terça-feira, 18 de novembro de 2014

Por favor, não matem os passarinhos!



Não, não se trata do livro de Harper Lee, se bem que é sempre um momento bom para lembrar que o devem ler ou reler "Por favor não matem a Cotovia" (To Kill a mocking bird). 



Trata-se, sim, de um grave problema à escala mundial: neste Novembro, o relatório dos ornitólogos revelou que, em trinta anos, a Europa perdeu 420 milhões de pássaros! A começar pela cotovia...

cotovia

É muito, numa população total estimada, em 1980, em 2 biliões. São números que não imaginamos, mas percebe-se que é uma percentagem enorme de desaparecidos!

Esperava-se que o quadro fosse mau, mas não esta “hecatombe” de passarinhos…
E quais desaparecem mais depressa? Os mais insignificantes, podíamos dizer: a "alouette, gentille alouette" da canção, a cotovia foi-se, com perdas enormes : 46%! 
cotovia de popa

O "assassínio" do estorninho ainda pior: foram ao ar 58% dos estorninhos da Europa. 


estorninho

E o pardalinho doméstico?, perguntarão os mais curiosos amigos dos pardais. Pior, ainda: 61%, ou seja 147 milhões de pardais!

pardal comum

Por outro lado, esses mesmos ornitólogos descobriram que houve um aumento noutras sub-classes de pássaros, as espécies protegidas, acção devida -e ainda bem!- às políticas europeias de protecção às que estão em perigo: os 'busardos dos canaviais' (*) aumentaram 256% e os 'grous' (**) 400%.
um casal de busardos "moros"


Richard Gregory -investigador da Real Sociedade Britânica de protecção aos pássaros- diz que "estes resultados espectaculares devem-se ao facto de que é mais fácil agir num território limitado do que em vários países ao mesmo tempo.” 

'grous', numa reserva

E, também, acrescenta, porque "é mais gratificante tomar conta de certas aves de rapina ou dos grandes pássaros migradores do que …dos passarinhos." 


Dão mais nas vistas do que os pequenos...?
Penso que sim: entre estes, na generalidade, o desaparecimento é da ordem dos 80%...

No entanto, estes pequenos seres que se acercam ao homem e às suas culturas - e que o auxiliam- são os grandes prejudicados- por isso mesmo: a proximidade. 


E são eles, os passarinhos do campo, os  que estabelecem os grandes equilíbrios dos eco-sistemas ambientais. São os que rendem mais serviços: dispersão das sementes, polinização, limpeza de insectos… 

E são os que mais sofrem: pelos insecticidas que matam qualquer minhoca que se atreva a querer viver, pelas culturas alargadas, pelas sebes arrancadas que conduzem à destruição do seu habitat preferencial.

Causas desse desaparecimento em massa?
A destruição dos insectos com que se alimentam - destruição que acontece já na semente "transformada" de muitas sementes, o excessivo zelo nos pesticidas -"visando a quantidade sem se importarem com a qualidade do produto nem com o respeito pelo ambiente" - dixit o mesmo professor.

Enfim, até entre as aves há passarinhos e… passarões! Já o sabia Pasolini ao fazer o seu filme “Uccelini e Uccellacci”… 

E já o sabia São Francisco que (no filme) procura aprender a linguagem dos passarinhos...para os avisar do perigo que são os passarões!


(in Le Monde, 5 de Novembro 2014, artigo de Frédéric Jiguet, Professor no Museu Nacional da História de França)

(*) “busardos” - aves de rapina da família dos falconídeos

(**) “grous” (feminino geralmente “gruas”) – aves pernaltas migradoras

6 comentários:

  1. É desanimador,os habitantes destruindo sua morada...qta inconsciência.Mto triste.

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  2. Que pena!
    Oxalá se tomem medidas para os proteger, como aconteceu com as espécies maiores.

    Este Verão senti aqui a falta das andorinhas. Viram-se menos. Será por um problema idêntico?

    Hoje, curiosamente fotografei garças! Apareceram na cidade. Só as vi hoje, mas quem passa ali perto, diz que já se vêem há dias. Nunca tinha visto...

    Um beijinho grande:)

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  3. Também tenho pena.
    Os números impressionam.
    No jardim aparecem corvos e pardais.
    Para a Isabel,
    Este ano vi muitas andorinhas mas elas voam tão rápido que é difícil fotografar sem um tripé.

    Beijinhos para as das. :))

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  4. Maria João, quando comecei a ler este post, lembrei-me logo do livro "Não matem a cotovia", sobre um problema que diz respeito a todos: o racismo!
    Um livro belíssimo que deve ser lido, como referiu.
    Mas o problema que aqui nos traz é diferente mas não menos preocupante: o desaparecimento de milhões de pássaros!
    Desejo que se tomem medidas imediatas para minorar este problema!
    É triste e preocupante!

    Um beijinho.:))

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  5. Chegará um dia em que o desiquilíbrio ecológico já será irreparável. É tudo tão escuro!

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