –nem nunca perderá o seu
sotaque, porque é para sempre: a mim bastam-me uns dias no Alentejo, uma
emoção, eu que vivi tantas décadas fora do país, começo a um “falar alentejano”
suave.
Esta
miudagem dos estoris, que é o que é, muitas vezes gostava de ridicularizar os
colegas alentejanos. Logo nas primeiras aulas:
Se
algum deles fazia uma asneira, logo a classe ria: “Stora, não ligue, é
alentejano, é chaparro!”
E, ainda: “É martunto! Vem lá do Alentejo
profundo!” E tudo acompanhado de grandes gargalhadas do público já “conquistado”…
Chaparral
vinha a propósito e despropósito de tudo. Irritava-me aquilo. Era uma turma de
9º ano, já tinham idade para entender…
O Bruno refilava forte, mas o Albano calava-se no seu cantinho, murado na timidez.
O Bruno refilava forte, mas o Albano calava-se no seu cantinho, murado na timidez.
O
que fazer?, pensava. Discursos a sério entravam-lhes
por um ouvido e saiam pelo outro.
Tentei
falar todos os dias de alguma coisa do Alentejo. Trazia um escritor alentejano
para lhes ler, uma poesia de José Duro, falava dos contos de Brito Camacho,
menos conhecidos mas tão cheios do espírito
do Alentejo, um boneco de barro de Estremoz, uma paisagem ou pintura que representasse um momento da vida
alentejana. Falava das planícies infindáveis e da solidão dos montes. Os pastores, os ceifeiros, os ganhões, os "malteses" - de tudo lhes contei. Da dureza dos verões escaldantes, da pobreza daquelas gentes.
Mas
acho que o que os convenceu foi quando, desesperada e já cansada de tantas “técnicas”, disse: “Eu
sou alentejana, e gosto muito de ser alentejana!”
Ia
vindo a turma abaixo, de espanto. Eram ainda ingénuos os meus alunos e, como
tal, espantaram-se: “O quê? A stora é alentejana? Não pode ser…”
Contei-lhes
um pouco da minha vida: Portalegre onde nasci, as pessoas que vi por lá, a dificuldade
de se partir de um sítio, a tristeza de se ser recebido mal noutro. Enfim, foi
uma tentativa.
Disse-lhes, no final da aula:
“Agora vão ver o que descobrem sobre a minha cidade. E sobre o Alentejo.”
Sem o esperar, na verdade, resultou.
Nos dias seguintes houve um entusiasmo pela região do Alentejo. O Bruno e o
Albano respiravam fundo, falava, à vontade. De vez em quando lá vinha um “olha
o alentejano!” mas era já dito de outra maneira…
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cante_Alentejano
Bibliografia:
1) Michel Giacometti, Fernando Lopes Graça: MÚSICA REGIONAL PORTUGUESA, PORTUGUESE FOLK MUSIC, volume 4, ALENTEJO; PORTUGALSOM, Discoteca Básica Nacional, Projecto Discográfico do Ministério da Cultura, editado por Strauss - Música e Vídeo S.A.; 1998
1) Michel Giacometti, Fernando Lopes Graça: MÚSICA REGIONAL PORTUGUESA, PORTUGUESE FOLK MUSIC, volume 4, ALENTEJO; PORTUGALSOM, Discoteca Básica Nacional, Projecto Discográfico do Ministério da Cultura, editado por Strauss - Música e Vídeo S.A.; 1998
2) João Ranita da Nazaré. Momentos Vocais do Baixo Alentejo: Cancioneiro da Tradição Oral. [S.l.]: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1986
Nota: O "Cante" é um canto colectico, profano, que acompanha os trabalhos da lavoura, ou os repousos, nas festas, em grupo.
Virá dos antigos "Modos" gregos (formas de organizar os sons), dos cantos sacros da liturgia cristã?, ou é um "cante" em correlação com as práticas rituais judaicas (estudo em 1960 revelou características vocais semelhantes às dos cantos cerimoniais sefarditas)?, influências árabes, pela maneira de ornamentar o canto sobretudo dos solistas? Deixo aqui algumas sugestões de "trabalho"...
Virá dos antigos "Modos" gregos (formas de organizar os sons), dos cantos sacros da liturgia cristã?, ou é um "cante" em correlação com as práticas rituais judaicas (estudo em 1960 revelou características vocais semelhantes às dos cantos cerimoniais sefarditas)?, influências árabes, pela maneira de ornamentar o canto sobretudo dos solistas? Deixo aqui algumas sugestões de "trabalho"...
(*) Nuno Guerreiro Josué: “Foi nas sinagogas
sefarditas que encontrei melodias que me faziam de imediato lembrar as “modas”
alentejanas das terras dos meus país.
As semelhanças encontram-se no
todo, mas elas notam-se principalmente em pontos de contacto muito específico –
o maior dos quais a sua forma “responsiva”, pois tanto na oração judaica como
no cantar tradicional alentejano há um “líder” e um coro que responde.
Bibliografia geral:
1) Michel Giacometti, Fernando Lopes Graça: MÚSICA REGIONAL PORTUGUESA, PORTUGUESE FOLK MUSIC, volume 4, ALENTEJO; PORTUGALSOM, Discoteca Básica Nacional, Projecto Discográfico do Ministério da Cultura, editado por Strauss - Música e Vídeo S.A.; 1998
2)
João Ranita da Nazaré. Momentos Vocais do Baixo Alentejo: Cancioneiro da
Tradição Oral. [S.l.]: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1986
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
RATINHO E OURICINHO ESTÃO ABORRECIDOS!
-
Estou aborrecido!, gemeu o Ratinho. Só chuva, só chuva. Não se sai de casa há
dias!
O
Ouricinho saía, a apoiá-lo. A Gatinha japonesa, essa, não disse nada. É uma menina
introvertida, contemplativa e é capaz de estar horas sem falar. Olhava pela janela, isolada no seu canto.
Achei que devia fazer um protesto:
Achei que devia fazer um protesto:
-
Ora, ora! Está-se tão bem em casa quando chove! E o Outono é tão bonit Já
tivemos tanto sol! E nunca mais chegava o Outono!
-
Meu Deus, que horror, como é possível não gostar do sol? Não sentir a falta dele? Gostar só da chuva!
Era
o Ratinho.
-
Eu gosto do sol – defendi-me- mas sei apreciar a calma que têm os dias de
chuva.
-
Calma?! Oh, sim, a calma. E para que queres a calma? Virá o tempo da calma total…
E, num aparte:
- Longe, espera-se!
E, num aparte:
- Longe, espera-se!
-
Ratinho, não digas isso. Há beleza nestes dias. Vê as árvores lá fora. A cor
mudou, algumas folhas caíram, esperam o Inverno. Precisam de descansar...
Árvores, de Syuji Hirai
-
Hihihi, riu-se o Ratinho. Pois é, esperam o Inverno. Sabes o que é o Inverno? É
o fim. É o frio. É o gelo… É a morte.
E entristeceu
de repente o meu amigo.
-
És tão novo! Por que pensas assim? A morte?! O Inverno é o tempo da natureza repousar…
Depois…
-
Hahaha! Agora era o Ouricinho.
- Repousar, hibernar, as folhas mortas, o renascer na Primavera. Tanto bla-bla… E quem te diz que lá chegas?
- Repousar, hibernar, as folhas mortas, o renascer na Primavera. Tanto bla-bla… E quem te diz que lá chegas?
folhas mortas, ontem em Cascais (MJF)
Fiquei
admirada com o desabafo. O Ouricinho também? Uma criança! O Ratinho, contente com ajuda,
continuou:
-
Sim, é isso! Tanto passarinho que morre gelado, que não consegue aquecer-se. E
o Outono? Tanto poeta que morre no Outono…
Era tão verdade o que ele dizia. Ainda há poucos dias eu tinha estado a
pensar neste Outono assassino… Sangrento! Chamei-lhe assim mesmo, na minha raiva.
-
Sim, reconheço que têm razão os dois. Este Outono tem sido uma estação terrível, assassina…
Árvores do Outono, no Japão, de Yoshiyuki Sakano
Ficaram
a olhar-me, surpreendidos, quase assustados.
- Outono assassino? Achas?, perguntou o Ratinho, divertido.
Não respondi. Estava a lembrar os nomes de escritores, matemáticos, pintores que morreram nas últimas semanas ou meses.
Não respondi. Estava a lembrar os nomes de escritores, matemáticos, pintores que morreram nas últimas semanas ou meses.
-
Até morreu o Manitas de Plata…
O
Ouricinho continuou:
-
Gostava dele. Tocava bem. Dizem que tinha jeito para fazer tudo, com as mãos. Até guitarra! Por isso lhe chamaram desde pequenino o “manitas de plata”!
Outros outonos, outros poetas, outras mortes. Como se, para essas almas delicadas, chegar ao Outono bastasse, e se arrastassem, de forças perdidas, ao longo dos verões quentes. À espera da tranquilidade, para morrerem em paz. Quem sabe? Podem-se pensar tantas coisas na nossa vida!
Composição de Outono, de Etsuko
Outros outonos, outros poetas, outras mortes. Como se, para essas almas delicadas, chegar ao Outono bastasse, e se arrastassem, de forças perdidas, ao longo dos verões quentes. À espera da tranquilidade, para morrerem em paz. Quem sabe? Podem-se pensar tantas coisas na nossa vida!
“A morte surpreende-nos sempre mas, no fim e
ao cabo, é natural.”, pensei.
- Estás muito calada, disse a gatinha japonesa. Pensas nos mortos?
- Estás muito calada, disse a gatinha japonesa. Pensas nos mortos?
E afastou-se a olhar as vidraças, onde corriam fiozinhos de chuva em estrias brilhantes.
Murmurou:
Murmurou:
Estava sentada, perto da janela, e cantarolava o que me pareceu serem uns versos.
“Manhã de Outono
No espelho
O rosto do meu pai.”
-
O quê, gatinha?
"Como
sabia ela que eu pensava no meu pai?"
- É um haïku, de Murakami Kijo (*)…
E continuou, sem me responder, a olhar para fora. O que veria ela?
E continuou, sem me responder, a olhar para fora. O que veria ela?
“A libelinha vermelha
Abre
Olhou-me, com um
sorriso triste:
- Este é de Kaya
Shirao… Gosto muito dele. Foi contemporâneo de Buson.
Parecia-me
uma história estranha a deste dia. Ela continuava a dizer poesia e eu de boca
aberta, a ouvir. Eram bem bonitos aqueles versos. Sabia como eram delicados e breves
aqueles poemas japoneses…
Outono, de Etsuko Nagamatsu
E a vozinha dela cantava:
“Sol poente de Outono
A solidão
Também é feliz”
Eu estava espantada: do aborrecimento do Ratinho por causa da chuva, tínhamos passado para os mortos do Outono. E para uma lição de poesia japonesa!
José FreitasCruz, Paisagem japonesa
E eles...? Dizia
eu que "eles" estavam aborrecidos? Não. Já tinham inventado uma nova brincadeira.
Tinham-se encostado à janela a contar os carros lá em baixo. E tinham começado uma discussão com os outros todos que tinham chegado. Até a gatinha japonesa não tinha resistido!
A
chuva parara e um raiozinho muito fino batia no parapeito. O céu cinzento fora
atravessado por um raio de sol.Talvez aparecesse um arco-íris...
Luz de Outono, no Japão, Syuji Hirai
Suspirei,
feliz:
-
Ah, a maravilhosa luz do Outono!
Mas
ninguém me ouvia.* * * (*) NOTA:
O poeta Kaya Shirao (1738-1791) foi contemporâneo de Yosa Buson, era um grande viajante.
Murakami Kijo foi aluno de Masaoka Shiki.
Masaoka Shiki
Shiki faz parte dos quatro poetas japoneses os mais considerados poetas clássicos que escreveram "haikus", o poema curto japonês. São eles:
Matsuo Basho (1644-1694)
Kobayashi Issa
(1763-1828
Masaoka Shiki (1867-
1902)
terça-feira, 25 de novembro de 2014
Joseph Conrad e "O Negro do Barco Narciso"
"Já no largo Oceano navegavam,
As inquietas ondas apartando;
Os ventos brandamente respiravam,
Das naus as velas côncavas inchando;
Da branca escuma os mares se mostravam
Cobertos, onde as proas vão cortando.”
Os Lusíadas, CANTO VI
Os Lusíadas, CANTO VI
Archip Kuinji, Luar no mar
Joseph Conrad
“No céu negro, as estrelas surgiram brilhando sobre um mar cor de tinta da china que, salpicado de espuma, lhes reenviava estilhaços de uma brancura evanescente nascida do escuro turbilhão das ondas. Longínquas, do mais profundo da sua calma eterna, brilham as estrelas, duras e frias, por cima do tumulto¸ de todos os lados, o seu grupo envolvia a tormenta do navio vencido: mais cruéis do que os olhos de uma multidão triunfante e mais inatingíveis do que o coração dos mortais.” (Joseph Conrad, "Le nègre du Narcisse", Livre de Poche, pg 118)
Livro com algo de inquietante, pelas descrições e pelo 'encenar' de uma vida fechada num mini-cosmos: o do navio 'Narciso'. Na sua viagem de regresso a Londres, em Bombaím, é recrutada nova tripulação. A viagem abre-se numa incógnita, o livro vai-se lendo sem largar...
Desconhecidos uns dos outros, na maior parte, vão-se espreitando, desconfiados. O narrador vai incluir-se na tripulação do navio, sem nunca dizer o seu nome. Há ali nórdicos, ingleses, americanos – e, todos, de repente, se vêem perdidos, reféns do mar em fúria.
É das tempestades do mar que fala, pois das que são da vida ele não fala - mas nós adivinhamo-las.
John Constable, Nuvens de Chuva
Desconhecidos uns dos outros, na maior parte, vão-se espreitando, desconfiados. O narrador vai incluir-se na tripulação do navio, sem nunca dizer o seu nome. Há ali nórdicos, ingleses, americanos – e, todos, de repente, se vêem perdidos, reféns do mar em fúria.
É das tempestades do mar que fala, pois das que são da vida ele não fala - mas nós adivinhamo-las.
Josph Maillord William Turner, Tempestade
Ódios surdos que surgem do nada, desconfianças, invejas, tudo vai girar em redor do negro, o americano James Waits, o último a entrar no barco, carregando um saco e um cofre de madeira cheio de coisas cobiçáveis.
Ninguém sabe de onde vem. Ele diz apenas: "Eu sou do navio"...
Apesar de forte e saudável na aparência, logo nos primeiros dias, se “dá” por doente dos pulmões, não larga a cama e, pouco tempo depois, diz-se em estado grave, com a morte por perto...
Em torno dele, geram-se medos e atracções porque um homem que caminha com a morte ao lado (como diz o narrador) é de recear. Devemos tentar “tê-la” do nosso lado.
E, durante toda a viagem, a morte vai rondar o barco e os homens e está presente em todas as cenas mesmo que nunca referida. O regresso a terra firme quando será? Se é que será um dia...
Ninguém sabe de onde vem. Ele diz apenas: "Eu sou do navio"...
Apesar de forte e saudável na aparência, logo nos primeiros dias, se “dá” por doente dos pulmões, não larga a cama e, pouco tempo depois, diz-se em estado grave, com a morte por perto...
William Turner
E, durante toda a viagem, a morte vai rondar o barco e os homens e está presente em todas as cenas mesmo que nunca referida. O regresso a terra firme quando será? Se é que será um dia...
William Turner
O que me lembrou o livro? Os perigos das tempestades vividas noutras leituras. Turner. E Camões. Sim, o Camões d’ "Os Lusíadas", da tempestade, do Adamastor, de tantos episódios arrastados de canto para canto em que o homem, pobre mortal, “bicho da terra tão pequeno”, luta.
Perigos iguais são os destes marinheiros, iguais a angústia, o medo, o sentimento de abandono por parte do céu – o “céu sereno”, indiferente e frio, de que fala o nosso poeta. Indiferente mesmo na beleza e colorido do vermelho do sol nascente, depois da tempestade.
No alto, as estrelas brilham frias e longínquas na sua beleza, tal qual as “vaghe stelle dell’Orsa”, perdidas, de que fala Giacomo Leopardi.
Turner, Sol nascente
No alto, as estrelas brilham frias e longínquas na sua beleza, tal qual as “vaghe stelle dell’Orsa”, perdidas, de que fala Giacomo Leopardi.
Os deuses não se interessam, o homem está entregue a si próprio e à sua pequena grande força. É essa força, esse desespero que os mantem vivos, atados com as cordas ao navio, quando este quase é engolido pelas águas negras; quando a carga e os mantimentos são levados borda fora pelas vagas que varrem o convés de lado a lado, entram pelos camarotes, vão até ao profundo do navio, e destroem tudo...
William Turner, Naufrágio
John Constable, Nuvens (estudo)
Depois, vem a pequena grande força do capitão e do imediato quando - já longe os ventos e debaixo do sol ardente- os marinheiros ameaçam amutinamento e um homem na sombra, um desertor de outro barco, covarde e provocador, mexe os cordelinhos destes “puppazzi” involuntários.
E o capitão e o barco 'Narciso' vencem. "Vencem", porque 'Narciso' é uma das personagens principais da história…
E o capitão e o barco 'Narciso' vencem. "Vencem", porque 'Narciso' é uma das personagens principais da história…
E o negro do Narciso? Oh, ele é só mais um boneco, ao sabor tempestade, um "bicho da terra tão pequeno", com a morte empoleirada no ombro…
Quem era Joseph
Conrad?
De seu nome Józef Teodor Nalecz Korzeniowski é um escritor nascido e educado na
Polónia, mas britânico de adopção. Nasce em 3 de Dezembro de 1857, na Polónia e
morre a 3 de Agosto de 1924 em Bishopbourne, na Inglaterra.(wikipedia)
Entre o primeiro livro, Coração de Trevas (Heart of Darkness) e o último, The Rover (1923) sucedem-se muitos livros que vale a pena ler!
http://pt.wikipedia.org/wiki/Joseph_Conrad
http://pt.wikipedia.org/wiki/Joseph_Conrad
domingo, 23 de novembro de 2014
Lembrando O Clube dos Poetas Mortos...
"Há
homens que vivem vidas de desespero resignado, não deixem que isso voa atinja…" dizia Mr. Keating aos seus alunos...
Repito-me?
Repito-me. Repito-me! Sim, repito-me...
Quero repetir aquilo em que acredito! Quero falar daquilo
de que gosto. Quero indignar-me! Quero pensar pela minha cabeça!
E quero atingir os outros e empurrá-los para lutarem pelo que gostem... E saberem dar o valor aos poetas, aos escritores, aos artistas.
E quando o professor, Mr. Keating, fala de Walt Whitman ("resistir muito/obedecer pouco", escreve em Leaves of Grass), de Thoreau e de Byron sabe o que está a dizer...
E quero atingir os outros e empurrá-los para lutarem pelo que gostem... E saberem dar o valor aos poetas, aos escritores, aos artistas.
E quando o professor, Mr. Keating, fala de Walt Whitman ("resistir muito/obedecer pouco", escreve em Leaves of Grass), de Thoreau e de Byron sabe o que está a dizer...
o escritor americano Thoreau
Ensinar é isso, não é só "cumprir o programa", nem "impingir" ideias já feitas e "perfeitas", segundo dizem... O imperfeito, o incompleto, o irrealizado implica a procura e a procura é um bem!
É também ensinar a "ver" de modo diferente, aceitar que se pense de outra maneira, pesar o ponto de vista dos outros: ser tolerante, abrir outros mundos...
Era disto que o filme de Peter Weir falava, há 25 anos. E que Robin Williams interpretou tão bem. É disto que se fala, ainda, hoje...
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